Trabalhadores pagam por prejuízos, corrupção e má gestão em estatais
Correio Braziliense
28/03/2017
Os prejuízos acumulados pelas empresas estatais nos últimos anos serão pagos com a demissão de milhares de empregados. Os sucessivos casos de corrupção, o loteamento político de cargos e investimentos desastrosos em projetos sem rentabilidade serão cobertos com a redução de gastos com pessoal. Nos Correios, por exemplo, os executivos já estudam dispensar até 25 mil trabalhadores para fechar as contas no azul em 2017, após acumular um rombo de R$ 4 bilhões nos últimos dois anos. A possibilidade foi antecipada pelo Correio, em janeiro, quando a Vice-Presidência de Recursos Humanos solicitou um parecer ao Departamento Jurídico sobre a possibilidade de demissão motivada.Empregados de empresas públicas não podem ser demitidos sem justa causa; é necessário que haja motivação. Além disso, é necessário apresentar os critérios para os cortes de pessoal e verificar se os serviços prestados não serão afetados. Pela tese defendida pelo Departamento Jurídico dos Correios, a dispensa seria motivada por questões técnicas, econômicas e financeiras.
Conforme o memorando enviado pela Vice-Presidência de RH, a medida seria adotada caso as ações em curso não sejam suficientes para equilibrar as contas da estatal. O parecer ainda leva em conta dados apresentados pela Vice-Presidência de Finanças e Controle Interno, que mostram um crescimento de R$ 3 bilhões, em 2006, para R$ 7,5 bilhões, em 2015, na folha de pagamento da empresa. Com isso, as despesas com pessoal saltaram de 49% para 62% dos gastos totais da estatal. No mesmo período, o número de empregados passou de 107 mil para 118 mil. Mas o “tráfego de objetos” caiu de 8,6 bilhões para 8,2 bilhões. Além disso, o nível de produtividade diminuiu de 80 para 70 objetos por trabalhador.
No caso na Telebras, os problemas são ainda maiores. A estatal, ressuscitada pelo governo Dilma Rousseff, fechou 2016 com patrimônio negativo R$ 500,1 milhões, mais que o dobro dos R$ 218,8 bilhões registrado no ano anterior. Foi um aumento de 128,5% num buraco que não se sabe onde vai parar. O patrimônio negativo da Telebras cresce por causa dos consecutivos prejuízos acumulados, que saltaram, no ano passado, de R$ 498,7 milhões para R$ 769,6 milhões.
Os gastos com pessoal cresceram 39,5% entre 2015 e 2016, com a fatura pulando de R$ 50,7 milhões para R$ 70,8 milhões. No total, as despesas operacionais da Telebras subiram 18% no ano passado, totalizando R$ 195,2 milhões — sem qualquer justificativa plausível para uma empresa que havia sido praticamente fechada. No ano passado, o prejuízo foi de R$ 270,9 milhões contra R$ 235,6 milhões em 2015.
Demora
A lista de empresas no vermelho deve ser ainda maior, mas a demora na divulgação das informações mantém os dados escondidos. Segundo o Ministério do Planejamento, as estatais têm até 30 de maio para enviar à pasta os demonstrativos financeiros do ano passado. Antes disso, é impossível saber quantas das 152 companhias federais tiveram prejuízo ou não.
Outra empresa que se mantém deficitária é a Petrobras, vítima do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava-Jato. A petroleira teve prejuízo líquido de R$ 14,8 bilhões em 2016, o terceiro consecutivo. Apesar dos números ruins, a companhia reduziu o endividamento em 20%. A dívida líquida, no fim de 2016, estava em R$ 314,12 bilhões, ante R$ 392 bilhões em 2015. Em dólares, o total de débitos recuou 4%, passando de US$ 100,4 bilhões para US$ 96,38 bilhões.
