O Globo
20/03/2014
O prontuário do hospital particular indica que o funcionário público Fábio Póvoa, de 33 anos, foi sedado, entubado e respirou com a ajuda de aparelhos por dez dias, vítima de pneumonia, no leito 11 do CTI. No total, foram 14 dias de internação a um custo de R$ 29.700. A folha de ponto no trabalho do suposto paciente, no entanto, não revela dispensa médica no período da internação, de 9 a 22 de agosto de 2013. E, conforme os registros de controle da unidade hospitalar, nessas datas, o gerente da agência dos Correios na Barra sequer passou pela porta de entrada do hospital.
A fraude, investigada pela Polícia Federal, é semelhante à descoberta em outubro de 2013 e que acabou no indiciamento por peculato (desvio de dinheiro por funcionário público) do então assessor técnico da direção regional dos Correios no Rio, João Maurício Gomes da Silva, o Janjão, amigo pessoal de Fábio Póvoa. Segundo homem da estatal no Rio, o ex-sindicalista Janjão teria fraudado a internação da mulher dele, a cabeleireira Thaisa Guedes, também indiciada, no mesmo hospital em que Póvoa teria ficado entre a vida e a morte. Nos dois casos, os formulários usados no prontuário são idênticos, preenchidos no computador, quando os verdadeiros são feitos à mão, carimbados e assinados pelos mesmos médicos. Até o diagnóstico é igual: pneumonia. Os profissionais já foram ouvidos no Núcleo de Repressão a Crimes Postais (NRCP), da PF, e apontaram as falsificações na documentação, como carimbos e assinaturas falsas.
Segundo fontes ligadas ao Correios, Fábio Póvoa foi ouvido ontem no NRCP, negou ter ficado internado no período apontado no prontuário e foi indiciado pelos crimes de estelionato, associação para o crime e peculato. As penas, somadas, podem ir de quatro a 20 anos de prisão, além de pagamento de multa.
Procurado, o Correios afirmou que “mantém o posicionamento de não fornecer informações sobre a questão, para não prejudicar as investigações da PF”.
Funcionário nega internação
Fábio Póvoa afirma que nunca esteve internado no hospital que fez a cobrança de R$ 29.700 ao Correios:
– Fiquei surpreso. Naquele período, eu estava trabalhando normalmente – diz, acrescentando que procurou o pronto-atendimento da unidade apenas para receber soro em função de um problema de pressão.
– Não fiquei lá por mais de duas horas. Assinei um termo de compromisso, que é preenchido a mão. Acredito que algum funcionário tenha inserido dados falsos.
Ele diz não ter percebido os dois descontos de cerca de R$ 450 de seu salário, referentes à participação no pagamento da internação.
Em outubro, a PF descobriu que outro servidor, João Maurício da Silva, fraudou o plano de saúde do Correios com a internação de sua mulher que custou R$ 53 mil. Mas, no período em que Thaisa Guedes, de 33 anos, teria ficado hospitalizada, respirando com auxílio de aparelhos, ela aparece, com João Maurício, em fotos postadas numa rede social, numa festa de aniversário. Em depoimento à PF, Thaisa e Janjão confirmaram a internação e, confrontados com as fotos, alegaram não se lembrar do evento.