Os CTT são uma empresa que nos envergonha
O Mirante
13/09/2020
A administração dos CTT não tem rosto na relação com os seus clientes.
A administração dos CTT não tem rosto na relação com os seus clientes. Mais grave ainda: a administração dos CTT não tem estruturas intermédias que falem com os clientes, que dêem justificações formais sobre o mau serviço que prestam, que eventualmente se disponham a devolver o dinheiro pelo serviço que cobraram e que não foi realizado, entre tantos casos que são de bradar aos céus para quem não tem outro remédio senão trabalhar com os CTT.
O MIRANTE é um dos grandes clientes dos Correios. Desde a privatização que nos queixamos dos serviços. A nossa política de empresa, a exemplo da maioria da imprensa em Portugal, foi sempre seguida confiando no bom trabalho dos Correios para a fidelização dos assinantes. Quando os CTT eram empresa pública tínhamos sempre alguém do outro lado a dar a cara e a tentar remediar as situações mais complicadas. Desde que a empresa foi privatizada a relação é… tu precisas, então põe-te no teu lugar: paga e não bufes. Quem achar a linguagem demasiado chula não entende o que é editar um jornal para ser distribuído pelos CTT e, três dias depois, saber que o jornal ainda não chegou a casa dos assinantes quando há tão poucos anos chegava no dia a seguir.
Só a cobrar a nova administração é severa. Um dia de atraso no pagamento da factura e carta na hora a informar que o contrato pode ser suspenso e que vão ser lançados os juros do atraso de um dia.
O leitor está admirado com este tratamento de uma grande empresa na relação com os seus clientes? É bem pior do que aqui vai descrito. O Governo e os autarcas de todo o país sabem desta pouca vergonha. Mas veremos se o Governo de António Costa tem coragem de actuar em função dos números vergonhosos que a Anacom acaba de divulgar sobre a qualidade do trabalho dos CTT.
CTT falham serviço público de qualidade há 4 anos seguidos
A empresa que gere o serviço público de correios há quatro anos que falha os indicadores de qualidade. A mais recente avaliação da Autoridade Nacional de Comunicações comprova o mau serviço dos CTT, que não cumpriram 23 dos 24 indicadores, sobressaindo os atrasos na distribuição de correspondência. Trabalhadores acusam CTT de se aproveitar da pandemia para justificar incumprimentos.
Em 2019 os CTT só cumpriram um dos 24 indicadores de qualidade postal universal. “Apenas cumpriram um dos 22 indicadores relativos a demoras de encaminhamento de envios postais e incumpriram os dois indicadores relativos ao tempo em fila de espera nos estabelecimentos postais”. As conclusões constam de uma avaliação da Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom). Os Correios são já reincidentes nas falhas. Segundo a autoridade, este é o quarto ano consecutivo em que a empresa que explora o serviço público não cumpre a totalidade dos indicadores.
No ano passado cerca de 50 milhões de objectos postais não respeitaram o padrão de qualidade de serviço no que se refere à qualidade de entrega (três dias úteis para o correio normal) e, sensivelmente, oito milhões não terão cumprido a meta de fiabilidade (cinco dias úteis no caso do correio normal).
A 17 de Julho, a comissão de trabalhadores dos CTT acusou a empresa de não cumprir nenhum indicador de qualidade previsto no contrato de concessão, nomeadamente a distribuição nacional domiciliária, e de aproveitar a pandemia para justificar incumprimentos. No mesmo dia, os CTT repudiaram as declarações e acusaram a comissão de trabalhadores de proferir, no parlamento, declarações “genericamente infundadas e frequentemente falsas” sobre o serviço de distribuição.
Anacom determina redução do preço do serviço postal
Com base no mau serviço dos Correios, no final de Agosto a Anacom determinou a redução do preço no serviço postal universal. “A Anacom decidiu aplicar o mecanismo de compensação previsto na lei (…) que consiste na redução de preços que deverá beneficiar a universalidade dos utilizadores daquele serviço”, avançou, em comunicado, o regulador. Neste sentido, a variação máxima de preços permitida para este ano no que se refere aos serviços de correspondência, jornais e encomendas, “é deduzida em um ponto percentual” e os preços dos envios de correio normal em quantidade devem descer 0,31%.
“Daqui resulta que, tendo em conta que de acordo com as regras de actualização de preços a variação máxima admissível em 2020 para o referido cabaz de serviços era de 1,41%, a variação média ponderada dos preços dos serviços de correspondências, jornais e encomendas não poderá ultrapassar os 0,41%”, explicou a Anacom.