O presidente da Petrobras, Pedro Parente, reconduzido ontem ao cargo até março de 2019, afirmou no começo do ano que a empresa manterá disciplina e acompanhamento mensal de resultados para melhorar o balanço, mas sem reduzir a meta de produção. Segundo ele, o objetivo é reduzir os custos operacionais em 18% em relação ao previsto no cenário básico, além de implantar novos sistemas de gestão. A estatal está concluindo o segundo programa de demissão voluntária, totalizando a adesão de 19 mil colaboradores, o equivalente a 20% do quadro de funcionários diretos da companhia.
Fundos no vermelho
Os fundos de pensão registraram deficit de R$ 71,7 bilhões em 2016, informou a Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp). Pelo menos 80 fundações tiveram resultado negativo em 205 planos de benefícios, uma queda em relação a 2015, quando 92 delas apresentaram rombo de R$ 76,7 bilhões. A Abrapp destacou que 88% do deficit do ano passado se refere ao resultado de 10 planos de benefícios. Por outro lado, o número de fundações com superavit passou de 127, em 2015, para 138, em 2016. O resultado positivo delas subiu de R$ 13,9 bilhões para R$ 18,2 bilhões.
Troca de comando na Vale
O executivo Fábio Schvartsman, atual presidente da Klabin, será o novo presidente da Vale a partir de maio, substituindo Murilo Ferreira. Graduado e pós-graduado em Engenharia de Produção pela Universidade de São Paulo e pós-graduado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas, Schvartsman chegou ao comando da Labinasal em fevereiro de 2011, após passar boa parte da vida profissional no grupo Ultra, onde foi responsável pela abertura de capital da holding. Ele foi selecionado pela empresa de recrutamento Spencer Stuart e recebeu o aval dos presidentes do Banco do Brasil, Paulo Rogério Caffarelli, e do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, além do presidente da República, Michel Temer.
Prejuízos acumulados
Rombos sucessivos de estatais prejudicam esforço do governo para recuperar contas públicas
Telebras
» Entre 2015 e 2016, o rombo na Telebras mais que dobrou. O patrimônio líquido negativo saltou de R$ 218,8 milhões para R$ 500,1 milhões, uma piora de 128,5%
» O prejuízo acumulado saltou de R$ 498,7 milhões para R$ 769,6 milhões
» O gasto com pessoal cresceu 39,5%, passou de R$ 50,7 milhões para R$ 70,8 milhões
Correios
» A empresa acumulou rombo de R$ 4 bilhões nos últimos dois anos e estuda dispensar até 25 mil empregados por meio da demissão motivada
» Pela tese defendida pelo Departamento Jurídico da estatal, essa dispensa seria motivada por questões técnicas, econômicas e financeiras
» Será necessário apresentar previamente os critérios para os cortes de pessoal e se os serviços prestados não serão afetados
Petrobras
» A Petrobras teve prejuízo líquido de
R$ 14,8 bilhões em 2016, o terceiro ano consecutivo de resultados negativos
» Em 2015, a estatal registrou prejuízo recorde de R$ 34,8 bilhões e em 2014, as perdas somaram R$ 21,6 bilhões
» Em comunicado, após a divulgação do balanço, a Petrobras atribuiu o novo prejuízo à reavaliação “de ativos e de investimentos, no total de R$ 20,9 bilhões”.
Privatizar é preciso
VALOR ECONÔMICO
28/3/2017
Apesar do sério desequilíbrio fiscal, agravado por uma previdência social cheia de privilégios e custo insustentável e das distorções que destroem a produtividade e o crescimento econômico, o Congresso desvia atenções para tentar salvar membros corruptos da Lava-Jato.
É fundamental que o interesse público prevaleça sobre interesses pessoais e a prioridade deva ser a realização das reformas estruturais. Não há incompatibilidade entre reformas estruturais e programas sociais. O crescimento da produtividade é o melhor programa de inclusão social, como demonstra a experiência chinesa nos últimos 40 anos.
