Desmontando Fake News nº 14 – Resultados dos Correios

Como estamos numa luta desigual, em que a mídia reproduz informações distorcidas provenientes de órgãos do governo federal a respeito dos Correios e a própria empresa não se defende, emudecida por um direção subserviente e comprometida com o desmonte da organização, a ADCAP passará a oferecer por esse canal seu posicionamento sobre matérias que tratarem dos Correios.

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RESULTADOS DOS CORREIOS

A guerra contra a reputação dos Correios, perpetrada por órgãos e autoridades do governo federal, em associação com grupos empresariais que controlam bancos e concorrentes da empresa, continua demandando que apresentemos nova edição do “Desmontando Fake News”, desta feita novamente com relação à matéria trazida pela revista Exame, em 28/10/2020.

A matéria da revista, que pode ser lida AQUI, começa mencionando um “estudo exclusivo” realizado por técnicos do SIEST – Sistema de Informações das Estatais. De início, já se pode argumentar que, se houve um estudo exclusivo feito por órgão do governo federal para uma publicação específica, isso precisaria ser investigado, pois demonstra conduta inadmissível e eticamente condenável. No caso específico, isso fica ainda mais grave quando se percebe que se trata de uma publicação que pertence a um Banco que já teve o Ministro da Economia como um de seus sócios e que tem ligações com um grupo que controla um concorrente relevante dos Correios.

A publicação segue falando em “impasses dos Correios, que tem sido objeto de inquietação no mercado”, tentando, assim, atribuir à Empresa uma responsabilidade que é do próprio governo federal, com suas decisões desencontradas e sem base técnica, e de alguns veículos da própria imprensa, que tentam produzir notícias a qualquer custo, o que acaba, de fato, afetando negativamente o mercado.

Com relação ao cálculo de passivos dos Correios, a matéria segue apresentando números que estariam no suposto “estudo exclusivo” e tirando conclusões a partir daí. Comentaremos algumas das informações e conclusões trazidas na matéria.

Exame: Quase a metade do passivo da Empresa se refere a pendências financeiras com o Postalis.

Comentário da ADCAP: Deve ser mesmo verdade que o principal item do passivo da Empresa se refira ao Postalis. O instituto, como também acontece com os demais fundos de previdência privados de grandes estatais brasileiros, apresenta déficit a ser coberto. Nesse caso, a culpa “in eligendo” e “in vigilando” do governo federal fica cada vez mais evidente, afinal foi o governo federal quem colocou nesses fundos os dirigentes que lá estiveram e fazia parte da estrutura do governo federal o órgão de controle central que deveria fiscalizar a operação do sistema. No caso específico do Postalis, além desse fato de caráter mais geral, há ainda uma questão específica, decorrente da suspensão de pagamento de uma dívida da patrocinadora (Correios) com o instituto, a qual foi recomendada à época pelo próprio Tesouro Nacional. Esse calote deve entrar também nessa conta. O que o governo federal deveria estar fazendo com esse assunto não era tentar colocar esse passivo na conta de uma eventual privatização, mas sim buscar a recuperação dos recursos desviados, utilizando, por exemplo, a AGU para acionar os grandes responsáveis pelos prejuízos que, no caso do Postalis, são encabeçados por um grande banco internacional americano, conforme já demonstrou a CPI dos Fundos de Pensão.

Exame: O custo da atividade consumiu no ano passado 85% da receita líquida.

Comentário da ADCAP: A partir desse número a jornalista concluiu que os Correios utilizaram a maior parte de seu faturamento para pagar suas contas. Os Correios são uma empresa pública que existe para prestar um serviço público e não para produzir lucros. Assim, se a Empresa utiliza suas receitas para cobrir seus custos correntes, isso é perfeitamente normal. Ainda a se considerar que a Empresa já tem uma infraestrutura montada em todo o país, não havendo necessidade de grandes investimentos para construção dessa infraestrutura, mas sim, apenas para a manutenção (renovação de frota, mecanização de unidades de tratamento etc).

Exame: Em 2019, houve lucro líquido de 102 milhões de reais. Foi o terceiro ano de lucros, após quatro de prejuízos.

Comentário da ADCAP: A matéria incorre em erro ao afirmar que houve quatro anos de prejuízos e repete o discurso oficial que começa sempre a “contagem de resultados” a partir do primeiro ano em que os Correios registraram prejuízo na década. O quadro a seguir, com números extraídos do site dos Correios, mostra os resultados alcançados pela Empresa nos últimos dez anos. A partir do quadro, se pode ver que a Empresa acumulou saldo positivo de resultados nos últimos dez anos, mesmo considerando o período em que registrou prejuízos em seus balanços.

2010      818.966

2011      882.747

2012      1.113.287

2013      325.278

2014      9.913

2015      -2.121.238

2016      -1.489.505

2017      667.308

2018      161.049

2019      102.121

2010 a 2019       469.926

Além disso, é sempre importante lembrar que o governo federal levou nessa década mais de R$ 6 bilhões de reais de dividendos dos Correios, em valores atualizados, além de ter congelado as tarifas postais por dois anos, provocando significativo prejuízo à Empresa.

Exame: A privatização conta com o apoio de boa parte da sociedade.

Comentário da ADCAP: Apesar das declarações injuriosas de autoridades do governo federal sobre os Correios e da torcida de banqueiros e de concorrentes pela privatização da Empresa, os Correios continuam merecendo a confiança da população. O Congresso Nacional saberá levar isso em conta quando o assunto lhe chegar para deliberação.

Exame: As queixas de consumidores em relação ao serviço prestado pela estatal aumentaram este ano.

Comentário da ADCAP: A greve produzida por decisão do Presidente dos Correios, que diminuiu a remuneração dos trabalhadores em plena pandemia, certamente influiu no volume de reclamações. A situação operacional dos Correios, porém, já se encontra praticamente normalizada, o que deverá levar o nível de reclamações para patamares normais. Ou seja, o serviço dos Correios não piorou; apenas passou por uma crise criada pelo representante do governo federal no comando da estatal.

Ao tratar de resultados, seria importante sempre haver um contexto para permitir aos leitores uma avaliação adequada dos números apresentados. No caso dos Correios, os lucros registrados nos últimos 3 anos e, especialmente, o lucro de R$ 770 milhões acumulado até agosto de 2020, não mencionado na matéria, são, na verdade, indicadores que colocam a Empresa em posição destacada, muito acima da imensa maioria das demais empresas brasileiras. Quantas empresas brasileiras lucraram mais de R$ 100 milhões em 2019? Quantas lucraram mais de R$ 770 milhões em 2020, até agosto? Pouquíssimas, além de bancos. E isso numa empresa que tem a imensa responsabilidade social de estar presente em todo o território brasileiro e que não foi feita para gerar lucros, mas sim para prestar um serviço público.

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Os brasileiros merecem receber melhores informações e os devidos contrapontos ao discurso falacioso do governo. A ADCAP estará atenta às matérias que tratem dos Correios e divulgará amplamente sua opinião e suas observações a respeito. 

Direção Nacional da ADCAP.

 

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