Indicação política é regra nos Correios
O ESTADO DE S.PAULO
09 Junho 2016
No atual quadro de diretores da empresa, a maior parte foi indicada pelo PDT, do exministro das Comunicações André Figueiredo
BRASÍLIA Experiência em logística passou longe dos critérios para a distribuição dos cargos da direção dos Correios pelo PDT, partido do expresidente da estatal Giovanni Queiroz, médico e fazendeiro, e do exministro das Comunicações André Figueiredo. O presidente interino, Heli Siqueira de Azevedo, também fazendeiro e do mesmo partido, já foi autuado por irregularidades trabalhistas em sua propriedade rural em Minas Gerais, antes de assumir cargo de superintendente do Ministério do Trabalho.
Na cúpula da estatal, todos têm indicação de um partido, até mesmo o único que é funcionário de carreira. Dois advogados, sem nenhuma experiência na área, comandam as áreas de encomendas e negócio postal. Um dentista, indicado pelo PT, era responsável pela área de tecnologia há até pouco tempo.
Manoel Dias, exministro do Trabalho da gestão Dilma Rousseff, assumiu em janeiro a presidência da CorreiosPar, subsidiária que seria responsável pelos novos negócios que a estatal foi autorizada a entrar, como companhia de transporte aéreo de carga, telefonia virtual móvel e até um banco.
Quando assumiu o cargo, Giovanni Queiroz decidiu cortar o próprio salário e dos demais diretores em 30%, mas a direção da empresa voltou atrás da medida no mês passado. O presidente voltou a ganhar R$ 46 mil e os vices, R$ 40 mil cada um. O expresidente dos
Correios tinha tomado a iniciativa depois que se sentiu pressionado com o corte do salário da presidente afastada Dilma Rousseff e dos ministros. O argumento para a volta é que a nova direção, que ainda vai assumir, precisa de salários semelhantes aos de mercado para atrair bons executivos para a estatal.
Regras. Nesta semana, o presidente em exercício, Michel Temer, suspendeu as nomeações para estatais e fundos de pensão até a aprovação pelo Congresso dos projetos que endurecem regras para barrar a nomeação de políticos para os cargos.
No entanto, os partidos da base do governo na Câmara devem afrouxar as regras que foram aprovadas pelo Senado. Por exemplo: a exigência de um intervalo de três anos, no mínimo, para que um dirigente partidário ou sindical assuma uma vaga de presidente, diretor ou conselheiro de administração de uma estatal. Com as mudanças, bastaria aos indicados deixar as funções antes de serem nomeados.
A regra do Senado inviabilizaria a posse do exdeputado Guilherme Campos, escolhido pelo ministro de Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab, para a presidência dos Correios. Campos, que tem larga experiência como comerciante em Campinas, está no exercício da presidência do PSD.
Também deve ser retirada a exigência de que os indicados tenham dez anos de experiência no setor, assim como não será mais preciso cumprir todas as exigências, mas apenas uma delas. Com as alterações, o texto deve voltar ao Senado.
Campos terá dois testes de fogo logo após assumir o cargo. Terá de comandar a renegociação dos salários dos quase 120 mil funcionários.
A database da categoria é em agosto. Os servidores são representados por 36 sindicatos. A estatal ainda é responsável por toda a logística dos Jogos Olímpicos, também em agosto.
O novo presidente também precisará dar solução para outros dois problemas: o Postalis, fundo de pensão dos funcionários da estatal, que também fechou nos últimos anos com rombos bilionários, e a Postal Saúde, plano de assistência médica dos servidores, que está sendo investigada pela Operação Lava Jato.
Sem caixa, Correios vão precisar
de financiamento para pagar salários
Epoca
09/06/2016
Operando no vermelho, os Correios vão precisar recorrer a um empréstimo neste ano para conseguir honrar seus compromissos, incluindo salários de empregados e encomendas de fornecedores. As projeções são de que o dinheiro no caixa da empresa termine no segundo semestre. No ano passado, as indicações são de que a empresa tenha terminado com prejuízo de R$ 2,1 bilhões – o balanço ainda não foi publicado. Este ano, até maio, a perda já chega a R$ 700 milhões.
Mais de dez anos após ser o palco inaugural do escândalo do mensalão, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) ainda sofre, segundo quem acompanha o dia a dia da companhia, as consequências do aparelhamento político-partidário a que foi submetida nos últimos anos.
A atual direção, composta na maior parte por indicados do PDT, partido do ex-presidente Giovanni Queiroz e do ex-ministro das Comunicações André Figueiredo, tem apenas um membro que é funcionário de carreira, com experiência em logística.