Não faz sentido um Estado endividado manter capital alocado em atividades que podem ser exercidas com vantagem pela iniciativa privada, enquanto prioridades sociais, como investimentos em educação, saúde e segurança pública, são negligenciadas. Empresas estatais são movidas por incentivos que não só não conduzem à maximização de eficiência, mas às vezes antagonizam esse objetivo. Costumam ser utilizadas por governos como instrumento político para executar atividades estranhas ao seu objetivo social, abrigar apadrinhados e atuar como fontes de corrupção.
Um dos fenômenos importantes da economia global nos anos 90 foi a redução da intervenção direta do Estado na atividade econômica, com programas de privatização na Europa (emergente e desenvolvida), Ásia e América Latina.
No Brasil, foi executado o Programa Nacional de Desestatização (PND), cujo saldo mostrou-se positivo. Setores inteiros da economia foram privatizados, e o Tesouro Nacional pôde abater US$ 112 bilhões de dívida pública. Adicionalmente, ocorreu a privatização ou liquidação de bancos comerciais estaduais, que atuavam como verdadeiros minibancos centrais e focos de desperdício.
O propósito efetivo do PND foi a maximização de receita no curto prazo, com a adoção do modelo de “núcleo duro”, a venda do controle acionário de estatais para consórcios de investidores, responsável por distorções que impediram a plena realização dos benefícios potenciais da reforma do Estado.
Diferentemente do Reino Unido, em que se procurou conciliar a melhoria das finanças públicas com o desenvolvimento do mercado de capitais, com ampla participação de investidores privados, a experiência brasileira conduziu à predominância do capitalismo de Estado. Em lugar do capitalismo moderno, em que a propriedade das empresas é dispersa entre milhares de investidores, optamos pelo atraso institucional. As empresas desestatizadas passaram a ser controladas por associações de grupos privados com o BNDES e fundos de pensão de grandes estatais, verdadeiras vacas sagradas que por motivos não muito claros não foram incluídas no PND.
Má governança é uma doença crônica entre os fundos de pensão de estatais, principalmente pelo uso político em detrimento de seu propósito original, investir com racionalidade seus ativos para pagar aposentadorias e pensões aos filiados. A influência do governo sobre fundos de pensão é transmitida para as empresas controladas, forçando-as às vezes a tomar decisões conflitantes com a alocação eficiente do capital.
Os males causados pelo capitalismo de Estado em nosso país abundam. Bilhões de reais de crédito subsidiado sem a contrapartida de aumento de investimento e/ou produtividade, quebras de campeões nacionais, como LBR, OGX e Oi, incentivos fiscais que só incentivaram o déficit público, prejuízos bilionários em fundos de pensão de estatais etc. Mais recentemente, eclodiram pressões políticas explícitas para mudar a diretoria da Vale, o que soou esdrúxulo, pois se trata de companhia com centenas de milhares de acionistas privados.
O número de estatais no Brasil ainda é alto, tendo sido engordado nos governos Lula/Dilma. Temos 159 empresas federais, sendo que mais da metade depende fundamentalmente de recursos do Tesouro Nacional, o que por si só sugere potencial para o fechamento de várias delas. Somem-se algumas dezenas de estatais estaduais, atuando em saneamento, energia elétrica, distribuição de gás, bancos e outros.
Simultaneamente ao aumento de quantidade, as estatais expandiram atividades. Os grandes bancos públicos passaram a ter fatia majoritária no estoque de crédito da economia, investiram em bancos privados, administradoras de cartões de crédito, seguros e turismo. Setores privatizados anteriormente, como fertilizantes e petroquímica, voltaram a ter participação estatal, o que começou a se reverter em 2016 com o programa de desinvestimentos da Petrobras. No serviço de correios, privatizado em vários países como Alemanha, Japão e Inglaterra, a ECT, estatal que registrou prejuízo de R$ 2 bilhões em 2015, anunciou o ingresso na telefonia celular. Parece-nos no mínimo iniciativa desastrada, pois se trata de serviço privatizado há duas décadas, com alto índice de cobertura, de 117 celulares/100 habitantes, e mercado em que a estatal não demonstra ter qualquer expertise.
