PF dá batida em casa de ex-gerente de saúde do Correios para investigar cirurgias superfaturadas

O Globo
18/10/2013


A Polícia Federal (PF) investiga um esquema de desvio de verba por meio de cirurgias superfaturadas pagas pelo plano de saúde do Correios. No centro do esquema desvendado pela Operação Titanium, um dos principais suspeitos é o ex-gerente de saúde da estatal Marcos da Silva Esteves, afastado em abril do cargo. Na manhã de quarta-feira, policiais cumpriram um mandado de busca e apreensão na casa do servidor público, num condomínio de Jacarepaguá. Foram apreendidos documentos, inclusive originais, de cirurgias pagas pela empresa pública, que não poderiam ter sido desviados do setor, que passa por sindicância interna.


A PF também apreendeu na casa, de cerca de 400 metros quadrados, computadores, R$ 1.800, 319 dólares e dois automóveis — um Cruze, da GM, que custa cerca de R$ 65 mil, e um HB20, da Hyundai, cujo modelo mais simples sai por R$ 33 mil. Este último pertence à mulher de Marcos Esteves, que é professora em Mesquita. De acordo com o portal Transparência do site do Correios, o servidor recebe uma remuneração de R$ 4.845,71.


A polícia teria encontrado na casa de Esteves cópias de documentos relacionados ao pagamento de R$ 961.886,56 por material cirúrgico usado numa única operação, realizada em março. A autorização de faturamento foi assinada pelo servidor. A cirurgia ortopédica superfaturada foi revelada pelo EXTRA em agosto.


O material foi vendido pelo representante oficial no Brasil, a Technicare Instrumental Cirúrgico, por R$ 65.208, para a AC Consultoria e Assessoria em Saúde, empresa cujo dono é investigado pela Polícia Civil, após denúncias de que se apresentaria em nome do então gerente de saúde da Correios, Marcos Esteves, para propor um esquema de superfaturamento. O mesmo material foi vendido por 1.375% a mais pela empresa O2 Surgical para o Correios.


A estatal informou que Marcos Esteves saiu da gerência de saúde em abril, por “decisão administrativa da empresa”. O Correios afirmou ainda que “as medidas pertinentes a essa ocorrência estão em andamento”. O EXTRA não conseguiu localizar Marcos Esteves.


Entenda a fraude


Marcos Esteves era gerente de saúde do Correios quando autorizou o pagamento de quase R$ 1 milhão pela lista de 15 itens, entre parafusos, porcas e broca, para uma cirurgia de coluna de uma idosa, dependente de um funcionário aposentado. Um único parafuso ilíaco usado na operação saiu por mais de R$ 25 mil, valor equivalente ao de um carro popular zero quilômetro.


No documento de autorização de material, há a informação de que a cirurgia foi de emergência, o que dispensaria a apresentação de três cotações de preços. No entanto, a Guia de Solicitação de Internação da mesma paciente diz o contrário: a operação foi eletiva.


Denúncia enviada ao Ministério Público Federal aponta o médico Carlos Alberto Alonso Filho como articulador do esquema. Ele se apresentaria em nome de Esteves, propondo negociatas envolvendo médicos, fornecedores de próteses e hospitais. Em agosto, Esteves afirmou ao EXTRA que não conhecia Carlos Alonso.


O esquema envolveria empresas de material cirúrgico. A AC Consultoria, que comprou o material por R$ 65.208 tem como sócios Carlos Alberto Alonso Filho e Aline Gomes de Oliveira. Alonso também é dono do Centro de Clínica Médica e Fisiatria Dr. Carlos Alonso, em Petrópolis, no qual é sócio de Gilberto Silva Cabral. Esse último aparece ainda como sócio da O2 Surgical, empresa que vendeu o material para o Correios por R$ 961.886,56.


Airton Policarpo de Oliveira, sócio da O2 Surgical, afirmou que não sabe nada sobre os negócios da empresa. O EXTRA não conseguiu localizar Carlos Alonso e Gilberto Cabral.

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