A impossível privatização dos Correios
Em sua coluna, Paulo Tedesco discorre sobre a privatização dos Correios e questiona: ‘Será que, uma vez privatizado os Correios, haverá alguma verdadeira política de incentivo ao livro?’
27/08/2021
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A privatização dos serviços públicos foi assunto que infernizou minha juventude. O arauto da coisa toda, Antônio Britto, assumia o governo do estado do Rio Grande do Sul e prometia liquidar o que pudesse do bem público. Ele era o “querido” das grandes mídias e tido como salvador das finanças públicas gaúchas. Em seu único governo de quatro anos conseguiu pedagiar quase todas as estradas e privatizar muita coisa boa. Só não se reelegeu graças à aparição de um cheque de milhares de reais para, justamente, uma empresa ganhadora de um dos processos de privatização.
Tinha eu meus 25 anos e, recordo com clareza, do absurdo ao ver um pedágio caríssimo na divisa de Caxias do Sul e Farroupilha. Como eram os primeiros tempos de vendedor de livros na Livraria do Jurista, isso pesou nos custos de viagem entre a minha cidade, Caxias, e todas as demais cidades da região, como Bento Gonçalves e Garibaldi, onde vendia e atendia advogados e todo o pessoal do meio jurídico com regularidade, sempre carregando minha mala de seus 30 quilos.
Mas eram outros tempos, talvez mais tolerantes, e pela idade, a mim tudo parecia maior e mais dificultoso. No fim, aguentei o aumento, claro, com boa revolta, mas os espertos cidadãos caxienses não demoraram a criar uma rota alternativa, que chegou a ser calçada com paralelepípedos pela própria prefeitura, aumentando um pouco o percurso e dispensando totalmente o tal pedágio, que chegou a ficar vazio nos primeiros dias da rota nova.
Hoje, numa situação diferente daquela época, com família e tudo aquilo que o cidadão brasileiro sabe da vida neste país, é que surgem as perguntas, inarredáveis: será que conseguiremos criar uma rota alternativa ao nosso querido, muito estimado e muito lucrativo Correios, depois de privatizado? Será que conseguiremos enviar um livro de 150 gramas, que custa R$ 20, de Caxias do Sul para Xapuri no Acre por R$ 8,50 de custo de envio, em, no máximo, 30 dias, e com número de rastreio verificável? Será que, uma vez privatizado os Correios, haverá alguma verdadeira política de incentivo ao livro? Esse indispensável bem do conhecimento e que dispensa energia para ser consumido?
Se o poder público está patinando em suas atribuições, ou mesmo precisando ampliar e aprimorar algo que lhe é exclusivo, nada mais justo do que estabelecer privatizações e parcerias privadas. Vide o caso, nos EUA, em que podemos optar por estradas pedagiadas ou não, em determinados estados da federação. Nada mais justo, portanto, do que imaginar que tudo talvez ainda possa se arrumar de forma positiva no nosso país.
Mas guardo a grande dúvida para o fim, ansioso por boas respostas: numa nação continental, sem estradas em muitas das localidades, sem infraestrutura urbana em outras, sem ambiente seguro de trafegabilidade em vários dos CEPs, e por aí vai, alguma empresa privada terá a coragem de entregar um livro de R$ 20 a R$ 8,50 de custos de frete, e ainda ter algum lucro? Ou será que, depois da privatização, como no caso do Antônio Brito, descobriremos o absurdo cometido em nome de uma pobre e irresponsável política?
Cidades de Minas se posicionam contra privatização dos Correios
ADCAP Minas divulgou a lista completa das cidades que já se manifestaram contra a venda dos correios. Manifestações já reúnem mais de 9,7 milhões de pessoas.
Jornal Voz Ativa
24/08/2021
Na última semana, mais duas cidades de Minas se manifestaram contra venda da empresa pública. Vermelho Novo, localizada na região da Zona da Mata de MG, aprovou na última quarta-feira (18/08), iniciativa contra a privatização dos Correios, votada pela Câmara Municipal. Por meio de uma moção de repúdio, os vereadores da cidade disseram um ‘não’ à venda dos Correios. A moção teve autoria da vereadora Maria Aparecida Santos Luiz Lopes (PT).
Já na quinta-feira (19/08), foi a vez de Cuparaque, localizada no Vale do Rio Doce, apreciar iniciativa no mesmo sentido. A proposição de autoria da vereadora Vanuza Rodrigues Mainette (Podemos) foi aprovada por unanimidade. Com isso, Vermelho Novo e Cuparaque tornaram-se as cidades de números 135 e 136 no estado a se manifestarem em defesa dos Correios.