A privatização contribui no curto prazo para abater dívida pública e ao longo do tempo para elevar a produtividade, o que ajudará a nos libertar do anêmico crescimento do PIB per capita de 0,7% ao ano entre 1980 e 2015. Para a realização do potencial de aumento de produtividade é importante que não se repitam os erros do passado. Sempre que possível, as privatizações devem envolver ofertas públicas de vendas de ações.
Paralelamente aos programas de parcerias público-privadas na infraestrutura, desinvestimentos de ativos da Petrobras e Eletrobras (ainda por acontecer) e as privatizações de estatais estaduais, existe um extenso manancial para privatizar. Nesse contexto, seria recomendável a privatização dos Correios e empresas de gestão de portos, vendas de ações de grandes companhias da carteira da BNDESPAR, como Eletrobras, Petrobras, Vale, JBS e Fibria, e das participações do Banco do Brasil e Caixa em bancos privados (Votorantim, Patagonia e Pan-Americano) e no negócio de seguros.
Roberto Castello Branco é pesquisador do Centro de Estudos em Crescimento e Desenvolvimento Econômico da FGV.
Correios em crise fecham agências e encomendas não chegam
Bom dia Brasil
28/03/2017
http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/edicoes/2017/03/28.html#!v/5757950
Correios em crise fecham agências e encomendas não chegam
G1
28/03/2017
Há uma crise sem fim nos Correios, uma empresa que tinha selo de qualidade e, agora, virou dor de cabeça para os brasileiros. Por todo o Brasil, os carteiros estão sumindo, as encomendas não chegam e agências anunciam fechamento.
A empresa está mergulhada em dívidas e é alvo de críticas pela gestão política. Uma empresa que levou o título de mais confiável do país. A própria figura do carteiro sempre inspirou em nós essa confiança, credibilidade, mas agora a realidade é bem outra.
O Bom Dia Brasil fez um giro em São Paulo, Santa Catarina e Sergipe para mostrar exemplos do desmonte dos Correios.
Resposta da ADCAP pela matéria veiculada no
Jornal Grande ABC ‘Correios ainda estão na
UTI, mas sem aparelho’
Para conhecimento, divulgamos, abaixo, a Carta Resposta da ADCAP publicada no Jornal Diário do Grande ABC
Jornal Diário do Grande ABC
27/03/2017
Correios
Sobre a entrevista com o presidente dos Correios, Guilherme Campos Júnior (Política, dia 13), inicialmente, cabe informar que faltou com a verdade quando afirmou que “nos Correios, dos 117 mil funcionários, só podem vir de fora da empresa o presidente, oito vice-presidentes e 16 assessores especiais”. Deixou de incluir os servidores cedidos de outros órgãos para a ECT. Os assessores especiais, por exemplo, compõem quadro de indicações políticas, para dar abrigo – e salário de R$ 20 mil – a ex-deputados, a amigos e correligionários dos dirigentes do momento. Verdadeira farra! Em decorrência, a presidência e as vice-presidências, bem como as suas assessorias, estão tomadas majoritariamente por pessoas estranhas aos quadros da empresa, sem nenhum conhecimento do setor postal brasileiro. Faltou com a verdade também quando afirmou que foi a última indicação política antes da Lei 13.303/2016. Ademais, o próprio presidente da ECT foi nomeado pouco antes da edição da lei, visto que não cumpria os requisitos exigidos. Faltou com a verdade mais uma vez quando afirmou que “os Correios sempre foram geridos por funcionários da instituição”. Ora, nos últimos 14 anos a ECT teve apenas um empregado como presidente, em 2005. Diretores e vice-presidentes, na sua absoluta maioria, durante todo esse tempo, eram pessoas estranhas aos quadros da ECT, alguns deles inclusive presos em operações da Polícia Federal. Assim, a questão central a ser enfrentada, para a qual o presidente da ECT nada fez e nada faz, é a profissionalização da gestão da empresa. Ao contrário, o atual presidente repete as mazelas deixadas pelos seus antecessores, aparelhando a empresa com correligionários para cargos de direção na administração central e nos Estados, suprimindo critérios estabelecidos para o exercício das funções, dispensando os processos de recrutamento interno para a escolha dos gestores e os modelos de promoção por resultados, de forma a viabilizar as indicações políticas. Acresça-se que o mesmo aparelhamento vem sendo utilizado nas entidades vinculadas, como o Postalis (fundo de pensão), Postal Saúde (caixa de assistência de saúde) e CorreiosPar (subsidiária integral da ECT). Por fim, os profissionais da ECT repudiam as afirmações irresponsáveis do presidente da empresa, que atribuem aos empregados a responsabilidade pelos prejuízos nos últimos exercícios, ao tempo em que informam que adotarão as medidas administrativas e judiciais cabíveis.
