STF mantém decisão de Toffoli sobre acordo de reajuste de funcionários dos Correios
Com essa derrota, os trabalhadores da estatal devem continuar em greve por melhoria de benefícios
Valor
21/08/2020
O Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria para manter uma decisão que suspendeu cláusulas de um acordo sobre reajuste fechado com funcionários dos Correios pela Justiça do Trabalho no ano passado. A decisão representou uma derrota para os trabalhadores, que esperavam um posicionamento da Corte para definir se permaneceriam em greve. Agora, a paralisação deve continuar.
Em outubro de 2019, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) determinou que o acordo teria duração de dois anos, mas, ainda no ano passado, o presidente do STF, Dias Toffoli, concedeu liminar à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), suspendo a decisão do TST.
Na prática, a decisão faz com que o acordo tenha validade só por um ano e, como este prazo terminou em agosto, a categoria vai ter que fazer uma nova rodada de negociação ainda em 2020.
Em julgamento do plenário virtual, a maioria dos ministros já se posicionou a favor de manter a decisão de Toffoli. Os ministros têm até às 23h59 desta sexta-feira (21) para se manifestar.
Até agora, votaram nesse sentido, além do presidente do STF, os ministros Edson Fachin, Cármen Lúcia, Alexandre de Moraes, Rosa Weber e Marco Aurélio Mello, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes.
A expetativa era de que a greve poderia chegar ao fim, caso o STF suspendesse a liminar e prorrogasse por mais um ano as cláusulas decididas na negociação de 2019, mantendo todos os benefícios previstos.
O vice-presidente Associação dos Profissionais dos Correios (ADCAP), Marcos César Alves Silva, criticou a decisão do Supremo, especialmente pelo fato de a Corte ter cassado uma decisão do TST. “Vai criar um caos social, são pessoas humildes, a maioria. São benefícios que completam o salário e são muito importantes”, disse.
Ele também afirmou que as entidades que representam os funcionários dos Correios devem se reunir no fim de semana para deliberar sobre a continuidade da greve. Para ele, o fato de ter que ser realizada uma nova rodada de negociação este ano será prejudicial para os trabalhadores, porque não há diálogo com o governo.
Sindicatos falam em risco de ‘perseguição’
Entidades que representam empregados de estatais rebatem tese da Procuradoria-Geral da República para permitir novas demissões
Estadão
24/08/2020
O julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) – que deve decidir em breve se as empresas públicas podem dispensar funcionários sem motivação formal – é acompanhado de perto pelos sindicatos que representam categorias que estão entre as mais fortes do País. Para eles, trabalhadores que entraram nas estatais e nas sociedades de economia mista o fizeram por concurso público, uma modalidade de seleção que visa a assegurar a isonomia e a impessoalidade.
Por isso, o caminho inverso, ou seja, a demissão, também precisaria preservar esses princípios, diz o advogado Alexandre Simões Lindoso. Ele atua para a Federação Nacional dos Urbanitários (FNU) – que representa empregados da Eletrobrás – e para a Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares (Fentect).
“Há que se ter justificativa pautada no interesse público para haver desligamento de trabalhadores. Senão, abre-se possibilidade para que um chefe se vingue de um funcionário que descubra alguma irregularidade ou substitua um trabalhador mais qualificado por um amigo. Vários motivos, não os mais nobres, podem dar ensejo a atos que não tenham fundamento na primazia do interesse público”, afirmou Lindoso.
A presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro da Central Única dos Trabalhadores (Contraf/CUT), Juvandia Moreira, avalia que a demissão sem motivo pode gerar perseguições políticas e ideológicas de funcionários. “A demissão já é possível quando há falta grave, mas não pode ocorrer porque o chefe não gosta de você. Esperamos que o STF tenha bom senso, diante da situação que o País vive”, disse ela.
Para Juvandia, os bancos públicos não precisam de mais liberdade para demitir empregados. Segundo ela, mais de 30 mil funcionários deixaram as instituições financeiras nos últimos anos. “A falta de empregados se reflete na piora dos serviços. Basta ver as enormes filas na Caixa relacionadas ao pagamento do auxílio emergencial.”
Entre os empregados da Petrobrás, também há apreensão em relação ao julgamento, diz o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar.
