Marcos Silva: Sem banda agora para a regulação do setor postal
Tele.Síntese
28/09/2020
Pretende-se concluir a obra antes mesmo do projeto de execução, pois a regulação do setor deve sempre preceder quaisquer procedimentos no sentido de avançar-se em um processo de desestatização.
Em recente matéria do Portal Tele.Síntese, foi divulgado que a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) poderá vir a ser a reguladora do Serviço Postal, conforme declaração do presidente da Agência, Leonardo Euler de Morais, se os Correios forem privatizados. Essa notícia demonstra, por si só, a confusão que se instalou nos últimos anos no trato do assunto em nosso País, pretendendo-se concluir a obra antes mesmo do projeto de execução, pois a regulação do setor deve sempre preceder quaisquer procedimentos no sentido de avançar-se em um processo de desestatização. Também foi esquecido o fato de que a natureza das atividades desenvolvidas no ambiente postal são bem distintas que as presentes no setor de telecomunicações. Parece que no espectro federal não há banda para a regulação dessas atividades
A regulamentação existente hoje para o Serviço Postal – leis, decretos e portarias – se refere unicamente aos Correios, apesar de haver milhares de outros operadores atuando no transporte e entrega de encomendas. Rever o arcabouço legal, entendendo a participação desses diversos agentes e suas responsabilidades específicas, que transcendem normas de aplicação geral, como o Código de Defesa do Consumidor, é uma missão importante sobre a qual o Governo Federal deveria mesmo se debruçar. Precisa estar sintonizado com essa necessidade.
O ponto de partida para esse trabalho de suma importância deve se dar pela escolha da instituição responsável pela regulamentação do setor – Ministério das Comunicações, sim, poderia ser a Anatel ou uma agência reguladora a ser criada com essa competência específica. Definida a entidade responsável, se iniciaria, então, o processo de regulamentação, compreendendo, dentre outras etapas, o levantamento completo da legislação vigente, inserindo-se neste trabalho a pesquisa e a análise da regulação e regulamentação de outros países de referência, bem como a realização de consulta e audiências públicas para ouvir os diversos segmentos da sociedade a respeito de propostas em construção e, por fim, a implantação de um novo marco legal para o setor.
Portanto, uma eventual decisão sobre desestatizar ou não a Empresa Pública atualmente designada a prestar o serviço postal no Brasil, deve ser precedida do conhecimento e regulação do setor, inversamente ao que tenta fazer o Governo.
Mais equivocado ainda é o caminho defendido por alguns que postulam que se aprove por medida infraconstitucional a quebra imediata do monopólio postal, para abrir caminho para a privatização. Além de inconstitucional, uma medida assim deverá receber forte oposição no Congresso Nacional, pois retirará abruptamente dos brasileiros a garantia inserida em nossa Carta Magna – e que sempre tiveram – de contar com o serviço postal mantido pela União. Além disso, inviabilizará economicamente de imediato a Estatal, que se verá obrigada a levar cartas e encomendas aos rincões do País, enquanto a concorrência privada se concentrará em seus interesses puramente econômicos no atendimento dos grandes centros, implodindo completamente o modelo de subsídio cruzado que permite aos Correios oferecerem os serviços com tarifas e preços módicos à população.
A inexperiência e o afã de estabelecer um novo paradigma em que a privatização de uma grande estatal seja o principal objetivo tem levado agentes públicos, como o Ministro das Comunicações, e agora também o presidente da Anatel, a antecipar afirmações que induzem conclusões equivocadas, afetando o mercado, prejudicando o futuro do Serviço Postal e atropelando competências que não lhes são inerentes, mas sim ao Congresso Nacional.
Marcos César Alves Silva, vice-presidente da ADCAP (Associação dos Profissionais dos Correios) , integrou o conselho de administração dos Correios por 5 anos. Além disso, exerceu diversos cargos executivos na empresa e assessorou o grupo de trabalho interministerial que elaborou a lei de modernização dos Correios (Lei nº 12.490/11)
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Matéria da Anatel que contextualiza o artigo acima do Vice Presidente
da ADCAP, Marcos César
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Anatel pode regulamentar serviço dos Correios, se sair a privatização
Tele.Síntese
22/09/2020
Leonardo Euler de Moraes fez o comentário ao saudar João Cadete Motta, presidente de agência reguladora de Portugal, cuja área de atuação envolve o serviço postal; empregados da estatal decidiram voltar ao trabalho
O presidente da Anatel, Leonardo Euler de Morais, admitiu hoje, 22, a possibilidade de agência reguladora cuidar da regulamentação do sistema nacional de serviço postal se os Correios forem privatizados após decisão do Executivo e aprovação do Congresso Nacional.
Morais fez o comentário ao saudar João Cadete Motta, presidente da Anacom, agência reguladora do setor de telecomunicações em Portugal, na abertura de debate sobre o desafio de regulamentação do 5G no Painel TeleBrasil 2020.
“A privatização dos Correios é um tema recorrente no Brasil. Por isso, se fala da possibilidade da Anatel, tal qual a Anacom, passar a ser responsável pela regulação do sistema nacional de serviços postais”, disse Morais. “Se for essa a decisão do Executivo e do legislador democrático, certamente teremos uma outra vertente de interlocução relacionada com a regulação desses serviços”.
VOLTA AO TRABALHO
A Direção da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares – FENTECT, e seus Sindicatos filiados, reunidos virtualmente hoje, informaram que as entidades aprovaram o retorno ao trabalho, após greve iniciada no dia 18 de agosto.
Em nota, as entidades criticaram a decisão do Tribunal Superior do Trabalho, que deliberou pela retomada ao trabalho, aumento salarial e vigência de cláusulas do acordo coletivo. Afirmam que o governo Bolsonaro “virá com tudo para privatizar a empresa”. Por isso, afirmam que “precisamos reconstruir as nossas forças para defender nossa empresa e nossos empregos”.
Direção Nacional da ADCAP.