Wganer Pinheiro: do fundo de pensão da Petrobras à presidência dos Correios

Extra Online

03/10/2014

 

Antes mesmo de a presidente Dilma Rousseff assumir o governo, uma das primeiras preocupações foi blindar os Correios. A estatal estava desgastada. Além da mancha do mensalão, a empresa era controlada por indicados da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra, que foi afastada do governo em meio a denúncias de corrupção. Um filho de Erenice foi acusado de fazer lobby em favor de uma prestadora de serviços dos Correios. Para a tarefa, Dilma chamou o então presidente da Petros, o fundo de pensão da Petrobras. O petista Wagner Pinheiro já era um velho conhecido. Dilma e ele trabalharam juntos na transição dos governos FHC e Lula.

 

O currículo do novo presidente dos Correios agradava à futura presidente. Pinheiro é economista formado pela Unicamp, onde Dilma estudou. Além disso, o petista tinha o peso de ter ficado nada menos do que oito anos à frente do segundo maior fundo de pensão do país.

 

A trajetória profissional de Pinheiro começou no final dos anos 1980, no antigo Banespa. Foi no movimento sindical dos bancários que ele estreitou relações com o ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, e com o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, um dos acusados de envolvimento nos escândalos da Petrobras. Ele também era próximo do ex-ministro Luiz Gushiken, morto em 2013.

 

— A relação com o Gushiken era umbilical — classifica uma fonte do governo.

 

Com isso, Pinheiro virou assessor da bancada do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo no início dos anos 1990. E, em 1994, começou a carreira em fundos de pensão no Comitê de Investimentos do Fundo Banespa de Seguridade Social (Banesprev). Juntamente com a presidência da Petros nos governos Lula, chefiou também o Instituto Cultural de Seguridade Social (ICSS).

 

Segundo números da Associação das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), os investimentos da Petros triplicaram durante a gestão de Pinheiro, de R$ 18,6 bilhões para R$ 55,7 bilhões entre 2002 e o fim de 2010 . Esse aumento de 200% foi maior do que o registrado no setor como um todo, que foi de 132%, mas abaixo, por exemplo, da evolução da Previ. Os investimentos do fundo do Banco do Brasil saltaram 252% no período.

 

— A gestão do Wagner na Petros foi marcada por perda de direitos previdenciários dos petroleiros e por uma relação ruim com os representantes dos trabalhadores que mantém postura de independência ao governo — critica Ronaldo Tedesco, representante dos funcionários no Conselheiro Fiscal da Petros.

 

Segundo ele, Pinheiro “precarizou o direito à previdência complementar dos petroleiros” ao criar o Plano Petros 2, em 2006. O novo plano introduziu o sistema de “contribuição variável”, pelo qual o benefício era calculado de acordo com contribuições do participante ao longo da carreira, em vez do anterior “benefício definido”. O Petros 2 fez parte de um plano de repactuação do fundo, que convivia com déficit bilionário. Em 2005, o próprio Pinheiro identificou rombo de R$ 8 bilhões na Petros.

 

Pinheiro só soube que sairia da Petros dias antes de Dilma assumir. Foi o início da “faxina ética” promovida pela presidente no início de seu governo. À frente dos Correios, Pinheiro defendeu o monopólio do mercado. Os Correios venceram judicialmente uma disputa com a embaixada dos EUA para a entrega de passaportes. O argumento é que, segundo a legislação, conteúdo de interesse específico do destinatário tem de ser transportado pela empresa. Com isso, a DHL deixou de entregar documentos, e filas se formaram em embaixada e consulados para pegar o passaporte com o visto.

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