Privatizações – uma agenda fora do contexto

Nossas estatais deveriam ser muito bem preservadas para garantirem ao povo brasileiro a continuidade de seus serviços

Num momento em que o mundo volta suas atenções à preservação da vida das pessoas, preocupando-se com a saúde e com a sustentabilidade, o nosso governo defende as privatizações, como se isso fosse salvar a economia. De fato, só servirá para enriquecer ainda mais banqueiros e especuladores.

Infraestruturas públicas, como as ligadas à energia e comunicações, são essenciais e, neste momento em especial, deveriam ser muito bem preservadas para seguirem garantindo à população seus serviços, sem interrupções ou mudanças negativas, como significativos aumentos de preços ou piora na qualidade.

O discurso oficial sempre vai dizer que as privatizações resultarão em melhores serviços e mais qualidade, mas essa lógica não se sustenta quando confrontada com as situações reais. No caso dos Correios, a privatização só vai tirar do mercado um player importante, que assegura universalidade aos serviços prestados, mesmo sem receber um centavo do governo federal para isso. O transporte de encomendas, principal negócio dos correios no mundo todo, é totalmente liberado no Brasil, ou seja, há concorrência e os clientes podem escolher livremente os prestadores de serviços, entre eles os Correios. Os consumidores não ganharão nada em deixar de ter a opção de usar os Correios ou de terem de usar um serviço privado que o suceda, pois, como sempre ocorre em privatizações postais, os preços sobem e a prestação do serviço é afetada com o fechamento de unidades e a redução do pessoal. O exemplo de Portugal está aí para mostrar como as coisas acontecem.

Os brasileiros não precisam de privatização, mas de medidas que impulsionem a economia

Quem efetivamente lucra com processos de privatização são as consultorias, bancos de investimento e especuladores financeiros, exatamente os interlocutores mais frequentes do Ministério da Economia. Os brasileiros não precisam de privatizações para que a economia se desenvolva. Precisam de medidas que efetivamente impulsionem a economia, incluindo até mesmo parcerias entre organizações públicas e privadas, e não de simples desmontagens, que só transferem recursos públicos para grupos privados, enriquecendo alguns em detrimento da maioria.

No momento em que essa discussão chega ao Congresso Nacional, nossos parlamentares devem estar atentos aos argumentos oficiais urdidos para tentar convencer a sociedade de que as privatizações são indispensáveis. Porque isso não é verdade, ainda que, em uma ou outra situação, esse possa ser um caminho apropriado. Como representantes do povo, não devem permitir que o patrimônio público seja aviltado e simplesmente transferido para mãos privadas por motivação meramente ideológica ou para favorecer grupos empresariais. As organizações públicas não são ruins apenas por serem públicas, assim como as privadas também não o são. Cada situação precisa ser bem avaliada, tendo como base sempre o interesse público e a preservação dos avanços alcançados.

 

ADCAP 
Associação dos Profissionais dos Correios

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