Maria Inês Capelli Fulginiti, presidente da Associação dos Profissionais dos Correios
http://www.dgabc.com.br/(X(1)S(ptu4zwmwu4zsqzfux3rfhhus))/Noticia/2522616/a-paisagem-e-o-direito-a-moradia
Matéria Correios ainda estão na UTI
http://www.dgabc.com.br/Noticia/2515233/correios-ainda-estao-na-uti-mas-sem-aparelho
Correios estudam ‘mega demissão’
Jornal Valor Econômico
27/03/2017
Com prejuízo de quase R$ 500 milhões nos dois primeiros meses do ano e depois de frustrar-se com o baixo número de adesões ao plano de desligamentos voluntários aberto em janeiro, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) avalia uma medida radical para fechar o rombo em seus cofres, que desperta a ira dos sindicatos de trabalhadores.
Sob o argumento de que a situação financeira é extremamente grave, o departamento jurídico da estatal foi acionado para verificar se há meios de driblar a estabilidade dos empregados e fazer “demissões motivadas”, com o objetivo de reduzir o quadro de pessoal. Estimativas preliminares indicam a necessidade de enxugamento de 20 mil a 25 mil funcionários para equilibrar as despesas operacionais e dar sustentabilidade aos Correios.
Caso a medida realmente vá adiante, seria um precedente importante para outras estatais em crise, ao relativizar a estabilidade de trabalhadores que ingressaram por meio de concurso. Hoje eles só podem sair voluntariamente ou por justa causa, mediante a abertura de processo disciplinar. A diretoria dos Correios prepara sua sustentação com base no artigo 173 da Constituição, que permite adotar em empresa pública o regime jurídico de empresas privadas. Haveria brecha legal também para as dispensas motivadas na CLT, com a alegação de que a ausência de medidas pode colocar a estatal em colapso.
Segundo dados da vice-presidência de finanças e controle interno, a folha de pagamento da estatal aumentou de R$ 3 bilhões para R$ 7,5 bilhões entre 2006 e 2015. Com isso, os custos trabalhistas subiram de 49% para 62% dos gastos totais. No mesmo período, o “tráfego de objetos” caiu de 8,6 bilhões para 8,2 bilhões por ano e o nível de produtividade diminuiu de 80 para cerca de 70 objetos por cada trabalhador.
Com pouco mais de 117 mil empregados atualmente, os Correios abriram um PDV em janeiro. A expectativa era atrair em torno de 8 mil funcionários com mais de 55 anos e tempo de casa suficiente para requerer aposentadoria, mas houve 5,5 mil adesões. O prejuízo acumulado nos últimos dois anos chega a R$ 4 bilhões e não dá sinais de reversão.
O presidente da ECT, Guilherme Campos, confirmou ao Valor a existência das discussões, mas disse que nenhuma decisão foi tomada até agora. “Não estamos fazendo isso com nenhum requinte de sadismo. O que não dá é para manter uma situação em que dois terços dos custos totais são de pessoal”, afirmou o executivo. Ele se recusa, no entanto, a falar sobre o número de desligamentos supostamente necessários para estancar a sangria. “Seria leviano expressar isso agora.”
