Empresa trabalha com vantagem tributária

Estadão
26 de maio de 2014

 

Uma decisão apertada do Supremo Tribunal Federal (STF) no ano passado deixou os Correios em clara vantagem na hora de disputar o mercado de e-commerce com empresas privadas. Por 6 votos a 5, os ministros decidiram que isenções tributárias que a empresa já tinha em um serviço considerado essencial para a população – a entrega de cartas pessoais e cartões postais – deveriam ser estendidas à movimentação de pacotes, apesar de companhias privadas concorrerem neste mercado. Com a decisão, os Correios ficaram livres de impostos estaduais e municipais, como ICMS e ISS, que continuam a ser cobrados de suas rivais. A justificativa para a isenção tributária seria o fato de os Correios terem a obrigação de atender todo o País – mesmo regiões deficitárias do ponto de vista financeiro -, enquanto as concorrentes podem escolher áreas mais rentáveis, explicou um advogado que acompanhou o caso.

 

Perdas. Uma reportagem publicada em janeiro com dados obtidos pelo Estado mostrou que a entrega de cartas e cartões postais seria uma operação deficitária para os Correios, com perdas acumuladas de R$ 817 milhões entre janeiro e novembro de 2013. O resultado positivo da operação como um todo viria do Banco Postal, uma parceria com outra entidade pública, o Banco do Brasil.

 

Questionada na semana passada sobre o prejuízo na entrega de cartas, a assessoria de imprensa dos Correios não repassou os dados separados por segmentos, informando que seria impossível retirar os resultados do Banco Postal do restante da companhia.

 

O presidente dos Correios, Wagner Pinheiro, disse que o objetivo da companhia é ampliar serviços para melhorar o resultado do negócio como um todo. Para isso, vai entrar pesadamente em áreas em que hoje a iniciativa privada é forte, como a logística reversa – que garante a devolução de produtos com defeitos técnicos – e a gestão de estoques para companhias que não têm como manter centros de distribuição próprios.

 

Para dar conta de todo esse trabalho novo, o governo teve de fazer uma mudança na legislação em 2011 para permitir que os Correios pudessem comprar fatias de outras companhias para melhorar seu serviço.

 

Com a mudança de regras, os Correios informaram neste mês ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) a intenção de fazer a sua primeira aquisição: uma participação minoritária na Rio Linhas Aéreas. “Seria uma participação relevante, mas de menos de 50%, que daria maior estabilidade para os nossos contratos”, explicou Wagner Pinheiro.

 

Concorrência. As empresas privadas que vão passar a bater de frente com o gigante público – que faturou mais de R$ 15 bilhões no ano passado – se dizem prejudicadas.

 

“Eu diria que a concorrência é desleal, pois tenho de concorrer com uma empresa que não paga imposto”, diz Ronan Hudson, diretor comercial da Jad Log, companhia que tem nove anos de mercado e foi originada por ex-parceiros da Vaspex, serviço de entregas da finada companhia aérea Vasp. A JadLog tem 500 franquias espalhadas pelo País e faturou R$ 400 milhões no ano passado.

 

Para o diretor executivo da E-bit, Pedro Guasti, caso o projeto revitalização dos Correios se reflita em serviços realmente melhores, o gigante público tem chance de incomodar muito as rivais privadas. “Sem dúvida, os Correios têm potencial para ganhar muito mercado”, diz o especialista.

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