Valor
08/11/2013
Visíveis de vários pontos da cidade, mas com geografia bastante diferentes dos bairros tradicionais, 12 territórios ocupados por algumas das mais conhecidas comunidades de baixa renda do Rio – as conhecidas favelas cariocas – só agora vão começar a entrar de fato no mapa da cidade.
Um projeto do Instituto Pereira Passos (IPP), responsável pelo Programa UPP Social, percorreu 56 comunidades identificando, em cada uma delas, as vias que são usadas para a circulação no interior das comunidades e conferindo nomes e numerações, quando existem.
O resultado desse trabalho são os mapas, que serão usados pela prefeitura para encaminhar, à Câmara dos Vereadores e aos Correios, os processos necessários para estabelecer a representação oficial das favelas e atribuir oficialmente nome, numeração e Código de Endereçamento Postal (CEP) para os moradores.
“Parece bobagem, mas endereço é um item básico de cidadania. Em muitas dessas comunidades, o serviço de entrega de correspondência, por exemplo, está nas mãos de associações de moradores, ou de pessoas que assumiram esse papel por boa vontade. O endereço é fundamental até para acessar alguns serviços da prefeitura, como os da Central de Atendimento 1746”, diz a presidente do IPP, Eduarda La Roque.
Como base cartográfica para o desenvolvimento do projeto foram adotados os mapas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Entre as comunidades incluídas no projeto estão algumas das mais conhecidas da cidade, como Babilônia e Santa Marta, na zona sul, Providência, na região central, e Borel, Andaraí e Cidade de Deus, na zona norte.
Para desenvolver a primeira etapa do trabalho, o IPP recrutou 57 moradores das próprias comunidades. Todos foram treinadas com o apoio da organização não governamental Redes de Desenvolvimento da Maré, parceira do IPP no projeto, para criar um mapa mais próximo possível da realidade das favelas.
A fase de checagem e identificação de logradouros foi finalizada em 12 territórios, que contemplam 56 comunidades. Outros 4 territórios, que incluem 27 comunidades, estão passando por revisões pontuais. Dois territórios, com sete comunidades, estão em revisão pela Redes de Desenvolvimento da Maré. Em 4 territórios, com 31 comunidades, o levantamento ainda está em andamento.
O resultado do trabalho expõe o complexo contexto geográfico dessas localidades. É o caso da travessa conhecida como São Luiz, na comunidade de Andaraí, que passa por baixo de uma casa e continua por um escada apertada.
A nova representação das favelas do Rio de Janeiro já está em mãos da Secretaria Municipal de Urbanismo para ser incorporada à base oficial de endereços da cidade. Além dos mapas, foram identificados e catalogados todos os nomes atribuídos a cada um dos logradouros existentes. A próxima etapa é enviar os projetos para Câmara dos Vereadores e para os Correios.
A diretora do Instituto Pereira Passos explica que o trabalho enquadra-se na geração de informação qualificada do programa UPP Social, um dos três “eixos” do programa. Os outros dois referem-se à provisão de serviços públicos e o desenvolvimento de alternativas econômicas e sociais. “Sem informações, não conseguimos desenvolver os serviços e a economia”, afirma Eduarda, que criou uma diretoria de desenvolvimento de favelas no IPP.