Época Negócios
23/05/2014
Os Correios gastaram R$ 390 mil para criar uma nova logomarca, como parte de um projeto de “revitalização”. A estampa em azul e amarelo, a ser aplicada em envelopes, letreiros e veículos em todo o Brasil, é semelhante a desenho lançado, meses antes, por uma empresa do Espírito Santo, o que inspirou a polêmica nas redes sociais: afinal, é cópia ou não?
A nova identidade visual dos Correios foi apresentada no início do mês e registrada no fim de janeiro no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Trata-se de duas setas associadas, uma amarela e outra azul, cada uma indicando um sentido, o que evoca o incansável vaivém dos funcionários que distribuem encomendas país afora. Nas palavras da estatal, algo que simboliza sua “poderosa capacidade de conectar pessoas.” O projeto completo, incluindo divulgação e troca de letreiros, custará R$ 42 milhões.
Em agosto do ano passado, a Polimix Distribuidora – empresa do ramo atacadista com sede em Serra (ES) e aberta em 2012 – lançou sua logo: setas bem parecidas, que podem ser brancas ou azuis, com os cantos menos arredondados. O desenho foi feito pela empresa capixaba Life Brand, a custo bem mais módico: R$ 8 mil. “É um projeto mediano, em termos de complexidade e valor”, avalia o sócio e diretor de criação da empresa, Igor Franzotti.
Bastou os Correios mostrarem sua nova “cara” num evento em Brasília para a semelhança virar assunto na internet e entre especialistas em design. A Life Brand trata o caso como uma coincidência e diz que não há motivo para questionamentos sobre plágio na Justiça. “A gente não vai recorrer legalmente a um direito sobre isso. Por ser uma marca gráfica muito genérica – duas setas -, acho difícil afirmar que foi uma cópia. Não acredito que foi intencional”, justifica Franzotti.
Ele diz que, no mercado de comunicação, é possível encontrar outros trabalhos parecidos. Mas acha que faltou “método” por parte da estatal. “(A gente) Lamenta, porque uma marca como os Correios, que tem uma relevância de expressão nacional, poderia ter tido um pouco mais de cuidado para que isso não acontecesse”, afirma, acrescentando que o logo poderia ter sido “mais bem elaborado”.
Os Correios alegam que o conceito de sua nova marca é o mesmo da anterior, que existe desde 1970 e foi simplificada. Segundo a estatal, as setas já estavam no desenho mais antigo, como elemento central. Para desenvolver a nova identidade visual, foi contratada a CDA Branding & Design. Segundo a estatal, pelos R$ 390 mil, a empresa definiu a “estratégia e a arquitetura de marcas”, além de fazer workshops com o público interno para disseminar as mudanças.
Mas os gastos vão muito além. A campanha de divulgação vai consumir R$ 30 milhões e a troca dos letreiros das agências, R$ 9,9 milhões. Mais R$ 1,7 milhão vão para a substituição nos veículos da empresas.
Os Correios informam que a nova marca é “parte indissociável” do seu processo de revitalização, iniciado em 2011, quando a empresa foi autorizada por lei a prestar serviços postais eletrônicos, financeiros e de logística integrada, além de ser dotada de “ferramentas mais modernas de gestão corporativa”. A reportagem não localizou representantes da Polimix.