Os 136 municípios mineiros que já se manifestaram em defesa da estatal reúnem uma população de mais de 9,76 milhões pessoas, segundo dados do último censo do IBGE. O número é quase a metade de todos os moradores de Minas Gerais (20,87 milhões). Na lista de cidades que já se manifestaram contra a privatização dos Correios, há localidades de todos os tamanhos – pequenos, médios e grandes centros urbanos. A relação inclui, entre outros municípios: a capital do estado, Belo Horizonte, Alfenas, Almenara, Araguari, Augusto de Lima, Barbacena, Betim, Buenópolis, Caeté, Contagem, Coronel Fabriciano, Ipatinga, Itabira, Manhuaçu, Montes Claros, Ouro Preto, Poços de Caldas, Pouso Alegre, Varginha, Viçosa.
Ao serem aprovadas, as moções são enviadas às autoridades do Congresso Nacional e do Executivo Federal. A lista completa das cidades que já se manifestaram contra a venda dos Correios está disponível no site da Associação dos Profissionais dos Correios Regional Minas Gerais (ADCAP Minas).
No site da Associação, também é possível conferir quem são os vereadores autores das iniciativas. Conheça também o Mapa das Moções – mapa interativo com os municípios mineiros que já disseram ‘não’ à privatização dos Correios.
Universalização dos serviços postais
Em 96% dos países do mundo, a gestão do serviço de correios é pública. Principalmente nas nações de dimensões continentais e nas maiores economias globais, as empresas de correio são do governo, como acontece no Canadá, China, EUA e Rússia. A principal razão para tanto é a universalização.
Aqui no Brasil, por exemplo, somente os Correios garantem acesso a certas oportunidades e serviços, principalmente para os pequenos e médios empreendedores. A empresa pública integra economicamente diversas regiões do território nacional, pois na maior parte dos municípios do País (60% do total), só há como representação do governo federal uma agência dos Correios.
Cidades de MG contra a privatização dos Correios reúnem mais de 9,7 milhões de pessoas
Gazeta de Varginha
Na última semana, mais duas cidades de Minas se manifestaram contra venda da empresa pública. Vermelho Novo, localizada na região da Zona da Mata de MG, aprovou na última quarta-feira (18/08), iniciativa contra a privatização dos Correios, votada pela Câmara Municipal. Por meio de uma moção de repúdio, os vereadores da cidade disseram um ‘não’ à venda dos Correios.
A moção teve autoria da vereadora Maria Aparecida Santos Luiz Lopes (PT). Já na quinta-feira (19/08), foi a vez de Cuparaque, localizada no Vale do Rio Doce, apreciar iniciativa no mesmo sentido. A proposição de autoria da vereadora Vanuza Rodrigues Mainette (Podemos) foi aprovada por unanimidade. Com isso, Vermelho Novo e Cuparaque tornaram-se as cidades de números 135 e 136 no estado a se manifestarem em defesa dos Correios. Os 136 municípios mineiros que já se manifestaram em defesa da estatal reúnem uma população de mais de 9,76 milhões pessoas, segundo dados do último censo do IBGE. O número é quase a metade de todos os moradores de Minas Gerais (20,87 milhões).
Na lista de cidades que já se manifestaram contra a privatização dos Correios, há localidades de todos os tamanhos – pequenos, médios e grandes centros urbanos. A relação inclui, entre outros municípios: a capital do estado, Belo Horizonte, Alfenas, Almenara, Araguari, Augusto de Lima, Barbacena, Betim, Buenópolis, Caeté, Contagem, Coronel Fabriciano, Ipatinga, Itabira, Manhuaçu, Montes Claros, Ouro Preto, Poços de Caldas, Pouso Alegre, Varginha, Viçosa. Ao serem aprovadas, as moções são enviadas às autoridades do Congresso Nacional e do Executivo Federal.
A lista completa das cidades que já se manifestaram contra a venda dos Correios está disponível no site da Associação dos Profissionais dos Correios Regional Minas Gerais (ADCAP Minas). No site da Associação, também é possível conferir quem são os vereadores autores das iniciativas. Conheça também o Mapa das Moções – mapa interativo com os municípios mineiros que já disseram ‘não’ à privatização dos Correios.
O passivo dos Correios
Revista Cruzué
27/08/2021
Estimativa do balanço dos Correios
Uma das jóias do atrasado programa de privatizações do governo, os Correios guardam a sete chaves um relatório interno que estima em 25,1 bilhões de reais o passivo potencial da estatal com processos judiciais e administrativos – uma bomba capaz de assustar qualquer interessado em arrematar a empresa.
A cifra inclui ações já julgadas e ainda em curso. A maior parte do valor, 22,7 bilhões, envolve processos ainda sem sentença. Há meses, a direção dos Correios pressiona as áreas jurídica e financeira para não tornar os números públicos, justamente para não afugentar possíveis compradores.
Em nota, os Correios trataram de minimizar a importância do relatório, dizendo que “todos os aspectos relevantes da posição patrimonial e financeira” da estatal estão registrados no balanço de 2020 – nele, só estão considerados os valores relativos aos processos já perdidos. Com informações da Revista Cruzué.
Direção Nacional da ADCAP.