Com uma direção técnica, profissional e bom plano desenvolvimento, os Correios podem multiplicar seu faturamento e seus resultados. E tudo isso como empresa pública
Carta Capital
27.04.2022
Por Marcos César Alves Silva
Apesar de os brasileiros contarem com uma das menores tarifas postais do mundo e dos lucros bilionários que os Correios têm registrado, o governo federal continua insistindo na tentativa de privatizar a empresa.
Neste artigo, porém, não tratarei das impropriedades e dos graves erros do processo de privatização. Vou me concentrar nas principais ações que um novo governo poderá adotar para acelerar o desenvolvimento do correio brasileiro, mantida sua condição de empresa pública.
1) Infraestrutura montada e funcionando
Os Correios são o tipo de organização que já conta com a infraestrutura montada em pleno funcionamento. Empresas assim costumam demandar menos investimento e já produzem lucros de forma consistente, como tem acontecido nos Correios. Num jargão usado nas escolas de administração, é uma empresa do tipo “vaca leiteira”. É importante ter isso em mente, pois a situação é bem distinta que se observa, por exemplo, em startups, que precisam construir toda uma infraestrutura para poderem operar.
2) Linhas de negócios
O correio brasileiro conseguiu ao longo do tempo desenvolver linhas de negócios que se somaram à tradicional entrega de cartas. O setor de encomendas é o maior exemplo. Os Correios não se limitaram às pequenas encomendas trocadas entre pessoas, mas se tornaram a principal rede de entrega das encomendas geradas e-commerce. Também houve, a longo de alguns anos, uma iniciativa importante no segmento financeiro – o banco postal, inicialmente montado em parceria com o Bradesco e depois com o Banco do Brasil. Veremos, mais à frente, que essas duas linhas de negócios – logística e financeira – são muito promissoras.
3) Legislação
Embora não tenha feito grande uso, os Correios contam, desde 2011, com um que permite à organização estabelecer parcerias com empresas privadas para explorar novos negócios e atuar no exterior. Trata-se da lei 12.490/11. Os Correios podem, portanto, estabelecer sólidas parcerias com empresas privadas para acelerar a exploração de novos negócios. Não há necessidade de privatiza e nem mesmo de abertura de capital para que isso seja feito. Basta competência técnica e disposição institucional, pois o arcabouço legal de fundo já foi construído.
4) As lacunas de desenvolvimento
Há empresas de correios públicas, de controle misto e privadas que são verdadeiros conglomerados empresariais. A simples observação dessas organizações, como o La Poste (França), o Deutsche Post (Alemanha) ou o Royal Mail (Reino Unido) permite enxergar lacunas de desenvolvimento que poderiam ser preenchidas com novos negócios, empreendidos diretamente pelos Correios ou em parceria com a iniciativa privada.
5) Financeiro/Bancário
O Banco Postal, descontinuado pela atual gestão da empresa, é uma iniciativa que pode ser retomada, afinal trata-se de um segmento de negócio importante nas grandes organizações postais. Na Poste Italiane, os serviços financeiros chegam a ser mais relevantes que outros segmentos de negócio mais tradicionais. É de se imaginar, por exemplo, que haja muito interesse entre os grandes bancos ou entre os bancos digitais de passar a poder contar com uma rede de atendimento física tão capilarizada e integrada como a dos Correios, assim como com uma marca forte e confiável para uma parceria.
6) Internacionalização
A vocação de líder regional do Brasil não foi transformada ainda em negócio pelos Correios. O correio brasileiro tem cacife econômico e técnico para assumir uma posição de liderança na América Latina, tornando-se o núcleo do hub de entrada e de saída de mercadorias do mundo todo para a região. Os Correios poderiam ter parcerias com empresas de logística dos demais países da região, adquirir empresas locais ou constituir subsidiárias para assegurar adequados níveis de qualidade ao serviço. Uma atuação nessa frente certamente favoreceria muito o comércio brasileiro.
7) Marketplace
A atuação dos Correios como marketplace especializado também é uma iniciativa que poderia ser desenvolvida não apenas para levar mais uma opção aos clientes, mas também para que a empresa conhecesse em maior profundidade esse tipo de negócio – posto que seus maiores clientes e maiores concorrentes são exatamente os marketplaces.
O segmento internacional é um candidato natural para receber um marketplace operado pelos Correios, que já oferece ao mercado o Exporta Fácil, serviço utilizado por milhares de empresas brasileiras, mas o mercado interno também pode acomodar mais uma operação de marketplace mais geral operado pelos Correios, que é, de longe, a maior operadora de logística para o comércio eletrônico no país.
8) Logística
No campo da logística propriamente dita, há uma série imensa de oportunidades de parceria que poderiam ser estabelecidas, abrangendo serviços de armazenagem, embalagens, preparação de remessas e até distribuição local de objetos. As possibilidades de emparceiramento com empresas privadas são bem visíveis e poderiam vir para complementar as ofertas de serviços dos Correios a seus clientes.
9) Geomarketing
A expertise dos Correios com sua base de CEPs é também um ativo cujo valor pode ser potencializado por meio do desenvolvimento de serviços de geomarketing. Como detentor do CEP, os Correios têm, de plano, um ativo valiosíssimo, que é a base dos códigos de endereçamento postais.
Com uma direção técnica, profissional e bom plano desenvolvimento, os Correios do Brasil podem multiplicar seu faturamento e seus resultados, além de favorecer o desenvolvimento das empresas brasileiras. E tudo isso sem precisar mexer na natureza jurídica da organização.
Direção Nacional da ADCAP.