Como estamos numa luta desigual, em que a mídia reproduz informações distorcidas provenientes de órgãos do governo federal a respeito dos Correios e a própria empresa não se defende, emudecida por um direção subserviente e comprometida com o desmonte da organização, a ADCAP passará a oferecer por esse canal seu posicionamento sobre matérias que tratarem dos Correios.
—————————————————–
O que a ADCAP pensa
Sobre a matéria da Folha “Ensaio de Privatização”
O jornal Folha de São Paulo trouxe nesta sexta-feira (23/10/2020) artigo intitulado “Ensaio de Privatização” com informações e afirmações com as quais a ADCAP não concorda, conforme comentários a seguir:
Já no início da matéria, o jornal conclui seu primeiro parágrafo afirmando que “não deixa de ser boa a notícia que o Ministério das Comunicações tenha desenhado uma proposta para orientar a venda dos Correios”. A ADCAP não vê como boa notícia, mas sim exatamente o contrário, porque as bases e a motivação que orientam esse movimento não se sustentam no interesse público, mas sim tão somente em questão ideológica. Na verdade, esse movimento coloca em risco uma infraestrutura pública nacional que poderia ser vista como motivo de orgulho para os brasileiros, inclusive por razões econômicas, já que os Correios têm cuidado da universalização do serviço postal sem depender do Tesouro Nacional.
A Folha segue afirmando que a empresa é um exemplo das mazelas presentes em estatais, a começar pelos casos de corrupção e relembra o caso do mensalão. O jornal repete, assim, sem aprofundamento, uma afirmação injusta, pois, como ficou demonstrado, o foco de corrupção existente nos Correios na ocasião era infinitamente menor que os existentes em outras estatais e grandes empresas privadas brasileiras, onde se desviavam bilhões. A ADCAP sugere ao jornal que levante os valores desviados no mensalão por estatal, para assim constatar que a empresa foi, de fato, utilizada como “boi de piranha”, para distrair inclusive a própria imprensa, enquanto outras estatais eram realmente saqueadas por focos de corrupção.
Com relação às perdas do Postalis, o jornal repete argumentação falaciosa do Ministério da Economia, pois todos os grandes fundos de pensão brasileiros enfrentam déficits monumentais em seus planos, sendo que, dentre os quatro maiores – Petros, Funcef, Previ e Postalis – o Postalis é o que tinha o menor déficit, conforme dados do próprio Ministério da Economia em 2019. Além disso, numa questão dessas, o que o governo deveria fazer é efetivamente resolver a questão, punindo culpados e buscando a recuperação do prejuízo, e não tentar jogar o problema para debaixo do tapete com uma privatização.
O jornal segue afirmando que “Com quase 100 mil funcionários, os Correios também são caso notório de ineficiência, com inúmeras greves e falhas na prestação de serviços nos últimos anos.” A afirmação da Folha, além de superficial, é também injusta com uma organização que, apesar do imenso desafio que vence todo dia, ao entregar cartas e encomendas em todos os municípios do país, está entre as instituições em que a população mais confia. A menção descontextualizada da quantidade de funcionários aparentemente tenta passar a ideia de excesso de contingente, o que também não tem base científica ou técnica, posto que as especificidades do serviço postal a tornam uma atividade de emprego intensivo de mão-de-obra, como acontece em qualquer país do mundo. Uma rápida pesquisa pode mostrar que os correios são grandes empregadores, com centenas de milhares de funcionários, em qualquer lugar e não apenas no Brasil.
Com relação ao modelo defendido pelo governo, as informações trazidas pela Folha têm circulado na imprensa apesar de não se ter conhecimento preciso desse projeto secreto que foi entregue pessoalmente ao Presidente da República pelo Ministro das Comunicações, sem que nenhuma cópia dele tenha sido distribuída. Sobre isso, a ADCAP apenas ressalta que o mercado de entrega de encomendas é totalmente livre no país, havendo milhares de operadores de variados portes atuando. Nesse segmento, de elevado crescimento e competitividade, a concorrência já está plenamente assegurada no Brasil. Já no que se refere a correspondências, a permanência do monopólio postal se justifica, entre outras razões, para permitir a prestação de um serviço com preço uniforme em todo o território, o que é especialmente importante em países de dimensões continentais e grandes diferenças regionais como o Brasil.
—————————————————–
Os brasileiros merecem receber melhores informações e os devidos contrapontos ao discurso falacioso do governo. A ADCAP estará atenta às matérias que tratem dos Correios e divulgará amplamente sua opinião e suas observações a respeito.
Direção Nacional da ADCAP.