Como estamos numa luta desigual, em que a mídia reproduz informações distorcidas provenientes de órgãos do governo federal a respeito dos Correios e a própria empresa não se defende, emudecida por um direção subserviente e comprometida com o desmonte da organização, a ADCAP passará a oferecer por esse canal seu posicionamento sobre matérias que tratarem dos Correios.
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Governo dá primeiro passo para
privatizar Correios
O Valor Econômico trouxe hoje um artigo na coluna Opinião intitulado “Governo dá o primeiro passo para privatizar os Correios”. A matéria completa pode ser lida AQUI.
Comentaremos algumas partes do artigo, apresentando a posição da ADCAP a respeito.
O artigo do Valor afirma que: “A população espera mais agilidade na entrega não só de correspondências e documentos, mas também de mercadorias. O aumento do comércio eletrônico foi impulsionado pela pandemia e tende a continuar crescendo. Se confirmada a chamada recuperação em “V”, a economia brasileira demandará mais agilidade, dinamismo e eficiência. O Estado não será capaz de suprir essa necessidade a contento.”
Cabe ressaltar aqui que a entrega de mercadorias (encomendas) no Brasil é uma atividade completamente liberalizada, havendo no país milhares de transportadoras em plena operação. Mesmo assim, num mercado totalmente aberto, os Correios são líderes de mercado no segmento de encomendas até 30 kg, não por terem qualquer monopólio, mas pela abrangência de seus serviços, pelos preços praticados e pela qualidade de seu serviço. E essa liderança vem desde o surgimento do comércio eletrônico brasileiro, potencializado na origem exatamente pela criação do e-Sedex pelos Correios. Nesse contexto, de mercado aberto e competitivo, não faz nenhum sentido concluir que a sociedade terá algum benefício com a privatização dos Correios. Pelo contrário, sob controle privado, os preços praticados tenderão a subir significativamente, como ocorreu em todos os casos de privatização havidos. O melhor e mais recente exemplo disso ocorreu em Portugal, onde a população clama pela reestatização de seu CTT, exatamente em função de aumento de preços e de piora no atendimento.
O artigo do Valor segue afirmando que “Por outro lado, terá o desafio de desenhar um modelo de privatização capaz de atrair o empreendedor privado, oferecendo retorno sobre o capital investido, sem desmantelar a rede de atendimento em regiões de baixa atratividade econômica.”
Neste ponto, cabe ressaltar que apenas em 324 municípios brasileiros os Correios têm operações positivas, ou seja, faturam ali mais do que gastam. O custo de manter as redes de atendimento e de entregas dos Correios no país todo foi estimado pela direção da Empresa em cerca de R$ 6 bilhões por ano. Esse montante não tem sido cobrado do Estado, mas sim custeado pelos Correios, numa fórmula empresarial de sucesso que deveria orgulhar os brasileiros, pois tem desonerado o país de arcar com essa despesa.
O artigo menciona em seguida que: “A história dos Correios ficou recentemente marcada pelo episódio que culminou no escândalo do mensalão. Algumas apostas, como o Banco Postal, também não tiveram o sucesso pretendido.”
Neste ponto cabem duas observações. Primeiramente a respeito da questão do mensalão, na qual os Correios figuraram mais como “boi de piranha” do que qualquer outra coisa, já que, enquanto a Empresa era exposta na mídia como “berço do mensalão”, outras estatais eram saqueadas, constituindo o que de fato poderia ser chamado de mensalão. Havia, portanto, um contexto que ia muito além dos Correios, que, neste caso, foi mais vítima que qualquer outra coisa nessa história. E, sobre o Banco Postal, o fato de o Banco do Brasil não ter conseguido extrair da parceria resultados tão bons quanto o parceiro anterior extraiu, ou ainda que a atual direção dos Correios, em sua prática de engessar e emudecer a organização, deixou de buscar novo parceiro para operar o banco não significam que o empreendimento não tenha alcançado sucesso. Em que lugar do planeta uma parceria assim produziu como aqui a abertura de mais de 11 milhões de contas correntes, como aconteceu na primeira fase do Banco Postal com o Bradesco? O valor de R$ 2,8 bilhões alcançado no último leilão dessa parceria não foi um grande sucesso?
Por fim, com relação à expectativa para 2021, a ADCAP espera que o Congresso Nacional saiba sopesar as argumentações e narrativas, separando o que é verdadeiro do que é incorreto ou falacioso, em benefício da população brasileira.
Os brasileiros merecem receber melhores informações e os devidos contrapontos ao discurso falacioso do governo. A ADCAP estará atenta às matérias que tratem dos Correios e divulgará amplamente sua opinião e suas observações a respeito.
Direção Nacional da ADCAP.