Os trabalhadores prometem reagir. A Fentect, principal federação de empregados dos Correios, convocou todos os sindicatos da categoria para uma reunião de emergência na terça-feira. O encontro, em Brasília, debaterá a possibilidade de greve na estatal.
“A empresa está se aproveitando do argumento de crise financeira para impor uma estratégia de sucateamento”, afirma Suzy Cristiny da Costa, diretora da Fentect. Para ela, o mecanismo das demissões motivadas está em linha com outro medida tomada recentemente: o fechamento de 250 agências próprias em todo o país. Suzy acredita que isso afetará a qualidade na prestação dos serviços e sobrecarregará os trabalhadores. “Estão se mexendo para fazer a abertura de capital.”
Na avaliação de Marcos César Alves Silva, representante dos empregados no conselho de administração, não há amparo legal nas demissões planejadas e a crise da estatal tem causas mais profundas: “Os resultados negativos não são decorrentes de problemas do mercado e nem do inchaço nos quadros de pessoal”.
Silva aponta pelo menos três razões para o agravamento da situação financeira dos Correios: o recolhimento exagerado de dividendos (foram transferidos R$ 6 bilhões ao Tesouro Nacional), represamento de tarifas postais em anos eleitorais e excesso de indicações políticas no comando da estatal.
Reduto do PMDB no governo Luiz Inácio Lula da Silva, a diretoria dos Correios foi loteada entre dirigentes petistas durante o primeiro mandato da ex-presidente Dilma Rousseff. Seis meses antes do impeachment, ela entregou os cargos para o PDT. Michel Temer colocou o PSD na empresa.
Antes mesmo de anunciar as demissões motivadas, a atual cúpula da ECT precisa lidar com outro desgaste. Há poucos dias, os empregados foram avisados de que só poderão tirar férias ao fim do segundo período aquisitivo. Trata-se de uma forma de economizar, no curto prazo, com o adicional de 70% de férias garantido pelo acordo coletivo da categoria (normalmente é um terço).
Para os sindicatos, a medida alivia artificialmente o caixa e desorganiza a alocação de recursos humanos nos próximos anos.
“Objetivo é precarizar para privatizar”, diz Sindicato dos Correios
Portal o Dia
27/03/2017
Algumas medidas vêm sendo tomadas pelos Correios na tentativa de superar a crise pela qual a empresa pública está passando, como o processo de fundir agências, Programa de Dispensa Involuntária (PDI) e, agora, o programa de Dispensa Motivada na estatal, na qual terá de demitir servidores para a empresa sobreviver. Para o sindicato da classe, essas medidas não passam de desculpas a fim de que a empresa consiga privatizar a estatal.
Segundo o secretário jurídico do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios do Piauí (Sintect) e secretário Norte e Nordeste da Federação Nacional dos Trabalhadores dos Correios, José Rodrigues, a empresa quer prejudicar o ser viço prestado para mostrar que enquanto ela for pública, o serviço tende a cair.“O objetivo maior é precarizar o serviço com o intuito de ter um argumento forte para privatizar. Eles querem entregar a parte que dá lucro para a parte privada, e esse desejo é de muito tempo. O presidente dos Correios é um empresário que só pensa no lado privado. Esses ataques são para fortalecer que ela não pode continuar pública. Eles tentam colocar a culpa da situação financeira da empresa nos trabalhadores, mas a gente sabe que a culpa é dos próprios governos que sucatearam e roubaram a em presa durante muito tempo”, denuncia o secretário.
José Rodrigues afirma ainda que o sindicato tem dúvidas a respeito da situação financeira que o Correios alega estar e informam que estão pedindo uma auditoria para confirmar se realmente a empresa passa por uma crise. “Os Correios são uma empresa pública que presta um serviço social importante para a população. Durante muitos anos, a empresa deu lucro e ele é repassado para o governo. A gente tem até dúvida da dificuldade financeira que ela diz estar, porque não é fácil acreditar que, em 2012, a empresa estava com um bilhão de lucro e, em quatro anos, passar a ter um prejuízo de mais de quatro bilhões”, argumenta.
