DECISÕES ESTRATÉGICAS ERRADAS
IMPLICAM RESULTADOS DESASTROSOS
Dentre as decisões adotadas na última década pelas seguidas administrações dos Correios está a ocupação de posições técnicas e da alta gestão por indicados externos, desprofissionalizando a administração da empresa.
Em momentos exitosos da Empresa, quando inclusive recebeu o prêmio de melhor empresa promovido pela revista EXAME e ostentou o reconhecimento nacional e internacional de melhor Correio do mundo – gestão Botto de Barros – a formação dos quadros técnicos e executivos da empresa era pilar fundamental das estratégias de desenvolvimento dos Correios, então equipados com centros de treinamento e inclusive escola superior.
A formação continuada de profissionais – técnicos e executivos – que entendam da indústria postal foi a base da estruturação sólida e do desenvolvimento da ECT, inspirada no modelo militar de formação e desenvolvimento de seus quadros.
A indústria postal, com seu enorme contingente, verdadeiro exército postalista, necessita de tecnologia própria e de fundamentos de gestão que não se adquire em qualquer esquina.
A ADCAP, desde sua criação, sempre defendeu a profissionalização da gestão na Empresa.
Se, em alguns momentos da história da Empresa, inclusive sob comando de militares, a profissionalização das funções e cargos técnicos e gerenciais foi enfatizada e a organização se desenvolveu, superou barreiras e alcançou a excelência, em outros momentos, porém, a inobservância desse preceito colocou em cargos estratégicos e gerenciais pessoas despreparadas, sem vínculos e o conhecimento e a experiência necessários.
A ADCAP sempre se insurgiu contra essas práticas, tanto quando envolviam pessoas do quadro próprio promovidas meramente por razões de ordem política, quanto nas oportunidades em que pessoas de fora do quadro próprio eram trazidas para posições de assessoria superior nos Correios, também por mera indicação.
No caso de pessoal de fora do quadro próprio, a questão é mais séria, pois trata-se de uma prática inconstitucional, já que o acesso aos cargos da Empresa deve se dar exclusivamente por concurso público, conforme prevê a Constituição Federal.
Assim, a ADCAP acionou em 2014 o Ministério Público do Trabalho, que promoveu a Ação Civil Pública Nº 0000314-54.2014.5.10.0000 contra a administração dos Correios. Dessa ACP, derivaram Termos de Ajuste de Conduta, o último dos quais prevê que a Empresa elimine a figura do assessor especial a partir de 2020.
Em vez de reduzir progressivamente a quantidade de assessores especiais, para buscar o cumprimento do Termo firmado, porém, a atual direção dos Correios tem contratado mais assessores especiais, muito além do limite acordado judicialmente.
Aparentemente, a Presidência da Empresa não tem encontrado, entre os milhares de profissionais da ECT, muitos dos quais com especializações, pós-graduações, mestrados e doutorados, além de vasta experiência em temas postais, pessoas capazes de assessorar a direção.
Em vez disso, a direção tem preferido o caminho errático de trazer pessoas “amigas” para posições de assessor especial, com salários polpudos, fora da realidade da grande maioria dos empregados do quadro próprio, mesmo após muitos anos de trabalho e dedicação.
Temos, portanto, decisão estratégica que conflita e ofende a memória dos tempos de gestão militar que trilhou o caminho da profissionalização e da valorização da competência.
A escolha feita pelo atual presidente não difere da gestão dos políticos que até pouco aportavam a direção dos Correios. O que faz prova de que, independentemente do governo que chega ao poder, como se não bastassem os milhares de cargos em comissão que existem na administração direta, buscam sempre transformar também as estatais em espaços a serem ocupados por “indicados”, ignorando a Constituição Federal e as boas práticas de governança corporativa que deveriam ser seguidas à risca nessas organizações.
A ADCAP se mantém firme em suas convicções a respeito do tema, entendendo que essa prática é uma das principais razões dos problemas de gestão enfrentados pela Empresa ao longo de sua história.
A ADCAP espera que o Ministério Público do Trabalho não ceda às pressões que recebe da Empresa ou do governo para flexibilizar seu posicionamento nessa questão, afinal não foi por acaso que se colocou na Constituição Federal que o ingresso nos quadros de uma estatal deve se dar sempre pela porta da frente, que é o concurso público.
Direção Nacional da ADCAP.