Para ele, a dispensa deve ser justificada para impedir que o governo use seu poder para fazer indicações e transformar as empresas em um “cabide de empregos”.
“É óbvio que o parecer da PGR (Procuradoria-Geral da República) tem o intuito de ajudar o governo no processo de privatizações. Esperamos que o STF atue de acordo com sua missão, que é a de resguardar a Constituição”, disse Bacelar. A venda de estatais e subsidiárias é uma das principais preocupações da FUP. Quando a Petrobrás vendeu a BR Distribuidora, 700 empregados foram dispensados, segundo ele. Quem permaneceu na empresa, perdeu parte da renda e teve de migrar para um plano de saúde considerado inferior, acrescentou Bacelar.
Procurador-geral aponta ressalvas
O parecer do procurador-geral Augusto Aras autorizando as demissões sem justa causa nas estatais tem uma ressalva. Para ele, estatais que atuam em regime de monopólio ou responsáveis pela execução de políticas públicas têm a obrigação de motivar demissões em ato formal. Essas empresas teriam “privilégios decorrentes do interesse público que motiva o monopólio” e “restrições de direito público próprias da administração”. Por essa análise, poucas empresas teriam de justificar demissões – entre elas, os Correios, detentores do monopólio postal; Eletronuclear, Nuclep, INB e Amazul, relacionadas ao setor nuclear; e Casa da Moeda, única autorizada a fabricar dinheiro.
Para Lindoso, mesmo os Correios atuam em regime concorrencial na área de encomendas. Esse entendimento concederia status diferenciado para empregados de uma mesma empresa.
No caso específico dos Correios, o STF decidiu, em 2018, que as demissões precisam ser motivadas por ato formal. Não é necessário um processo administrativo, mas uma justificativa que possibilite ao empregado contestá-la. Ainda assim, a categoria acompanha o processo relacionado ao BB pelo caráter de repercussão geral.
Mercado Livre contrata 60 carretas para entregas e terá mais 90 até dezembro
Money Times
21/08/2020
O Mercado Livre contratou nesta semana 60 carretas para ajudar nas entregas de encomendas, à medida que o maior portal de comércio eletrônico da América Latina busca meios para dar vazão ao aumento expressivo das operações devido à pandemia do coronavírus e depender menos de terceiros.
Os caminhões com capacidade média para transportar em média 5 mil pacotes cada serão usados entre os 3 centros logísticos do Mercado Livre no país (dois em São Paulo e 1 na Bahia) e centrais menores para Rio de Janeiro, Distrito Federal, Goiás, Paraná e Rio Grande do Sul e mesmo cidades no interior paulista.
Até agora, a empresa usava os caminhões de forma avulsa e, com a manutenção do elevado nível de encomendas decidiu “envelopar” os veículos com as cores e o logotipo da companhia, resultado de contratos firmados nesta semana para operação dedicada.
“Até o fim do ano, devemos estar operando com cerca de 150 dessas carretas”, disse Leandro Bassoi, vice-presidente do Mercado Envios, braço de logística do Mercado Livre, à Reuters.
Segundo o executivo, os caminhões são contratados de pequenas empresas de logística espalhadas pelo país. Não há planos do Mercado Livre de ter uma malha própria, disse ele.
O movimento ocorre em meio à forte expansão do comércio eletrônico, acelerada desde março com o fechamento do varejo físico pelas medidas de isolamento social.
A transportadora Braspress acertou no início do mês a compra de 235 caminhões extra-pesados da Mercedes-Benz para atender demandas de clientes do comércio eletrônico. E o Grupo Vamos anunciou na segunda-feira a compra de 1.350 caminhões da Volkswagen, o equivalente a cerca 10% de sua frota atual de aluguel de veículos comerciais de 14 mil unidades.
Gigantes como Mercado Livre e Magalu driblam a dependência dos Correios
A greve dos Correios pode afetar entregas no comércio eletrônico, mas as gigantes varejistas desenvolveram nos últimos anos sua própria estrutura logística
Exame
18/08/2020
A pandemia e o aumento do comércio eletrônico pressionaram toda a cadeia logística – incluindo os trabalhadores dos Correios. Com aumento da demanda e sem medidas adequadas de proteção e higiene, cerca de 100.000 funcionários da estatal acabaram de decretar greve.
