É urgente privatizar os Correios
Editorial Folha de SP
09/09/2025
Deterioração é obra de gestão perdulária; serviço universal pode ser mantido com parcerias sob regulação.
No primeiro semestre de 2025, o prejuízo foi de R$ 4,4 bilhões, um salto em relação ao observado em todo o ano de 2024 (R$ 2,6 bilhões)
Submetidos a uma gestão ideológica, perdulária e desconectada dos desafios impostos pela tecnologia e pelo sistema concorrencial, os Correios apresentam um ritmo de degradação estarrecedor.
No primeiro semestre de 2025, o prejuízo chegou a R$ 4,4 bilhões, um salto em relação ao rombo observado em todo o ano de 2024 (R$ 2,6 bilhões).
Em comparação com o mesmo período do ano passado, a receita caiu 9,5%, a R$ 8,9 bilhões. Os custos administrativos subiram de R$ 1,2 bilhão para R$ 3,4 bilhões, e as despesas com precatórios dispararam para R$ 1,6 bilhão, alta de quase 500%.
O quadro, que revela inchaço burocrático e investimentos mal planejados, já motivou a aprovação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito no Senado e fez com que o presidente da estatal, Fabiano Silva dos Santos, pedisse demissão em julho — mas sua saída não foi formalizada porque o governo não tem um substituto.
Não convence a tentativa de Fernando Haddad, ministro da Fazenda, de atribuir o prejuízo aos custos de manutenção do serviço postal universal, como entregas em áreas remotas. Ele argumentou que a quebra de monopólio deixou os concorrentes com a melhor fatia do mercado.
Caberia lembrar que o modelo de privatização elaborado pelo BNDES em 2021 previa o desmembramento das atividades em entregas de maior porte e logística complexa, de um lado, e serviços postais, de outro.
Estes últimos continuariam pública e passariam por nova concessão, com manutenção da universalidade, veto ao fechamento de agências em áreas remotas e tarifas acessíveis reguladas pelo Estado. O modelo propunha parcerias privadas para injetar eficiência, sem abandonar o compromisso social e os rincões.
A ideia, baseada em experiências internacionais bem-sucedidas, era maximizar o valor da franquia dos Correios para o contribuinte e evitar a morte lenta (ou rápida, no caso da gestão petista) de uma estrutura calcificada. Mas Luiz Inácio Lula da Silva descartou qualquer nova privatização, antes mesmo de tomar posse, e agora colhe fracassos.
Urge retomar o processo de privatização da companhia. Com deterioração acelerada, adiar a venda só agravará as perdas, exigindo mais aportes públicos.
Uma gestão privada, sob regulação forte, pode modernizar operações, reduzir custos e manter o serviço universal. Espera-se que o Congresso Nacional assuma a responsabilidade de salvar os Correios, caso o governo insista em recusar o caminho da sensatez.
A ADCAP, em resposta ao Editorial enviou o seguinte texto, pedindo sua publicação:
Correios: A sensatez da Gestão Profissional
Por Roberval Borges Corrêa
Presidente da Associação dos Profissionais dos Correios (ADCAP)
A sociedade brasileira assistiu estarrecida aos números e resultados dos Correios divulgados pela Folha de S. Paulo: um prejuízo de R$ 4,4 bilhões no primeiro semestre de 2025. É um resultado que, por si só, evidencia a gravidade de uma crise que se arrasta e se aprofunda. A crise dos Correios não é um fenômeno acidental, mas a obra de uma gestão que, lamentavelmente, tem se mostrado desconectada da complexidade e das exigências do setor.
Neste cenário, o debate sobre o futuro da empresa, liderado por editoriais como o da Folha, volta a se concentrar na privatização como panaceia. Contudo, essa narrativa simplista, que atribui a deterioração a uma suposta “gestão ideológica e perdulária”, esconde a real causa-raiz do problema: a desprofissionalização crônica de sua liderança.
O nosso ponto de vista, como profissionais especialistas que dedicam suas vidas à empresa, é que a viabilidade dos Correios não está em xeque. Na contramão dos resultados negativos, o mercado de logística postal e, em especial, o de comércio eletrônico, está em forte e contínua expansão. Esse dinamismo demonstra que há uma vasta oportunidade de negócio à espera de uma gestão competente, capaz de capturar essa demanda e transformar a capilaridade e popularidade da empresa — seus maiores diferenciais competitivos— em fonte de receita e lucro.
No que tange ao serviço universal, o editorial da Folha menciona a privatização como uma forma de mantê-lo com parcerias e regulação, mas falha em explicar como essa “conta” seria paga. A discussão, que precisa ser transparente, reside em qual modelo de financiamento do serviço universal o país adotará. Existem, basicamente, três opções no mundo:
a) o subsídio cruzado, onde as rotas lucrativas financiam as deficitárias, modelo existe no Brasil;
b) o financiamento público do serviço universal, com verba do Tesouro – modelo adotado nos EUA;
c) o financiamento privado, por meio de concessões e fundos de financiamento privados – modelo Europeu.
A ADCAP defende que os Correios, se bem geridos, podem financiar sua função social por si mesmos, sem precisar de aportes do Tesouro Nacional ou da oneração, por taxas, dos operadores privados do setor. A injeção de capital necessária hoje não é para subsidiar a ineficiência, mas para sanear o passivo de curto prazo e regularizar as contas, um pré-requisito para qualquer plano de reversão. A empresa não precisa ser privatizada; precisa ser bem gerida e profissionalizada.
A verdadeira solução para a crise não está na transferência de ativos, mas na profissionalização da gestão. É urgente que o Governo Federal nomeie para a Diretoria e para os cargos de gestão executiva pessoas efetivamente competentes e com profundo conhecimento do setor de logística postal, que estejam genuinamente comprometidas com a recuperação financeira da empresa e que não estejam atreladas ao compadrio das metas indicações políticas.
A retomada da sustentabilidade e da eficiência dos Correios só será possível quando a competência técnica e o compromisso com o resultado prevalecerem sobre a conveniência política. O futuro da maior empresa logística do país depende dessa escolha.
Direção Nacional da ADCAP.