Fundo da Trendbank tem inadimplência de 28%

Valor
24/10/2013


A forte alta na inadimplência ampliou o risco de perdas para os investidores do fundo de recebíveis (Fidc) da empresa de fomento mercantil (factoring) Trendbank. Com patrimônio de R$ 400 milhões, o fundo investe na compra de duplicatas e outros créditos detidos por empresas e pessoas físicas e fechou o mês passado com 28% dos títulos que compõem a carteira com parcelas atrasadas. Em agosto, a inadimplência era de 16,5%.


Além de atuar como consultora e gestora, a Trendbank aparece como a principal devedora do fundo, segundo relatório da Austin Rating, que faz a classificação de risco da carteira. A Planner, que atua como administradora do Fidc, fechou a carteira para aplicações e resgates e convocou os cotistas para uma assembleia, prevista para ocorrer hoje.


Procurada, a Trendbank informa que a assembleia foi convocada a pedido da empresa. “Todos os investidores do fundo são extremamente qualificados”, diz Airton Siqueira, advogado da Trendbank. Para a Planner, a deterioração da carteira reflete o momento do mercado de crédito. Questionados, nenhum dos dois informou qual a situação atual no fundo.


A seleção e venda de créditos para fundos de recebíveis se tornou uma alternativa para as factorings ampliarem a capacidade de realizar operações de antecipação de recebíveis a empresas. Para os investidores, o Fidc oferece rentabilidade mais atrativa em relação a outras aplicações de renda fixa e tem o risco atenuado pela proteção das cotas subordinadas, as primeiras a sofrerem perdas em caso de problemas.


No caso do fundo da Trendbank, a meta de rentabilidade é equivalente a 120% da taxa interfinanceira (CDI), algo próximo a 11,2% ao ano. Entre os 20 cotistas estão grandes fundos de pensão, como Petros, dos funcionários da Petrobras, e Postalis (Correios), além do banco coreano KDB, conforme documentos disponíveis na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).


Embora apresente um histórico alto de créditos vencidos em relação ao patrimônio, quase sempre superior a 10%, a Austin classificava o Fidc como ‘AA-‘, em escala nacional (considerado baixo risco). Na semana passada, a agência decidiu rebaixar a avaliação em 11 graus, para ‘B’. A nota foi mantida em observação negativa, o que indica a possibilidade de novo rebaixamento. Procurada, a agência não comentou o assunto.


Além da alta na inadimplência, o volume de cotas subordinadas ficou abaixo do limite de 20% do patrimônio exigido em regulamento. A Trendbank é a única cotista da série, cujo percentual estava em 18,9% no dia 15, segundo a Austin. Na prática, porém, o índice é ainda menor, descontando-se os créditos que o fundo detém contra a factoring.


O desempenho das cotas subordinadas já sinalizava que as dificuldades do Fidc não eram recentes. De acordo com relatório da Austin, a rentabilidade acumulada da série entre abril de 2012 e março deste ano foi negativa em mais de 40%. As cotas seniores, adquiridas pelos investidores, até o momento entregaram a rentabilidade prometida. Antes dos problemas, a empresa estava em processo de captação de uma nova série de cotas seniores e levantou R$ 35 milhões nos meses de junho e julho deste ano.


O fundo não é o primeiro da Trendbank que registra problemas. Em 2009, o Fidc Creditmix, que tinha a empresa como originadora dos créditos, apresentou perda quase total do patrimônio, que era de R$ 100 milhões. A maior parte das cotas, inclusive as subordinadas, ficou com um único investidor estrangeiro. Em setembro deste ano, o fundo tinha R$ 75 milhões em créditos vencidos há mais de 1080 dias, de acordo com dados da CVM.


A autarquia responsável pela regulação do mercado de capitais brasileiro promoveu recentemente uma série de mudanças nas regras dos fundos de recebíveis. O objetivo foi evitar situações de conflito de interesse, em que uma mesma instituição assuma vários papéis na estrutura do Fidc. As novas normas também aumentaram a responsabilidade das empresas que atuam como custodiantes e administradores das carteiras.


As alterações na regulação ocorreram após as perdas sofridas por fundos como o da factoring Union, que em 2009 deu um prejuízo estimado em R$ 800 milhões aos investidores. Mais recentemente, os Fidcs do Banco BVA deixaram de remunerar os cotistas após a intervenção e posterior liquidação da instituição.

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