A greve deve afetar as entregas no comércio eletrônico, já que a estatal é uma das maiores operadoras logísticas para as compras virtuais. As gigantes varejistas, no entanto, desenvolveram nos últimos anos sua própria estrutura logística, com integração com suas lojas físicas, dezenas de centros de distribuição em vários estados e até suas próprias startups e transportadoras. Como as empresas migraram para outras categorias de produtos além dos eletrodomésticos, como moda e alimentos e bebidas, ter uma estrutura ágil é essencial.
Mais recentemente, passaram a realizar essa logística também para seus parceiros de marketplace, serviço que se intensificou com a pandemia – afinal, dezenas de milhares de pequenos lojistas se voltaram às grandes plataformas para vender, com o fechamento temporário de suas lojas físicas. Essa estrutura aumenta a eficiência das varejistas e permite realizar entregas em uma fração do tempo.
Magazine Luiza
Em função dos novos hábitos de consumo durante a pandemia, o comércio eletrônico formal brasileiro cresceu 70,4% no segundo trimestre, segundo o E-bit. No Magazine Luiza, o comércio eletrônico cresceu 182%, atingindo 6,7 bilhões de reais e 78% das vendas totais no trimestre.
Com o fechamento do comércio, o Magazine Luiza reforçou sua estratégia de envios de produtos a partir das lojas. Com essa modalidade, cerca de 35% das entregas totais passaram a ser realizadas em até 24 horas. Para entregar os produtos de mercado, uma das categorias de maior destaque no trimestre, mais de 700 das 1.100 lojas físicas foram convertidas em pequenos estoques para essa categoria.
O parceiro de entrega, a startup Logbee adquirida há dois anos, recolhe então esses produtos nas lojas para levar às casas dos consumidores.A Malha Luiza cresceu e passou a reunir 4.000 micro transportadores e motoristas da Logbee.
O Mercado Livre, empresa mais valiosa da América Latina, chegou a 5 bilhões de dólares em produtos vendidos no segundo trimestre do ano. A rede gerenciada pela companhia em todos os países foi parte central para o crescimento do negócio de comércio eletrônico e para a capacidade de lidar com o aumento da demanda na pandemia, diz a empresa em sua divulgação de resultados. Dessa forma, o Mercado Envios enviou 157,5 milhões de itens no trimestre sem grandes problemas, alta de 124% em relação ao mesmo período do ano passado. No Brasil, a companhia abriu 18 centros de sortimento, totalizando mais de 35.
A maior parte dos itens são pagos pelo Mercado Envios, que tem uma ferramenta para cálculo e pagamento do frete e que no Brasil trabalha em parceria com os Correios. A participação do Envios é de 96% nas entregas por aqui – no total, a fatia é de 80%.
Mais do que fazer a logística de suas próprias entregas, as empresas estão oferecendo esse serviço também para os vendedores em suas plataformas de marketplace – gerenciando os estoques e envios a partir de seus próprios centros de distribuição. No Mercado Livre, empresa puramente voltada ao marketplace, esse serviço chegou a 17% do total de envios no Brasil – chegando a 20% até o final de junho. Como consequência, as entregas no mesmo dia e no dia seguinte melhoraram. Além das agências de Correio, o Mercado Livre tem 1.300 lugares em que os vendedores podem depositar as suas encomendas.
A Via Varejo chegou a 5,1 bilhões de reais em vendas totais no comércio eletrônico. No segundo trimestre, as vendas online foram responsáveis por 70% do faturamento total. Para realizar essas entregas, a empresa passou de 60 para mais de 380 mini centros de logística, que reduzem o tempo de entrega e cortaram mais de 50% no custo do último braço da logística. O plano é chegar a mais de 500 até o próximo trimestre, com presença em todas as cidades em que a Via Varejo tem presença física.
A empresa passou a lidar com mais de 70.000 pedidos por dia no trimestre – mais de duas vezes o total de pedidos processados por dia no quarto trimestre do ano passado, mesmo com a Black Friday e o Natal. A Asap Log, startup de logística adquirida recentemente, não opera apenas as entregas da Via Varejo – 10% de suas entregas são feitas para terceiros.
A Via Varejo realizou uma oferta de ações para captar 4,4 bilhões de reais – um terço desses recursos serão destinados à tecnologia e à logística.
