Folha SP
26/06/2014
Conhecido por fazer investimentos duvidosos, que causaram um rombo de R$ 935 milhões em suas contas, o fundo de pensão Postalis (dos funcionários dos Correios) já apostou R$ 295 milhões em projetos ligados à criação de uma Bolsa de Valores, tocado pelo investidor Arthur Pinheiro Machado.
No início deste mês, o investidor entrou numa disputa societária que colocou em risco um quarto do dinheiro que o Postalis investiu com ele, segundo o próprio Machado afirma numa das ações encaminhadas à Justiça.
No centro da disputa estão os R$ 72 milhões que o fundo de pensão investiu, dois anos atrás, numa empresa de Machado. Com esse dinheiro, ele se tornou sócio da Risk Office, firma do empresário Marcos Jacobsen especializada na avaliação de risco de investimentos e que tem grandes bancos e fundos de pensão como clientes.
O Postalis é o maior fundo de pensão do país em número de participantes, com 140 mil pessoas. Também é um dos maiores em investimentos, com R$ 7,9 bilhões em carteira. Mas tem um histórico manchado por aplicações em bancos como BVA e Cruzeiro do Sul, que quebraram.
Machado e Jacobsen têm larga experiência no mercado financeiro -e também contam com problemas no currículo. Alto executivo do antigo Bamerindus, banco em processo de liquidação há 16 anos, Jacobsen foi condenado a três anos e meio por crime contra o sistema financeiro. A punição prescreveu sem que ele cumprisse a pena.
Machado, ex-sócio da corretora Ágora, teve problemas com a CVM (Comissão de Valores Mobiliário). Acusado de irregularidades numa operação com ações em 2000, foi punido com uma multa de R$ 200 mil, mas recorreu. O processo continua em curso.
BRIGA
A sociedade entre eles não deu certo. Agora, Machado afirma na Justiça de São Paulo ter sido enganado por Jacobsen numa série de questões. Por isso, quer desfazer a sociedade e pede o dinheiro investido na Risk Office de volta para pagar o Postalis.
Jacobsen se recusa a devolver o dinheiro. Afirma que, ao se tornar sócio, Machado aceitou o risco do negócio e que o compromisso com o Postalis é de Machado, e não da Risk Office. Diz ainda que, caso queira sair da empresa, que procure um comprador para suas ações.
Jacobsen também foi à Justiça e, na sua ação, afirma que Machado está criando uma confusão com a intenção oculta de tomar o controle de sua empresa.
Se isso acontecesse, ele ficaria também com o comando de um projeto que os dois estavam montando: uma “clearing”, nome das empresas que fazem o acerto de contas dos negócios feitos nas Bolsas. Em caso de calote, é ela que paga a conta.
Sem uma “clearing”, não existe Bolsa. Por isso, os dois estão brigando pela empresa. Segundo advogados que acompanham o caso, Jacobsen enxergou na operação uma mina de ouro, enquanto Machado precisa dela para colocar o projeto da nova Bolsa em pé –que conta ainda com a Bolsa de Nova York como sócia.
MAIS DINHEIRO
Em sua ação, Machado afirma que Jacobsen não é quem ele pensava. Teria inflado os números da Risk Office para atrai-lo como sócio, teria gasto R$ 26 milhões sem dar satisfações e escondido sua condenação do tempo do Bamerindus –tudo negado pelos advogados de Jacobsen.
Machado e Jacobsen não deram entrevista, mas colocaram seus advogados para dar explicações.
O Postalis afirma desconhecer a disputa judicial entre eles. Sobre os investimentos nas empresas de Machado, o fundo afirma que o relacionamento com ele “é institucional e precede o mandato da atual diretoria”.
Além do dinheiro que foi parar na Risk Office, o Postalis colocou R$ 223,5 milhões no projeto da nova Bolsa. No momento, o fundo de pensão negocia um novo investimento, de R$ 58 milhões.
“O Postalis acredita que uma nova Bolsa poderá atrair mais empresas para o mercado de ações, contribuindo para o fortalecimento da economia”, afirmou o fundo, por meio de nota.