O valor de R$ 2,1 bilhões de perda em 2015 já passou pelo crivo do conselho de administração da estatal, mas ainda não é oficial porque tem de ser submetido a uma assembleia geral ordinária, que não tem data para ocorrer. Procurados, os Correios disseram apenas que “adotam as melhores práticas de governança corporativa” e que só iriam se manifestar sobre o balanço após a aprovação pela assembleia.
Tarifas
Fontes consultadas pela reportagem apontam o represamento do preço das tarifas de serviços, para evitar impactos na inflação, como um dos principais fatores desse prejuízo recorde. Mesmo com o reajuste de 8,89% dado pelo governo em dezembro de 2015 para as tarifas de entrega de cartas e telegramas, a defasagem retirou cerca de R$ 350 milhões dos Correios no ano passado. Apesar do reajuste, os cálculos são de que as tarifas ainda continuam defasadas em torno de 8%, o que retira R$ 40 milhões, em média, do caixa da empresa todo mês. O aumento deste ano, previsto para abril, ainda não foi autorizado.
As despesas dos Correios crescem em ritmo superior às receitas. Em 2015, enquanto as despesas aumentaram 18,3%, as receitas cresceram 6,5%, abaixo da inflação. Só as despesas médicas dos funcionários subiram mais de R$ 500 milhões. A Postal Saúde, plano de assistência médica dos funcionários, foi criada para reduzir as despesas com assistência médica, hospitalar e odontológica. Mas o resultado foi o contrário.
Antes de apresentar os prejuízos de R$ 313 milhões em 2013, de R$ 20 milhões em 2014 e de R$ 2,1 bilhões em 2015, os Correios fecharam 2012 com R$ 6 bilhões em aplicações. Mas os resultados deficitários dos anos seguintes e os fortes repasses de dividendos para o Tesouro Nacional, para ajudar no fechamento das contas do governo, fizeram com que os recursos investidos fossem minguando nos anos seguintes. No ano passado, fechou em menos de R$ 2 bilhões.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Guilherme Campos vai para os Correios após
suspensão de nomeações
DCI
09/06/2016
O Diário Oficial da União publica nesta quinta-feira (9) a nomeação do ex-deputado federal Guilherme Campos, presidente interino do PSD, para o cargo de presidente da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT).
O ato é assinado pelo presidente interino Michel Temer e pelo ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab, que está licenciado da presidência do PSD, e a cuja pasta ficou vinculada a ECT.
No PSD desde a sua fundação, Campos assumiu a presidência do partido em janeiro de 2015, quando o então líder nacional da legenda, Kassab, foi para o Ministério das Cidades do governo Dilma Rousseff.
Guilherme Campos foi líder do PSD na Câmara de 2011 a 2014 e responsável por dar corpo ao partido, em Brasília e no interior paulista. Foi ele quem recrutou o pré-candidato a prefeitura de Campinas Artur Orsi, que era do PSDB.
No entanto, ele não conseguiu se reeleger no último pleito e ficou como suplente, com 69 mil votos. Foi deputado federal por dois mandatos (de 2007 a 2010 e de 2011 a 2014), além de vice-prefeito de Campinas entre 2005 e 2007, no governo do ex-prefeito cassado, Hélio de Oliveira Santos (PDT).
Na Câmara, integrou a Frente Parlamentar do Comércio Varejista e presidiu a Frente Parlamentar das Micro e Pequenas Empresas. Antes de ir para o PSD, Campos era filiado ao DEM.
Estatais e fundos
Na segunda-feira passada (6), o presidente em exercício, Michel Temer, havia anunciado a paralisação de todas as indicações para diretoria e presidência de estatais e fundos de pensão até que fossem aprovados dois projetos, em análise na Câmara dos Deputados: o que altera as regras para essas nomeações e o que estabelece regras de transparência e gerenciamento de empresas estatais.
Esses projetos já foram aprovados pelo Senado. O primeiro visa dificultar o aparelhamento dos fundos por partidos políticos. Uma das mudanças prevista por ele é que, para participar de conselhos, o indicado não poderá ter exercido atividade político-partidária nos dois anos anteriores à nomeação.
Já o segundo visa dar maior transparência às contas das estatais e impede que ministros, secretários estaduais, distritais e municipais ocupem cadeiras nos conselhos de administração dessas empresas.
“Mandamos paralisar toda e qualquer nomeação para diretoria e presidência de empresa estatal ou fundo de pensão enquanto não for aprovado projeto que está na Câmara dos Deputados que dispõe, de maneira muito objetiva, que só serão indicados ou nomeados pessoal com alta qualificação técnica”, declarou Temer em pronunciamento no Palácio do Planalto, em Brasília.
Relator do projeto da Lei de Responsabilidade das Estatais, o deputado Arthur Maia (PPS-BA) está disposto a modificar o texto com a flexbilização das regras para a indicação de políticos e sindicalistas a cargos em empresas públicas.