B2W
A Lets, plataforma de entrega da B2W, faz 30% das entregas no mesmo dia e 58% das entregas em até 48 horas, tanto para vendas próprias quanto para parceiros do comércio eletrônico. A empresa é dona da Americanas.com e Submarino.com.
Para entregas ainda mais rápidas, a empresa tem o ship from store para produtos de vendedores locais, que entrega em até 2 horas produtos a partir de 4.000 Lojas Americanas ou lojas de vendedores parceiros.
O consumidor também pode pedir para retirar seus produtos em 9.075 pontos em todo o Brasil. Essas parcerias incluem postos de conveniência da BR Distribuidora, shoppings da BR Malls e Multiplan e 1.000 restaurantes do McDonald’s.
A partir de sua divisão de logística, a Let’s, a B2W tem 17 centros de fulfillment em oito estados. Cerca de 908 vendedores tem seus estoques operados pela plataforma, através da qual todo o processo logístico, do estoque ao transporte e atendimento, é operado pela B2W. A B2W também tem um serviço de entregas no estilo Uber: a Ame Flash tem 20.000 entregadores independentes cadastrados em 700 cidades.
O grevismo nos Correios
Privatizar a estatal é um imperativo para o futuro da ECT
Gauchazh
24/08/2020
A nova greve na Empresa de Correios e Telégrafos (ECT), a 10ª em nove anos, lembra uma paralisação deflagrada em 2015 pelos motoristas de táxi de Mumbai, na Índia, contra a chegada dos aplicativos de transporte. Sem os populares táxis da cidade, a população em peso passou a usar o transporte por aplicativos, em um movimento que acelerou a adoção do sistema alternativo e contribuiu para ampliar as dificuldades dos taxistas.
No Brasil, a sequência de paralisações nos Correios tem o condão de levar os usuários, entre os quais milhares de empresas, a deixar de lado a incerteza do funcionamento da estatal e se voltar para o crescente número de serviços privados de logística. Por erosão da eficiência e das greves sem fim, os Correios perderam clientes em profusão nos últimos anos. Com a pandemia, quando o comércio eletrônico registra um salto, cria-se agora mais um abismo difícil de ser revertido. Como a entrega de mercadorias não pode parar, as empresas de logística particulares ganham de presente novas fatias de mercado, realimentando ainda mais a corrente a favor da privatização dos Correios – exatamente o ponto central que a nova greve pretende combater.
Os Correios já foram uma das empresas mais confiáveis e admiradas no Brasil, a começar pela simpatia da população pela tradicional figura do carteiro. No entanto, ao longo de uma série de governos a empresa foi sendo apropriada por grupos políticos que, de um lado, estenderam aos mais de 100 mil funcionários e suas famílias benefícios impensáveis na atividade privada, como um adicional de férias de 70 % e plano de saúde que inclui pais e mães. De outro lado, foi no primeiro governo de Lula que a ECT se transformou em epicentro do episódio do mensalão. Aparelhada e ocupada por alguns dirigentes que se comportavam como salteadores, a empresa foi perdendo o brilho e o vigor, enquanto os concorrentes privados, mais leves e eficientes, avançavam celeremente no disputado território da logística.
o se eleger, o presidente Jair Bolsonaro prometeu dar curso ao processo de privatização da estatal e chegou a trocar um presidente que, com a missão de vender a empresa, logo se habituou às regalias do cargo e passou a colocar a iniciativa para escanteio.
A atual administração conseguiu melhorar a performance econômica da empresa, que já não produz prejuízos bilionários mas ainda se confronta com a resistência ao corte de benefícios e com uma ineficiência estrutural diante de um mundo que já não depende mais de cartas para se comunicar. Apenas de março a junho, por exemplo, o Procon de São Paulo registrou um crescimento de 398,5% nas reclamações contra a empresa em relação ao ano passado.
Apesar de os Correios ainda manterem alguns serviços de razoável qualidade e de estarem presentes, por via direta ou indireta, em todos os cantos do Brasil, a velocidade de transformação imposta pela disrupção digital não é compatível com a condição da empresa como um mamute estatal que vive em um passado que não existe mais. A preparação da ECT para a venda, com largos benefícios para a sociedade, que utiliza seus serviços e é chamada a pagar a conta de suas ineficiências, é um imperativo. Contra ele levanta-se parte dos funcionários, contrariados por um saneamento financeiro que inclui a suspensão do acordo coletivo, referendado na sexta-feira pelo STF. Além de cortar benesses, é preciso transformar profundamente a empresa para a privatização e a competição no ecossistema digital.
