Valor Econômico
08/01/2013
Grandes empresas patrocinadoras de eventos culturais no Brasil ainda não sinalizam que o fraco crescimento da economia no ano passado, com recuo do investimento, poderá diminuir a verba que destinam para eventos culturais neste ano que se inicia. Mas produtores culturais, que necessitam de apoio das empresas, já notam certa cautela no ar e temem que isso possa predominar ao longo de 2013.
“Você não tem 2013 como um ano de euforia [em patrocínios]”, afirma Duda Magalhães, diretor-geral da Dream Factory, empresa que promove eventos, dentre eles o festival de música Sónar São Paulo, em fase de captação de recursos e previsto para acontecer em 24 e 25 de maio.
Algo similar tem sido observado por Flavio Steiner, diretor-geral da Engage Eventos, braço de eventos culturais do grupo RBS, que, entre outras ações, produz entre janeiro e fevereiro o festival de música Planeta Atlântida no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.
“No passado, havia marca com festival de música próprio e algumas empresas também se associavam a eventos esportivos. Hoje essa marca está dizendo que quer entrar em esportes, em shows e só. Não porque não acredite em determinados eventos, mas porque o cobertor está curto”, afirma. Para Steiner, o momento exige “uma capacidade de argumentação maior [dos promotores culturais]”.
Por enquanto, a tônica entre patrocinadores é de manutenção dos recursos para eventos culturais em volume igual ao do ano que passou.
A operadora de telecomunicações Oi, por exemplo, vai investir em 2013 o mesmo valor desembolsado com patrocínio cultural de 2012. O valor não é revelado pela empresa. O Banco do Brasil também deverá soltar um edital para a programação dos seus centros culturais em 2013 com volume de recursos – também não informado pelo banco – similar ao de 2012.
Na Petrobras, ainda não está definido se uma nova edição do seu tradicional edital de fomento à cultura será mesmo aberto em 2013 ou se levará mais tempo para realizar uma nova edição.
Quintino Vargas, Raquel Hallak e Fernanda Hallak na abertura da Mostra de Cinema de Tiradentes de 2012
Há fatores que pesam sobre o patrocínio do ano. Por um lado, 2013 começa com um cenário melhor do que 2012, dada a expectativa de crescimento da economia entre 3% e 4% contra 1% em 2012 (apesar das muitas controvérsias se, de fato, haverá em 2013 acentuado aumento do PIB).
O ano também se inicia sem a disputa eleitoral de 2012, que chegou a afetar recursos de prefeituras para alguns eventos culturais. Mas, de outro lado, porém, é ano da Copa das Confederações e aumenta a proximidade com a Copa de 2014. Ambos poderão ampliar o foco das empresas em patrocínio do esporte em detrimento aos recursos à cultura.
“Vamos dividir o mesmo mecanismo fiscal com esporte num país que vai sediar Copa e Olimpíada, que têm grande visibilidade televisiva”, diz a produtora Raquel Hallak, diretora da Universo Produção, que realiza três festivais de cinema em Minas Gerais: Mostra CineBH, Mostra de Cinema de Tiradentes e a Mostra de Cinema de Ouro Preto.
“O governo precisa mudar os mecanismos para incentivar mais os eventos culturais. É preciso oferecer um calendário cultural porque se sabe que os turistas da Copa chegam 30 dias antes ou ficam 30 dias depois do evento. Se não trabalhar a questão cultural, perderá os investimentos feitos na infraestrutura”, diz Raquel.
Em 2012, a 6ª edição da Mostra CineBH sofreu com falta de apoio, pela concorrência com as eleições. E o festival – que é gratuito ao público – teve prejuízo. Ainda não estão fechados os patrocínios de 2013.
A Mostra de Cinema de Tiradentes, que se inicia no dia 18, dá uma ideia de um apetite das empresas em eventos culturais. A mostra é um evento já consolidado, entra em sua 16ª edição, mas seu orçamento de 2013 segue igual ao do ano anterior, em parte pela dificuldade de conseguir novas empresas de porte interessadas em apoiar o evento. Dentre os patrocinadores estão Cemig, Petrobras, AmBev, Oi, além do BNDES, que são agentes que já estavam em edições anteriores.
A produtora cultural Eveline Orth, da Orth Produções, embora esteja confiante de que o ano melhore em razão, principalmente, da expansão da atuação da empresa para o interior de Santa Catarina, Curitiba e Porto Alegre, diz que há algumas outras dificuldades para o ano que se inicia. Ela cita, por exemplo, que as empresas de energia elétrica, patrocinadoras cativas, vão sofrer com a diminuição de receita em razão da redução da tarifa de energia pelo governo federal. “Nas reuniões que fiz, escuto sempre que temos que aguardar um pouco para saber como o ano vai se desenhar”, afirma.
Um dos maiores patrocinadores culturais do país, o Banco do Brasil demonstra um certo tom de cautela em 2013. Para o gerente-executivo de projetos culturais do Banco do Brasil, Delano Valentim, “os tempos demandam mais atenção e cuidados para gastar melhor os recursos”.
Além de manter os recursos para o fomento da cultura nos seus centros culturais em 2013 similar à verba de 2012, o BB está cada vez mais interessado em incrementar o volume de empresas parceiras das programações dos centros culturais do BB (São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Belo Horizonte) a fim de maximizar os retornos, dividindo com os parceiros os investimentos.
Neste ano, por exemplo, trará a mostra do chinês Cai Guo- Qiang – “Da Vinci do Povo”, em parceria com os Correios. O artista recebeu o Leão de Ouro na 48ª Bienal de Veneza, em 1999, e é conhecido internacionalmente por seu trabalho com pólvora.