Valor
21/05/2014
As reclamações sobre ingerência e aparelhamento provocaram a primeira derrota significativa para o governo em um fundo de pensão desde que o PT chegou à Presidência da República. Uma chapa formada por auditores da Caixa Econômica Federal, sem vinculação partidária ou com o movimento sindical, ganhou a disputa para representantes eleitos do Fundo de Pensão da Caixa (Funcef). A eleição foi realizada no início do mês e seu resultado, que saiu no dia 9, está sendo explorado em outra disputa de peso: a escolha dos representantes no fundo de pensão do Banco do Brasil, a Previ, maior do país.
Na Funcef, o terceiro maior, a oposição conquistou três vagas para diretores executivos, duas para o conselho deliberativo e uma para o conselho fiscal. Na Previ, são duas vagas de diretores, três conselheiros deliberativos e três conselheiros fiscais. Nos dois casos, a participação dá acesso a informações sobre as estratégias dos fundos e participação na tomada de decisão.
“A Funcef está deficitária em alguns planos e isso gerou insatisfação”, diz o secretário-geral da entidade, Geraldo Aparecido da Silva. Segundo ele, o discurso da chapa vencedora também foi muito calcado em críticas ao aparelhamento político. “A realidade da vida vai se encarregar de mostrar que é uma avaliação equivocada”.
De acordo com Silva, a Funcef tem poucas informações sobre os eleitos. A reportagem do Valor também tentou contato com eles, sem sucesso. Representantes mais conhecidos e grupos mais tradicionais no cenário político dos fundos de pensão estavam nas chapas perdedoras e também não têm referências dos eleitos. “Nas outras chapas, havia candidatos à reeleição, sindicalistas ligados a Contraf/CUT e a sindicatos regionais, como o do Espírito Santo. Não tenho conhecimento de relação deles com esses grupos”, conta Silva.
A única vinculação dos eleitos seria com a Associação de Auditores da Caixa (AudiCaixa), informa um participante da Funcef ligado ao PSTU.
De acordo com o site da Funcef, foi criada uma comissão de transição para dar aos novos diretores e conselheiros eleitos às informações institucionais necessárias ao exercício do mandato. “A portaria que instituiu o grupo prevê solicitação, por escrito, de informações e de documentos pelos dirigentes eleitos. Estabelece também condições de segurança para disponibilização dos documentos, em razão do caráter estratégico e sigiloso de alguns deles”, conforme texto disponível no site da Funcef.
Na Previ, um e-mail que circula entre participantes comemora o sucesso da estratégia dos auditores da Caixa e diz ser possível repetir o feito no fundo de pensão do Banco do Brasil. O texto defende o apoio a grupos “sem vínculo direto com partidos políticos e sem os vícios permeados nas [nossas] entidades classistas, sindicatos e outras entidades similares, historicamente ‘donas’ da situação”. “Tenta atrair o movimento dos sem partido, que também tem representantes entre os participantes”, resume um sindicalista.
Trata-se também de uma tentativa de atrair os insatisfeitos para o debate, já que as disputas recentes na Previ tiveram um grande número de abstenções e as chapas da situação alcançaram uma vitória apertada.
Na Previ, a disputa conta com quatro chapas. A Ética e Transparência é liderada por nomes da área técnica do fundo e do BB, sem vinculação partidária direta. Ela foi inscrita nos momentos finais e é uma dissidência de um grupo que tentava criar um bloco único de oposição à situação.
As forças mais tradicionais no fundo estão divididas em outras três chapas. A Unidade e Segurança é vinculada ao bloco Contraf/CUT/Construindo Novo Brasil (CNB, antiga Articulação do PT), atual ocupante das vagas. A chapa Previ Livre, Forte e de Todos é formada por um grupo ligado ao aposentado Walmir Camilo, ex-presidente da Anabb, uma das maiores associações de aposentados do BB. Lideranças mais à esquerda no movimento dos bancários, ligadas ao PSTU e a outras correntes sindicais, formam a União e Participação.
As razões de insatisfação, porém, não são as mesmas nas duas entidades. Na Funcef, as maiores críticas recaem sobre a estratégia de investimento do patrimônio do fundo, com a utilização das reservas em investimentos apontados como menos rentáveis. Na Previ, há enorme insatisfação em torno da redução de benefício e do aumento das contribuições, decorrente de uma distribuição de resultado que beneficiou, além dos participantes, a patrocinadora.
“A Previ encerrou 2013 com R$ 5 bilhões de superávit. A chapa com apoio dos sindicatos tem força para defender os interesses dos participantes contra a patrocinadora”, diz José Ricardo Sasseron, ex-diretor de seguridade, que concorre ao conselho deliberativo pela chapa da situação.