Estadão
26 de julho de 2013
SÃO PAULO – Presente no Brasil há 161 anos, desde o reinado de Dom Pedro II, o serviço estatal de telegramas encontrou na tecnologia uma aliada para resistir ao tempo. A transmissão via internet, que teve início em 2001, impulsionou o tráfego de mensagens no País, dando sobrevida a esse braço dos Correios. Entre 2007 e 2012, o volume anual de telegramas cresceu 39%, passando de 14,4 milhões para 20 milhões. No ano passado, 87% do fluxo foi eletrônico, 11,5% nas agências e menos de 3% foi por telefone – a forma original de envio.
A atual transmissão eletrônica é chamada de híbrida: os dados são captados pela web e depois a mensagem é impressa e envelopada por máquinas na agência mais próxima do destinatário, sem a intermediação humana. O preço mínimo é R$ 4,98 e varia conforme o número de páginas e serviços adicionais.
Se no século passado o telegrama correspondia a uma espécie de e-mail primitivo e os principais clientes eram as pessoas físicas, agora o grande e rentável filão para esse serviço são as empresas. Nos últimos quatro anos, o número de companhias que mantêm contratos com os Correios para o envio de telegramas saltou 143%, chegando a 4,7 mil em 2012.
Bancos e órgãos públicos aparecem no topo dessa lista de usuários. Considerado um documento oficial, o telegrama é usado pelas instituições financeiras para enviar extratos e comunicações aos correntistas. Além disso, é usado por empresas para informar sobre cobranças extrajudiciais, perícias médicas e convocações para concursos.
“Sabemos que a tecnologia pode diminuir a troca de correspondências, mas nos últimos anos procuramos usar a internet a nosso favor e o telegrama é um exemplo disso”, afirma o presidente dos Correios, Wagner Pinheiro Oliveira. Hoje, a mensagem pode ser personalizada e entregue em qualquer cidade do País em até quatro horas.
Índia. A convivência e interação com as novas tecnologias, contudo, nem sempre tem o mesmo efeito. Na Índia, o serviço de telegramas foi extinto no último dia 15 de julho. Após 163 anos de atividade, ele foi vencido por meios mais rápidos de comunicação. A estatal indiana BSNL afirmou que as receitas e a baixa procura não justificavam a manutenção do serviço no país.
Por aqui, as receitas estão em alta. Nos últimos cinco anos, houve um crescimento de 53% no ganho dos Correios com esse serviço, que alcançou R$ 114,3 milhões em 2012. Comparadas ao lucro bilionário da estatal, no entanto, os valores representam uma fatia de apenas 1%. Para Oliveira, a demanda do segmento já está praticamente atendida no País, mas ele vê perspectivas positivas. “O telegrama continuará sendo um serviço importante, pois, na prática, entregamos um documento certificado.”
Concorrência. Mas é exatamente nessa área que reside a maior ameaça. Empresas de certificação digital avançam no segmento de autenticação de e-mails e prometem enfraquecer o reinado dos Correios. “O telegrama pode ser completamente substituído quando se faz uso da certificação, já que se autentica o remetente e garante a integridade da mensagem”, afirma o diretor de Tecnologia da Certisign, Maurício Balassiano.
O executivo destaca a agilidade do chamado correio eletrônico seguro. “Por mais rápido que o telegrama seja, não é instantâneo como o e-mail. Fora a questão de ser ambientalmente correto”, diz Balassiano.
O presidente dos Correios rebate e afirma que a estatal não vai parar no tempo. Segundo Oliveira, a empresa também pretende atuar no setor de certificação digital, dentro de um projeto mais amplo de serviços postais eletrônicos, previsto para 2014. E garante vida longa ao telegrama: “A histórica credibilidade da marca Correios será a nossa força frente à concorrência”.