Segundo o sindicalista, ainda que a situação financeira esteja passando por dificuldades de fato, é função do governo garantir serviço de qualidade para a sociedade e não de precarizar ainda mais o serviço. “A falta de trabalhadores prejudica o serviço dos Correios. A sobrecarga em um trabalhador, já que eles estão demitindo vários, também. E fora que os direitos dos funcionários estão sendo atacados, o plano de saúde está sendo ameaçado e as férias estão sendo suspensas, são vários ataques que a categoria começa a reagir indignada. Já saíram 5 mil trabalhadores sem substituição e não tem nem previsão de concurso. Ela está implantando serviço que precariza cada vez mais o serviço com essas medidas”, explica.
Segundo nota da Coluna Esplanada, publicada no Jornal ODIA, o programa de Dispensa Motivada na Estatal vai ser anunciado em breve pelo presidente da empresa. A direção dos Correios prepara sua defesa jurídica baseada na Constituição, que permite adotar, em empresa pública, o regime jurídico de empresas privadas. Até o momento, a empresa informa que não tem informações concretas sobre o programa, pois o mesmo ainda está em estudo.
Trabalhadores dos Correios se mobilizam contra retirada de direitos básicos
RBA
27/03/2017
São Paulo – Representantes de sindicatos de trabalhadores da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) estão reunidos hoje (27) com o presidente da instituição, Guilherme Campos, em São Paulo. Em pauta, medidas da empresa de restrição de direitos históricos da categoria, como a possível cobrança de mensalidade para a manutenção dos planos de saúde e a suspensão de férias para os funcionários até abril de 2018.
“Suspender férias programadas dos trabalhadores é um absurdo sem tamanho da ECT, porque as férias são direito adquirido, definidos em lei, e têm de ser pagas”, afirma em nota o Sindicato dos Trabalhadores da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos e Similares de São Paulo, Grande São Paulo e zona postal de Sorocaba (Sintect). “O sindicato ajuizará uma ação coletiva em favor dos trabalhadores”, informa, caso o impasse não seja resolvido na reunião de hoje. As medidas foram anunciadas pela administração da empresa.
A ECT argumenta problemas na situação financeira da instituição, o que é rebatido pelo sindicato. “É um absurdo isso se dar em nome (a suspensão das férias) de uma suposta falta de dinheiro, ao mesmo tempo que a ECT torra dinheiro mandando seus vice-presidentes em viagens de turismo à Europa, para aprender como privatizar a empresa, fecha vários contratos de patrocínio e paga uma fortuna para uma empresa estrangeira fazer um plano de saúde, acabando com o dos Correios.”
Para a categoria, a medida visa a “apenas criar pânico”, e faz parte da política de “terras arrasadas” adotada pelo governo de Michel Temer (PMDB). “A ECT não precisava fazer isso, mesmo se tivesse problema de caixa de verdade. As férias terão de ser pagas de qualquer jeito, pois a lei obriga, e não envolvem tanto dinheiro assim para uma empresa do tamanho desta”, afirma. “Essa é a receita do governo Temer”, continua o sindicato.
“Temer quer desregulamentar o trabalho, acabar com a legislação que protege o trabalhador, acabar com a Previdência pública e acabar com as estatais, privatizar tudo. É um governo que está agindo para favorecer ao máximo as empresas e empresários, principalmente estrangeiros (…) E os ‘paus mandados’ de Temer na direção da ECT querem fazer direito o trabalho sujo, acabando com direitos dos trabalhadores, reduzindo os custos com mão de obra, deixando a empresa enxuta e rentável para privatizar”, afirma o sindicato, ao acusar o governo de abrir espaço para multinacionais do setor postal, como a DHL, Fedex e UPS.
