Folha SP
01/01/2015
Nesta segunda-feira (29), a Petrobras informou que as investigações patrocinadas pela própria companhia sobre as denúncias desveladas pela operação Lava Jato vão se estender à Petros, a fundação de previdência dos funcionários da estatal.
A Petrobras contratou dois escritórios de advocacia para realizar um trabalho independente à ação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal. Segundo o comunicado divulgado pela Petrobras, os escritórios Trench, Rossi e Watanabe Advogados e o Gibson, Dunn & Cutcher identificaram possível relação entre os indícios de corrupção que estão sendo apurados na empresa com transações consumadas pela Petros. Se essa apuração independente for feita para valer, a Petrobras de Graça Foster vai chegar ao PT de Dilma Rousseff.
São muitas as conexões entre uma coisa e outra descobertas até aqui.
A Petros é o segundo maior fundo de pensão do país, com mais de R$ 66 bilhões de patrimônio e 158 mil participantes. Desde o primeiro mandato de Lula, a Petros está nas mãos do PT. Primeiro com o ex-sindicalista dos bancários de São Paulo Wagner Pinheiro. Depois, com os sucessores de Pinheiro, que ele ajudou a escolher antes de assumir, em 2011, a presidência dos Correios, já no governo Dilma.
Na fase inicial dos depoimentos da Lava Jato, um advogado afirmou à PF que um esquema de notas fiscais fraudulentas foi usado para o pagamento de “propina na Petros”. Trata-se de Carlos Alberto Pereira da Costa, preso na operação da PF e sócio da CSA Project Finance, uma das empresas operadas pelo doleiro Alberto Youssef. Segundo Costa, a CSA foi usada para intermediar a venda de títulos para a Petros. Ele disse que essas transações resultaram em propinas no valor de R$ 500 mil, divididas por cinco pessoas, entre os quais dois diretores da Petros, entre 2005 e 2006 –gestão de Wagner Pinheiro.
Costa também contou que João Vaccari Neto, tesoureiro nacional do PT, esteve várias vezes na sede da CSA Project Finance “possivelmente a fim de tratar de operações com fundos de pensão”. Vaccari é do mesmo grupo de ex-sindicalistas bancários de São Paulo do qual faz parte Wagner Pinheiro.
Conforme a Folha reveleou em setembro, a PF abriu uma frente de investigação na Lava Jato para apurar se houve o uso de fundos de pensão para fins políticos. Mais uma vez, no centro das suspeitas está a estrela da tesouraria petista, João Vaccari Neto. Por tabela, entra novamente em cena seu companheiro dos tempos de sindicato: Wagner Pinheiro.
A Petros e o Postalis, dos funcionários dos Correios, presidido por Pinheiro, aplicaram R$ 73 milhões num dos negócios intermediados pelo grupo do doleiro Youssef. Os dois fundos perderam praticamente todo o investimento.
E-mails capturados pela PF em computadores de pessoas ligadas a Youssef sugerem que Vaccari ajudou os operadores do doleiro a fazer contato com a Petros em 2012. O interesse era captar recursos dos fundos de pensão para o Trendbank, uma administradora de fundos de investimento.
Exatamente como desejavam os operadores de Youssef, os fundos de pensão aplicaram milhões num dos fundos geridos pelo Trendbank. Esse fundo quebrou no final do ano passado, deixando um rombo de cerca de R$ 400 milhões.
Boa parte do dinheiro dos fundos de pensão que evaporou foi investido pelo Trendbank em papéis podres de empresas fantasmas ligadas a Youssef. Essas empresas fantasmas, por sua vez, aplicaram parte do que receberam do Trendbank em uma empresa usada por Yousseff, segundo a PF, para repassar dinheiro para o PT e outros partidos da base aliada ao governo Dilma.
Pelo que se vê, há muito a ser apurado tanto pela PF quanto por essa investigação independente patrocinada pela Petrobras no que diz respeito à Petros.
Um bom caminho para os investigadores é ouvir os dirigentes e ex-dirigentes da Petros que se encontravam com Vaccari em dois famosos hotéis do Rio de Janeiro, um no Leme e outro no Arpoador.