Diário do Poder
27 de julho de 2014
Na tentativa de melhorar a logística de um comércio que cresceu 400% nos últimos cinco anos, o de produtos adquiridos em sites estrangeiros, os Correios pretendem instalar dois armazéns internacionais: um em Hong Kong e outro em Miami (EUA). Para a empresa, são pontos estratégicos onde já há um fluxo grande de importação e, por isso, demanda por serviços de logística. A ideia é estimular também a mão inversa, com empresas brasileiras exportando para esses mercados.
“O grosso do nosso tráfego advém do comércio eletrônico”, disse o chefe do Departamento Internacional dos Correios, Alberto de Mello Mattos, referindo-se ao serviço postal “cross border”, ou seja, entre países. A estatal, disse ele, tem interesse em incrementar as duas mãos do comércio internacional.
O armazém em Hong Kong terá, segundo explicou, duas finalidades. Por um lado, servirá de ponto de apoio para vendas de produtos brasileiros no exterior. Será possível estocar lá os produtos ofertados no mercado chinês, o que tornará mais curto o prazo de entrega ao consumidor.
Esse lado exportador, porém, ainda não existe. Precisará ser estimulado, segundo informou o diretor.
O uso mais provável é o inverso, o de facilitar o trabalho do exportador chinês para o Brasil. A ideia é que os procedimentos burocráticos de importação, como a checagem de documentos e a tributação, seja feita antes de a mercadoria ser embarcada para cá.
Isso deverá encurtar um pouco o tempo de espera do consumidor brasileiro, em alguns casos. Não acontecerá, por exemplo, de um produto chinês viajar ao Brasil para só então se descobrir que faltam documentos, ou que se trata de um produto com entrada proibida.
Impostos. Porém, entre os procedimentos burocráticos a serem antecipados, está o pagamento de impostos. Assim, as pessoas que hoje compram na China pagando uma fração do que é cobrado nas lojas brasileiras deixarão de ter uma vantagem tão grande. Ao contrário do que se pensa, as compras no exterior são, como regra geral, tributadas – independentemente do valor. Isso não é feito hoje por falta de estrutura do governo. As fiscalizações ocorrem por amostragem.
“Vamos universalizar o tratamento aduaneiro”, disse o diretor. Hoje, admite ele, “vale a pena o risco” de comprar no exterior pela internet, porque poucas mercadorias pagam impostos para ingressar no País. Mas isso deverá mudar.
Um memorando de entendimentos assinado há cerca de dez dias com a gigante chinesa do comércio eletrônico Alibaba prevê que uma série de informações sobre as compras dos brasileiros serão transmitidas para o governo por meio eletrônico. Assim, a fiscalização poderá começar antes mesmo de o produto chegar aqui. A médio prazo, disse Mattos, a ideia é que o Alibaba cobre os impostos e taxas de serviços no ato da compra, como já ocorre em alguns sites americanos.
“Esse memorando de entendimentos é uma forma de dar passos para facilitar que empresas e pessoas no Brasil tenham acesso às nossas várias plataformas”, informou o grupo Alibaba. Em dezembro do ano passado, eles tinham 2 milhões de usuários cadastrados no Brasil – o que representou um crescimento de 200% sobre o ano anterior. Os clientes brasileiros, informou o grupo, estão entre os mais ativos de sua base.
EUA. Também com o armazém em Miami, a ideia dos Correios é aumentar a venda de serviços de logística. “Lá, tem um grande potencial para aumentar o fluxo, mas temos de eliminar alguns gargalos”, disse Mattos. Hoje, explicou ele, alguns sites americanos não vendem para o Brasil por problemas de logística reversa. Eles não querem arcar com o custo de levar a mercadoria de volta para os Estados Unidos, caso o consumidor brasileiro não concorde em pagar os impostos aqui.
O armazém, disse Mattos, funcionará como um endereço americano para ser usado por brasileiros.