O caso da Embraer é exemplar. Estatal, a empresa deu início à moderna indústria aeronáutica brasileira, mas nesta condição não lograva incorporar as mudanças e inovações necessárias para enfrentar a concorrência internacional, e os prejuízos foram se acumulando. Privatizada, a Embraer adotou práticas de gestão modernas, identificou novas oportunidades, desenvolveu aeronaves de reconhecida qualidade e conquistou mercados. Ganharam seus colaboradores e o resto do Brasil, que deixou de canalizar os impostos de todos para financiar eventuais prejuízos de uma empresa diante das oscilações de mercado. Aos Correios pode suceder trajetória similar à da Embraer, e até sonhar com mercados estrangeiros. Mas o governo precisa concretizar logo a privatização, porque, a cada greve, a empresa vai perdendo mais territórios em um mercado crescentemente competitivo.
Por que o projeto de privatização dos Correios não faz sentido
A greve dos trabalhadores por direitos esquenta debate sobre a venda da estatal
Brasil de Fato
23/08/2020
Há seis dias, os trabalhadores dos Correiros seguem a greve contra a retirada de direitos e risco de vida dos funcionários durante a pandemia do novo coronavírus. De acordo com a categoria, em todo o país são cerca de cerca de 70 mil trabalhadores que aderiram a mobilização, o que representa 70% de adesão a paralisação.
Estão entre os pontos em que houve cortes: o tempo de licença-maternidade de 180 dias para 120 dias; o pagamento de adicional noturno e de horas extras; a indenização por morte; o auxílio para filhos com necessidades especiais e o auxílio-creche.
Para a categoria “o ataque aos direitos” e a redução, de forma unilateral, de 70 dos 79 pontos do acordo coletivo, após a empresa obter liminar na justiça, tem uma “linha direta” com a privatização da estatal, pautada pelo governo Bolsonaro desde o início do governo. Como explica o secretário-geral da Federação dos Trabalhadores em Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (Fentect), José Rivaldo da Silva, o objetivo por trás dos ataques seria “tornar a empresa mais leve, porque rentável já é. Mas diminuir todo o passivo trabalhista para privatizá-la, entregar à iniciativa privada a empresa mais barata, sem compromisso em assumir os correios poder demitir, pagar indenizações menores aos funcionários”.
A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), aliada do governo Bolsonaro e da privatização da estatal, chegou a afirmar em um vídeo nas redes sociais crítico aos trabalhadores que antes da privatização dos Correios é preciso “melhorar para vender”.
Nesse cenário voltaram aos noticiários através de declarações do governo federal, apoiadores e mercado as intenções de privatizar a estatal. Em meio a tantas versões sobre as razões para a venda dos Correios, o Brasil de Fato se debruçou sobre algumas delas para explicar o que está em jogo no serviço postal brasileiro.
Correios não têm capacidade financeira?
O diretor da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) e general da reserva do Exército, Floriano Peixoto, em entrevista a revista Veja em julho desde ano afirmou:
“Alguns benefícios estão sendo cortados porque a empresa não tem capacidade financeira nem condição de sustentar perante a sociedade a preservação deles em um momento tão difícil”
Segundo o economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clovis Scherer, os dados do relatório administrativo da empresa mostram que só em 2019 ela teve receita líquida de R$ 18,356 bilhões. E registrou lucro líquido de R$ 102,121 milhões. A empresa fechou 2019 com 99.443 funcionários, ante 105.349 no ano anterior (-5,61%).
Para ele, o resultado positivo nas contas operacionais é porque houve um bom resultado entre receitas e despesas ligadas a operação da empresa “do lado dos gastos principalmente de salários, benefícios, encargos sociais”.
“Não existe nenhuma explosão de gastos, nenhum desequilíbrio, muito ao contrário. Nos últimos dois anos, temos resultados num patamar de gasto com pessoal, inclusive em cargos sociais, inalterado dentro da média histórica”, explica.
Correios dão prejuízos?
Descontado o custo dos produtos e serviços prestados, o lucro bruto aumentou em mais de R$ 200 milhões nos últimos dois anos, atingindo R$ 2,7 bilhões em 2019.