De acordo com a autoridade liderada por João Cadete de Matos, a dedução de 1% é a máxima possível por aplicação das regras fixadas em 2018.
Já no caso dos indicadores de qualidade do serviço aplicáveis ao correio normal em quantidade, a dedução dos preços é de 0,31%, sendo que a dedução máxima (0,5%) aplica-se quando os valores realizados nos indicadores ficam, pelo menos, dois pontos percentuais abaixo dos objetivos de desempenho.
Deputados querem nacionalização dos CTT
O Mirante
12/09/2020
Os CTT estão na mira do regulador. A Anacom diz que a empresa não cumpriu 23 dos 24 indicadores de qualidade.
No final do ano o Governo vai contratualizar mais dez anos de concessão deste serviço público que tem sido gerido como se vivêssemos num estado russo ou chinês. Confrontados com os resultados arrasadores de um relatório da Anacom sobre os CTT, os deputados da região referem que não são novidade e apontam caminhos diferentes para a resolução do problema. PCP e BE, assim como o deputado do PS Hugo Costa, falam em renacionalização. Já para Duarte Marques, do PSD, o problema não é a privatização, mas o desleixo do Estado.
Em audiência parlamentar na Assembleia da República, há dois meses, o deputado do PSD Duarte Marques, eleito por Santarém, questionou a ministra da Coesão Territorial devido ao mau serviço dos Correios, nomeadamente na distribuição de jornais. Na altura ainda não tinha sido publicado o relatório arrasador da Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom) que revela o incumprimento de 23 dos 24 indicadores de qualidade do serviço postal universal. Contudo as queixas de cidadãos, comunicação social e das próprias Comunidades Intermunicipais (CIM) eram já reveladoras de um serviço deficiente.
Quando viu o relatório, Duarte Marques confessa que ficou contente por ser um sinal de que o regulador está a cumprir a sua função. “Resta saber se isso irá provocar uma mudança de atitude ou não”, diz o deputado.
O contrato de concessão com os CTT termina no final deste ano. Entretanto decorreu até meados de Agosto um processo de consulta pública da Anacom para preparar o caderno de encargos do próximo contrato de concessão que o Governo irá estabelecer. Para o deputado do PSD, o mau serviço dos CTT não se prende com o facto de ser uma empresa pública ou privada, mas sim com o desleixo do Estado que, na sua opinião, se borrifou para o assunto por se tratar de uma concessão feita por um Governo PSD.
“Quando se faz uma concessão o assunto não deixa de ter a ver connosco, a responsabilidade não termina nesse dia”, refere, acrescentando que, se o contrato assinado não está a ser seguido, cabe ao regulador e ao Governo actuar, alterando-o ou penalizando a empresa. “Não se fez uma coisa nem outra”, afirma Duarte Marques.
“Estado tem que tomar mão na empresa”
Para Hugo Costa, deputado e presidente da Federação Distrital de Santarém do PS, a empresa privada tem que cumprir o que assinou com o Estado. Nota que é público o mau funcionamento do serviço postal universal e reforça que a privatização não teve bons resultados. Distancia-se da posição do PS de renegociação do contrato, com todos os dados em cima da mesa, e afirma peremptório que o Estado tem que tomar mão na empresa.
Uma posição defendida também pelo PCP e pelo Bloco de Esquerda. Ambos os partidos apresentaram projectos de lei nesse sentido que acabaram chumbados na Assembleia da República pelo PS, PSD e CDS-PP. Mas a O MIRANTE afirmam que vão continuar a lutar pela reintegração dos CTT na esfera pública.
António Filipe, do PCP, apelida de desastrosa a decisão de privatizar os Correios. Para o deputado eleito pelo círculo de Santarém, a empresa foi adquirida por um grupo económico internacional que dá mais valor à actividade financeira e ao sector da banca. “Não estão minimamente interessados em cumprir o serviço público postal e a prova disso foi a fase de encerramento de estações, que finalmente foi travada, sobretudo pelos protestos das populações”, refere.
Também Fabíola Cardoso refere que o mau funcionamento do serviço postal pode pôr em risco, em algumas localidades do interior, a própria coesão social. Para a deputada do Bloco de Esquerda, o relatório da Anacom reforça o que o Bloco vem dizendo: “A privatização dos CTT foi uma má decisão política com consequências graves a nível da qualidade do serviço prestado e também dos direitos dos trabalhadores, que por diversas vezes se manifestaram pelas condições de trabalho em que são obrigados a trabalhar”. Para a deputada este é o momento para discutir a questão e voltar a apelar à reversão da decisão concretizada em Setembro de 2014.
Direção Nacional da ADCAP.