Blog TNH 1
19/04/2014
O escritor Antônio Torres, além de um mestre das palavras, é o que se pode chamar de homem gentil e cordial, um tipo cada vez mais escasso.
Entrevistei o autor de Um taxi para Viena d’Áustria e Essa Terra, dois clássicos da literatura brasileira – com tradução em vários idiomas – há alguns anos, já nem me lembro bem.
Desde então, tenho sido alvo de suas delicadezas, coisas que vão se tornando raras e caras: envia-me os livros que lança, algumas matérias sobre o seu trabalho, enfim, dá sinais vitais da sua generosa formação.
Eis que na última terça-feira, dia 15 de abril, recebo um envelope da Academia Brasileira de Letras com um convite: novo membro da ABL, Antônio Torres tomaria posse na cadeira que conquistou por méritos.
Tomaria, não – tomou. Sim, porque a solenidade para a qual fui convidado, ainda que não pudesse ir, ocorreu no dia 9 de abril, seis dias antes de ter em mãos o tal convite.
Irritado, leio a data em que foi postada no correio a correspondência: 28 de março de 2014, na Agência Itaipava, em Petrópolis. É o que está no carimbo.
Os Correios, portanto, impediram que um filho de telegrafistas – meu pai trabalhou na empresa por 36 anos – pudesse dar uma demonstração de que havia recebido uma boa educação, enviando-lhe um telegrama de congratulações e agradecimento.
Coisa simples, mas que revela urbanidade.
Infelizmente não pude fazê-lo e tive de amargar minha vergonha.
Os Correios vivem sua fase de desmoralização e destruição, esperando que em breve se agreguem à empresa a Petrobras, a Eletrobras, o IPEA, o IBGE.
Ante o silêncio cúmplice das grandes centrais sindicais, hoje alimentadas por centenas de milhões de reais dos impostos que pagamos.
Conto aqui esta mágoa na esperança de que alguém – um amigo, um parente – diga ao escritor Antônio Torres que em Alagoas mora também a gratidão.
(E, cá para nós: de que adiantaria ter enviado um telegrama, se não chegaria a tempo?)