Magalu está interessada na compra dos Correios, diz ministro
Segundo Fábio Faria, Amazon, DHL e Fedex também avaliam privatização da estatal. Ele pede ao Cade agilidade na venda de ativos da Oi
O Globo
16/09/2020
O ministro das Comunicações, Fábio Faria, afirmou nesta quarta-feira que há cinco empresas interessadas na privatização dos Correios. Em transmissão ao vivo nas redes sociais, ele citou quatro: a varejista Magazine Luiza, a gigante americana do e-commerce Amazon e as empresas de logística estrangeiras DHL e Fedex.
— O importante é que já tem cinco players interessados. O Magalu é um deles, a Amazon, a DHL e Fedex. Já tem pessoas, grupos interessados na aquisição dos Correios, então isso é importante, porque não teremos um processo de privatização vazio.
Magalu e Amazon estão entre as gigantes que travam uma corrida no comércio eletrônico brasileiro para reduzir os prazos de entrega de seus produtos e conquistar mais clientes, conforme mostrou reportagem do GLOBO no domingo.
O aumento das vendas no Rio de Janeiro estimularam inclusive a decisão do Magalu de abrir um centro de distribuição no estado este ano e lojas físicas a partir do ano que vem.
Faria disse que o Congresso Nacional deve decidir como funcionaria o controle acionário e as obrigações da empresa que vier a comprar os Correios no processo de privatização.
— Tem empresas interessadas em ocupar esse espaço, e elas sabem que você recebe o bônus e o ônus também, mas é uma empresa saudável.
O ministro disse que pediu para que o tema ficasse sob sua responsabilidade no ministério e que conversará com líderes do Congresso e os presidentes da Câmara e do Senado para articular a tramitação do projeto de privatização.
Ministro cita greve em favor da privatização
Além disso, ressaltou que temas específicos, como a universalização dos serviços, também serão discutidos pelos parlamentares:
— Em relação à universalidade das entregas, entregar no interior da Amazônia, Rio Grande do Sul, outros estados, em relação a funcionários, quem for bom vai continuar, até porque a empresa tem que continuar, o debate disso é no Congresso Nacional.
O ministro usou a greve dos funcionários dos Correios como um argumento para a privatização. Faria criticou a paralisação em meio à pandemia e afirmou que isso não aconteceria em uma empresa privada.
— Eu nem entrei no mérito da greve, quem debateu isso foi o próprio presidente dos Correios. Acho que isso (a greve) foi muito ruim pra eles, porque é um momento em que todos precisam dar o melhor de si.
Em nota, a Associação dos Funcionários dos Correios, Adcap, criticou o plano de privatização dos Correios, que chamou de “iniciativa lesa-Pátria que o governo tenta levar adiante de vender os Correios a qualquer custo”. A entidade diz que a venda da estatal seria um “negócio da China” para qualquer comprador.
A Adcap diz que o governo tem feito “sucessivos ataques à reputação da estatal” e que a greve foi provocada pela atual direção dos Correios na negociação do acordo coletivo da categoria. A associação diz esperar que o Congresso não autorize a privatização:
“Nossa expectativa é que os deputados federais e senadores saibam avaliar bem essa questão, desvencilhando-se das fake news que o governo federal tem produzido em série para tentar justificar sua intenção, assim como dos power points feitos pelas caras consultorias contratadas para avalizar as intenções governamentais.”
Venda de área móvel da Oi
Na mesma transmissão, o ministro Fábio Faria disse que conversou com o presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão responsável por avaliar a concorrência no mercado, para pedir “brevidade” na análise da venda de ativos da Oi.
Segundo o ministro, a resposta que recebeu do presidente do órgão, Alexandre Barreto, foi de que a análise da compra da operação móvel da Oi por Tim, Vivo e Claro, demoraria porque teria que ser feita levando em consideração a situação concorrencial em cada estado.
— (O presidente do Cade disse) que as três têm penetração no país inteiro, tem que avaliar estado por estado e seria um pouco mais demorado, demoraria meses. Eu falei da nossa vontade de que isso fosse feito com maior brevidade possível até porque a Oi tem um resultado negativo anual e se demorar praticamente um ano, vai aumentar em R$ 5 bilhões a dívida da Oi no ano corrente.
Faria disse que “abriu diálogo” com Barreto, que manteve ideia de analisar estado por estado.
— Tenho conversado muito, ele é um bom presidente, mas disse: olha eu preciso ver estado por estado até para ver como vai ficar esse ponto, é muito ruim para gente se cada companhia ficar praticamente com um terço do mercado.
O ministro então relatou que o Cade vê com bons olhos se cada empresa ficar com uma fatia compatível ao seu tamanho.
— Se cada uma comprar dentro do seu tamanho e ela aumentar cada uma dentro do que ela tinha sem que seja uma coisa combinada entre elas, o Cade vê com bons olhos e eu já recebi o feedback que será feito dessa forma. A gente vai trabalhar junto com eles para que tenha mais clareza sobre isso.
Segundo o ministro, o governo não tem lado e seria um facilitador do negócio.
— Nós temos conversado com a própria Anatel, que é uma grande credora da Oi, também tem os bancos do governo que estão conversando e já estão vendo que a Oi tem capacidade no médio prazo de quitar essas dívidas.
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NOTA DA ADCAP
Magazine Luiza, Amazon, Fedex, DHL e a torcida do Flamengo
têm interesse em comprar os Correios
O ministro das comunicações só não citou a torcida do Flamengo em sua fala de hoje (15/09) em redes sociais, ao ser inquirido sobre a privatização dos Correios. Mas poderia ter incluído, afinal a iniciativa lesa-Pátria que o governo tenta levar adiante de vender os Correios a qualquer custo seria um “negócio da China” para qualquer comprador. Depois de sucessivos ataques de representantes do próprio acionista à reputação da empresa e de uma greve provocada por outro representante do governo federal – o próprio presidente dos Correios, é de se imaginar que a “precificação do ativo” seja ainda mais generosa com os eventuais compradores. Por alguns trocados, esse patrimônio dos brasileiros poderá passar às mãos de empresas privadas, fazendo muitos bilionários com o lucro auferido, porque os Correios valem muito mais, enquanto a população é empobrecida.
Felizmente, não basta que o governo federal, antes de qualquer avaliação minimamente séria, anuncie que quer privatizar os Correios. Cabe ao Congresso Nacional a avaliação desse assunto. Nossa expectativa é que os deputados federais e senadores saibam avaliar bem essa questão, desvencilhando-se das fake news que o governo federal tem produzido em série para tentar justificar sua intenção, assim como dos power points feitos pelas caras consultorias contratadas para avalizar as intenções governamentais.
Esperamos que o Congresso Nacional observe bem o que está acontecendo em Portugal, onde a privatização dos Correios tem levado a população às ruas para pedir a reestatização, e aborte o quanto antes essa intenção que só lesará os brasileiros, principalmente os que estão nos confins do país e que hoje podem contar com os Correios em seus municípios e distritos.
Com tantas prioridades para cuidar, a intenção de privatização dos Correios salta aos olhos como algo completamente descompassado. Por que o governo federal não cuida melhor da saúde, do meio ambiente e da educação e deixa os Correios fazer seu trabalho, como tem acontecido há mais de 350 anos? Será apenas por que uma grande privatização pode gerar grandes lucros para muitos intermediários? Ou também para favorecer concorrentes, que poderão subir livremente seus preços sem a presença dos Correios no mercado?
Quem ganhará se essa intenção maligna prosperar não serão os brasileiros, mas sim uns poucos, em detrimento de todos os demais.
Direção Nacional da ADCAP.