Os números contradizem também o argumento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que em janeiro deste ano disse:
“Até o próprio Correios, que a gente quer privatizar, mas tem dificuldade. O monopólio, que, até o ano retrasado, deu prejuízo. A gente pretende. Se pudesse privatizar hoje, eu privatizaria”.
Com o aumento da demanda de compra on-line em meio a pandemia a estimativa é que a empresa tenha um lucro ainda maior este ano. De acordo com o secretário-geral da Fentect, a estatal teve um aumento do volume de entregas de mais de 30%.
Outro ponto levantado por Silva é que diferente de outras estatais, a empresa se sustenta e não é dependente do Tesouro Nacional.“O governo não põe recursos, a produção toda feita pelos trabalhadores”, declara ele.
Impacto para os trabalhadores
Se comparado com ano retrasado, o valor de despesas com salários, honorários e benefícios cresceu apenas 0,1% em 2019, mas, segundo o levantamento do Dieese, para os trabalhadores os cortes nos direitos podem representar de 43% a 69% de rendimento no final do mês. O que para Scherer é uma liquidação do acordo coletivo, que pressupõe os benefícios como complemento do salário, em uma atitude “extremamente irracional e irrealista”.
“Além de não promover ajuste salarial causando uma perda no poder aquisitivo dos trabalhadores, elimina o anuênio, a gratificação de férias, que fica limitada a legislação que é um terço, não vai garantir o vale alimentação e/ou refeição que os trabalhadores têm hoje. Só ai gera uma perda de renda e poder de compra que ultrapassa R$ 800 para cada trabalhador”, calcula.
Por exemplo, um trabalhador como carteiro, atendente ou operador de triagem que ganha uma média de um rendimento líquido de R$ 4.058 com esses benefícios, com a proposta da empresa o valor líquido cairia para R$ 2.860. Uma perda só para ele de R$ 1.2 mil com a inexistência do acordo. O que significa uma renda de quase 43% na remuneração líquida desse trabalhador ou trabalhadora.
No caso de um trabalhador assistente administrativo cuja a média de remuneração bruta é R$ 2.300, a perda também é de R$ 1.200 aproximadamente, o que significa uma perda de 69% na sua remuneração líquida com esses benefícios.
Por isso, o representante da federação reitera que a categoria não está fazendo greve por benefícios, mas pela manutenção dos direitos estabelecidos pelo acordo coletivo, inicialmente previsto para valer até 2021. Para ele o pedido é apenas que o “governo pague, o que já paga”.
Ninguém lê mais carta?
“Qual a dúvida em privatizar os Correios? Ninguém escreve mais cartas”, afirmou o ministro da Economia, Paulo Guedes, ao defender a inclusão da estatal no Programa de Aceleração de Privatizações (PAP).
O dirigente da Fentect afirma, no entanto, que segundo dados da empresa, que mais de 48% da receita corresponde ao monopólio postal de envio de cartas e os outros 52% a entrega de encomendas, aberta a livre concorrência.
Monopólio dos Correios
Silva já responde outro argumento utilizado frequentemente para justificar a privatização a exemplo, do que disse o deputado federal Marcel Van Hattem (Novo/RS) durante audiência pública sobre os Correios:
“Uma empresa monopolista estrangula qualquer possibilidade de concorrência”
O monopólio dos Correios se limita apenas ao serviço de cartas e está previsto na Constituição para a garantia do direito ao serviço postal de todos os brasileiros. Já o serviço de encomendas, como Sedex e PAC, está aberto para o livre mercado, ainda sim, de acordo com os dados da estatal, apresenta bons resultados.
Scherer alerta que a privatização das áreas competitivas da empresa pode matar todo o conjunto de serviços que são prestados, inclusive, aqueles do monopólio. “Você não vai montar uma estrutura no Brasil inteiro para entregar carta se não tiver junto outros tipos de serviços que justamente viabilizem economicamente o funcionamento da empresa, ela não vai ter receita suficiente para arcar com a tarefa de entregar cartas no Brasil inteiro”, explica.
