Como se destrói uma estatal de referência

O juízo comum no Brasil é de que o serviço público é ineficiente, burocrático e de baixa qualidade, vide os serviços de saúde, educação, segurança pública. Mas, existem exceções! Dentre elas, uma sempre reconhecida exceção são os Correios. 

O serviço público ineficiente e desacreditado nas primeiras décadas do século passado, a cargo do antigo e falido Departamento de Correios e Telégrafos – DCT, onde o empreguismo e a desordem  dominavam, sofreu uma recuperação memorável com a criação da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos ECT, passando a ser referência no cenário nacional e internacional  por sua  qualidade e  excelência.

Qual o milagre que se operou? Numa palavra: profissionalização

A atividade postal passou a ser compreendida como uma indústria que possui características próprias, distintivas de outros setores da economia. O entendimento de que a base da eficiência da empresa reside em sua força de trabalho provocou e acelerou um investimento na formação, capacitação e desenvolvimento de recursos humanos qualificados para essa atividade.

O empreguismo foi eliminado e milhares de trabalhadores selecionados em concursos públicos foram preparados para desenvolver essa específica e grandiosa indústria.

Lamentavelmente, hoje parece que o atual VIGEP redescobriu o método de seleção do antigo DCT, ressuscitando, de modo deliberado e determinado, aquele empreguismo que dominava os quadros de pessoal dos Correios. 

Assim tem sido a escolha de diversos Diretores e gestores regionais que passaram a ocupar posições de liderança na empresa, para as quais antes se exigia concurso público específico, formação acadêmica mais rigorosa e experiência profissional comprovada. A atual e deliberada prática de concessão de funções prioriza o critério de alinhamento político-partidário independentemente de condição técnica, ou seja, retornamos ao empreguismo, uma maneira sórdida de multiplicar salários de companheiros de partido.

Através desta prática já foram contratados especialistas em gestão ambiental, educação secundária e previdenciária e dentistas, cuja formação não demonstra qualquer relação com as necessidades da atividade postal.

Novamente, não há como não nos reportarmos ao falido DCT, que deixou de herança para a ECT cerca de 17 mil funcionários pagos mas que não trabalhavam porque suas habilitações não permitiam. Eram açougueiros, foguistas, maquinistas, garçons que não tinham o que fazer numa empresa de serviços.

O resumo dessa farra não é difícil de observar: perda assustadora da qualidade de serviços, aumento exponencial de reclamações dos clientes, sobrecarga de trabalho, ambiente de trabalho inseguro, serviço médico descontrolado, fundo de pensão quase falido e prejuízos consideráveis e crescentes nas contas dos Correios, que talvez nem a “contabilidade criativa” seja capaz de escamotear. 

A empresa capitalizada e lucrativa que o VIGEP recebeu quando aqui chegou em 2010,  que nunca dependeu de recursos do Governo Federal, mas que sempre pagou expressivos dividendos e impostos, hoje está bem diferente  e mal se sustenta.

Se não fosse uma estatal, talvez se preparasse agora para abrir falência nos próximos meses.

E muitos outros resultados negativos ainda poderiam ser contabilizados como realizações do VIGEP: a desmotivação dos empregados, o aumento de doenças ocupacionais, a falta de perspectiva de carreira, etc. Falta competência até para realizar um concurso público.

E, ao final desse processo de retrocesso empresarial, talvez ainda ouçamos do VIGEP que a culpa desse quadro triste é dos trabalhadores. 

Não é mesmo! A realidade está aí para mostrar!

 

Direção Nacional da ADCAP.

 

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