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18/09/2022
Em uma batalha judicial para tentar retirar benefícios considerados exagerados pelos Correios, e com funcionários em greve desde agosto, o presidente da estatal, general Floriano Peixoto, afirmou que o processo de privatização da estatal já está em andamento e é o mais indicado para tornar a empresa mais moderna.
Em entrevista à coluna, Peixoto confirma a declaração do ministro das comunicações, Fabio Faria, de que já há pelo menos cinco empresas interessadas para adquirir a estatal.
Na avaliação de Floriano Peixoto, qualquer empresa do segmento de logística almeja dispor de uma estrutura como a dos Correios.
“A capilaridade da estatal é seu maior ativo: estar presente em todo o território nacional é uma vantagem de poucas instituições. Isso se torna mais relevante quando consideramos as medidas de racionalização da carteira imobiliária que foram tomadas recentemente, o que certamente reduzirá as despesas com manutenção que perduravam até pouco tempo”, afirmou.
Para o general, a expertise da empresa na área de logística “é um diferencial acumulado ao longo de anos e que fez dos Correios o principal parceiro do e-commerce nacional”.
“Mesmo com as limitações inerentes a uma estatal, a empresa conseguiu se estabelecer como principal operador logístico do país e, consequentemente, conta com numerosa carteira de clientes em um segmento em franca expansão”, destaca.
Os funcionários em greve são contra a privatização defendida pelo governo. Para Peixoto, o que o ministro Fabio Faria tem externado “é, além de uma posição do governo, um reflexo da opinião da população a respeito dos Correios: algo precisa ser feito para transformar a empresa, para torná-la eficiente e moderna”.
“O caminho da desestatização é o mais indicado, pois alia a estrutura já existente à expertise do mercado, desonerando o Estado de uma função que não é mais tipicamente pública”, diz.
O governo está em fase final de elaboração de um Projeto de Lei (PL) que precisará ser aprovado no Congresso para dar andamento ao processo de privatização. Segundo Peixoto, “a desestatização dos Correios já está em andamento”.
“A consultoria contratada entregará a primeira parte dos estudos de viabilidade econômico-financeira da empresa até novembro deste ano. Nessa fase está incluso o projeto de lei que deve ser enviado ao congresso para apreciação e, a partir desse ponto, os parlamentares terão à sua disposição o embasamento técnico para discutir os rumos do serviço postal”, afirma.
Expectativa do fim de greve
Floriano comentou ainda sobre o julgamento no TST (Tribunal Superior do Trabalho) marcado para o dia 21 deste mês, que deve decidir sobre o dissídio dos trabalhadores.
“O que esperamos é uma solução para essa situação extremamente inconveniente: a paralisação, ainda que parcial, trouxe enormes prejuízos à empresa, tanto econômicos como de imagem”, diz. “O que uma minoria de empregados tem provocado é, na verdade, uma piora da percepção da população quanto aos Correios. Isso, convém ressaltar, em meio a uma grave crise sanitária”, completa.
Na proposta feita pela estatal —de extinção de alguns benefícios— há a previsão de uma economia na ordem de R$ 800 milhões por ano. Questionado se essa economia é necessária, já que a empresa vem registrando lucro nos últimos anos, Floriano afirmou que, apesar dos números positivos nos últimos anos, há um passivo de R$ 2,4 bilhões a ser saldado.
“Os resultados positivos recentes têm reduzido esse déficit, e a nossa expectativa é a de acelerar esse processo”, disse. Floriano destacou ainda que os benefícios que a empresa quer extinguir foram concedidos em momentos diferentes do atual, tanto para a empresa como para o Brasil.
“Para os Correios é inviável, hoje, manter em patamar tão elevado suas despesas com pessoal, pois a transformação do mercado e dos hábitos de consumo da sociedade demanda investimentos que a empresa não tem realizado a contento”, diz.
Segundo ele, se os benefícios forem mantidos, os Correios correm risco de virar uma estatal dependente do Tesouro Nacional, passando, então, a prejudicar diretamente o contribuinte.
“Considerando, ainda, os graves prejuízos provocados pelas administrações anteriores, toda e qualquer medida tomada em prol da sustentabilidade da empresa se faz necessária. Isso passa obrigatoriamente pela repactuação de benefícios inapropriados à realidade financeira da instituição”, explica o general.
Funcionários criticam altossalários dos executivos
Os funcionários da estatal reclamam de um suposto processo de militarização na estatal e dos altos salários dos executivos na comparação com os baixos salários médios dos trabalhadores.
Segundo a Fentect (Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares), Peixoto escalou pelo menos dez militares em cargos estratégicos da direção dos Correios e suas subsidiárias ganhando salários de R$ 30 mil a R$ 46 mil, que é o salário do presidente. Já o salário médio inicial da carreira é em torno de R$ 1.700 por mês.
Floriano reage às críticas e diz que os nomes que compõem a direção dos Correios foram escolhidos por sua capacidade técnica. “Por mais que a experiência em gestão de alguns desse quadro advenha, em parte, dos anos de farda, nenhum dos integrantes da diretoria é ou era militar da ativa no momento da sua indicação”, diz.
Em relação à remuneração dos executivos, o presidente destaca que os Correios “são uma das maiores empresas do país, tanto em faturamento quanto em número de funcionários. Assim, os vencimentos pagos pela estatal a seus diretores estão dentro da média praticada pelo mercado”.
“A diferença entre os salários, por fim, pela óbvia diferença entre os níveis de capacitação necessários para a investidura de cada cargo: considerando as regras vigentes, de um lado temos um funcionário concursado de nível médio; do outro há indivíduos que, além de elevados níveis de escolaridade, precisam também comprovar longa experiência em instituições de porte semelhante ao dos Correios”, afirma.
Plano de contenção
Na entrevista, Floriano destacou ainda o plano de contenção da empresa para evitar os impactos da greve. Segundo ele, a empresa pôs em prática o Plano de Continuidade dos Negócios, que consiste em um rol de medidas que visam à redução de prejuízos à operação.
Dentre as providências previstas no plano está o direcionamento de funcionários da área administrativa para as operações: voluntariamente, empregados têm dedicado seus feriados e finais de semana à atividade de triagem e distribuição de objetos, segundo ele.
“Podemos citar também a contratação de mão de obra temporária para execução de atividades internas, assim como a locação de veículos e linhas de transporte adicionais para escoar a carga represada em razão da paralisação”, diz.
Direção Nacional da ADCAP.