Logística
A questão vai de encontro a outra fala do parlamentar gaúcho: “Não é em virtude de ser estatal que as coisas chegam nos longínquos do Brasil”
O fato é que o interesse de grupos privados é apenas por agências que abrangem capitais ou grandes municípios, que apresentam serviços superavitários, deixando de lado as agências localizadas em cidades onde a atividade não é lucrativa. Mais uma vez cabe lembrar que essas localidades são atendidas exclusivamente pelos Correios e, o mais importante, sem aporte de recursos da União.
O dirigente da Fentect reitera: “A privatização para os trabalhadores é a demissão e para a população é o aumento das tarifas e não ter a certeza que quem mora em determinada regiões de poder receber o que comprar via internet, porque vai ficar muito caro e inviável você mandar encomendar por quem for operar no mercado privado, que só visa o lucro. Não tem subsídio, ou então o governo vai entregar o filé para iniciativa privada ou tentar assumir minimamente o atendimento e o direito das pessoas a ter um acesso à correspondência”.
Falta de qualidade?
Além do serviço postal, os Correios servem como banco postal, entregam vacinas, realizam o ENEM, exportam e importam, levam informação, emitem documentos, entre outros. Muitos desses serviços não geram lucros, apesar da empresa ser sim lucrativa. Contudo, mesmo assim são feitos, já que por serem uma empresa pública.
Silva destaca que a posição estratégica dos Correios na logística integrada no país inteiro ficou evidente na pandemia e pode, inclusive, ser um diferencial na distribuição da vacina da doença, por exemplo.
Em 2019 a empresa ganhou o Prêmio ABComm de Inovação Digital 2019, um dos mais relevantes do e-commerce brasileiro, organizado pela Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm) e em 2020, venceram o World Post & Parcel Awards, prêmio internacional considerado o ‘Oscar’ dos correios de todo o mundo.
Para a categoria, o resultado poderia ser bem melhor não fosse o enxugamento da empresa que diminui e envelhece a estrutura física, prejudica as condições de trabalho, derruba a qualidade quanto a rapidez e garantia das entregas. Desde 2011 não há concurso e contratação e ano passado o general Floriano Peixoto chegou a comandar um Programa de Demissão Voluntária (PDV). Mas a quarentena imposta pela pandemia criou condições para o lucro crescer ainda mais, visto que o comércio eletrônico e o volume de encomendas cresceram.
“Galinha dos ovos de ouro”
Ano passado o total de receitas, 22,1% vem de serviços de Sedex e 21,3%, do PAC. Havia 11.124 unidades de atendimento, sendo 6.071 agências próprias e 5.053 terceirizadas. Para o economista a área das encomendas é justamente onde a empresa mostra que é competitiva e pode ser “a galinha dos ovos de ouro”.
“Nós temos bons números principalmente no segmento de encomendas, que é muito rentável. A empresa tem uma operação lucrativa no segmento de encomenda e também na logística. Isso é fundamental, principalmente, agora que nos vamos observar todo esse desenvolvimento do comércio digital. É um momento que tem interesse econômico em comprar a empresa pode pegar uma galinha dos ovos de ouro”, pontua Scherer.
Guedes no mesmo pronunciamento acaba evidenciando que há grande interesse no mercado na empresa:
“Por que tem que demorar tanto? Tem oito caras querendo comprar [os Correios]” – disse.
O interesse se dá porque os Correios executam uma atividade estratégica e comércio digital cresce em importância, como avalia o representante do Dieese. “Entregar a logística do Brasil com seu principal operador a um agente privado é uma decisão que tem que ser ponderada do ponto de vista estratégico do futuro. O Estado brasileiro perderia completamente a capacidade de influenciar uma cadeia que no futuro vai ser tornar predominante pelas tendências que já estamos vendo, como a Amazon”, ressalta.
Outros países fizeram movimentos no sentido de fortalecer e expandir a atuação das suas empresas postais, inclusive, com atuação internacional e não enfraquecer. Por exemplo, França, Holanda e a Argentina, que reestatizou o serviço postal.
Não a toa, o dirigente sindical enfatiza que a luta contra a privatização faz parte da luta dos trabalhadores. “É uma empresa que pode ser gigante no Brasil, não pode abrir mão de uma empresa dessa”. Na rede representantes da categoria e diversas organizações, puxam o movimento, definido como suprapartidário, Correios, orgulho de um país inteiro em defesa da estatal.
Direção Nacional da ADCAP.