A categoria encontra-se em estado de greve desde o dia 15 contra as medidas. “A greve é contra o governo Temer e suas propostas de reforma da Previdência e Trabalhista, que acabam com direitos dos trabalhadores. E contra a direção dos Correios, que com sua intenção de cobrar mensalidade no plano médico também acaba com um direito conquistado com muita luta pela categoria”, completa a entidade.
Correios confirmam atraso em entregas em 10
cidades de SC
G1
27/03/2017
Os Correios informaram que há atrasos na entrega de correspondências e encomendas em 10 cidades catarinenses: Jaraguá do Sul, no Norte, Balneário Camboriú, Navegantes e Penha, no Litoral Norte, Blumenau, Itajaí e Brusque, no Vale do Itajaí, e Florianópolis, Palhoça e São José, na Grande Florianópolis. Em Penha, o Procon chegou a denunciar o caso ao Ministério Público Federal (MPF), como mostrou o Jornal do Almoço desta segunda-feira (27).
Em nota, os Correios afirmam que o atraso é por causa da falta de pessoal, com empregados afastados por motivo de saúde e do Código de Endereçamento Postal (CEP) errado. Quanto à regularização dos serviços, a empresa não tem previsão, mas disse que está empenhada para que isso ocorra o quanto antes. O telefone da Central de Atendimento dos Correios é o 0800-725-01-00.
Atrasos
O número de reclamações motivou a denúncia do Procon de Penha. “O consumidor hoje recebe em torno de 20 a 30 dias uma correspondência em atraso após a data de vencimento. Tem dois bairros hoje da cidade que não estão tendo entregas, porém bairros que sempre receberam de forma correta, dentro do prazo”, afirmou Elton Cantenor Teixeira, do Procon de Penha.
Em Itajaí, o problema afeta toda a região. Em Balneário Camboriú, os moradores relataram que o atraso na entrega das correspondências começou há cerca de quatro meses e, às vezes, o carteiro simplesmente não passa. Dessa forma, os moradores precisam ir até o Centro de Distribuição, que funciona das 14h às 16h.
“Estou irritada por isso. Porque eu tenho que estar indo nos lugares para pegar boleto, para eu poder pagar boleto”, relatou a aposentada Rita do Amaral.
Um mês de espera
Em Florianópolis, as entregas dos Correios também estão atrasadas. O comerciante Nicolau Roger dos Santos espera há um mês por uma peça que comprou em Brusque, no Vale do Itajaí, cidade distante cerca de 90 quilômetros da capital catarinense.
A peça que ele comprou já está em Florianópolis desde 12 de março. Ele tentou buscar pessoalmente, mas não conseguiu. “Fui duas vezes lá. Falei com o supervisor. Ele me disse que, infelizmente, ele não tinha material humano para atender à minha necessidade”, relatou o comerciante.
Para o Sindicato dos Trabalhadores na Empresa de Correios e Telégrafos e Similares de Santa Catarina (Sintect), o problema vai além. “Os carros estão sem manutenção. O CDD [Centro de Distribuição Domiciliar] Ingleses, você pode olhar, de 31 motos, tem só 14 funcionando. A empresa não realiza concurso público desde 2011. E ela vem fazendo nos últimos três anos planos de aposentadoria incentivada, ela tem um plano de demissão incentivada, que foi renovado por mais dois meses, e ela não está substituindo essas vagas”, relatou a diretora-executiva do Sintect, Thaís Moreira.
Caminho das cartas
Quando uma encomenda chega a Santa Catarina, ela vai para o centro de triagem, em Palhoça. Dali, segue para um dos cinco centros de entrega do estado. Se for uma correspondência, ela é encaminhada ao centro de tratamento de cartas, na vizinha São José. Lá, é separada por região e levada para um dos 49 centros de distribuição domiciliar do estado, onde os carteiros fazem a última separação antes de saírem para entrega. O prazo para receber depende do serviço contratado pelo cliente.
A assessoria dos Correios confirmou que cinco agências serão fechadas no estado entre abril e maio: duas em Florianópolis, uma em Joinville, no Norte, uma em Blumenau e uma em São José.