Valor
29/01/2014
Os investidores do fundo de recebíveis da factoring Trendbank começaram a sofrer perdas após a escalada na inadimplência dos créditos que compõem a carteira. O índice de atrasos já supera o patrimônio líquido, que era de R$ 251,2 milhões em dezembro, bem abaixo dos R$ 400 milhões que chegou a reunir antes da alta nos calotes.
O fundo de recebíveis, também conhecido pela sigla Fidc, da Trendbank investe na compra de duplicatas e outros créditos detidos por empresas e pessoas físicas. Em apenas quatro meses, o patrimônio das cotas subordinadas, as primeiras a sofrerem eventuais perdas, saiu de R$ 83 milhões para zero. A factoring era a única investidora dessa classe de cotas.
A proteção das subordinadas, porém, não foi suficiente para impedir que os problemas do Fidc respingassem nas cotas seniores, que registraram perdas da ordem de 17% em dezembro, já considerando a amortização realizada no mês passado. Entre os cotistas estão grandes fundos de pensão, como Petros (Petrobras) e Postalis (Correios), institutos de previdência e Estados e municípios, além do banco coreano KDB.
Até novembro passado, a Trendbank atuava como consultora e gestora e aparecia como a principal devedora do fundo. Em assembleia, os cotistas decidiram substituir a factoring na gestão pela empresa Evocati. A nova gestora contou com voto da própria Trendbank na assembleia.
O fundo contava com índice de atrasos considerado alto, na casa de dois dígitos. Mas a situação piorou a partir de setembro passado, quando os créditos inadimplentes saltaram de 16,5% para 28% do patrimônio líquido. No mês seguinte, a agência de risco Austin Rating, que classificava o Fidc como “AA-” (risco muito baixo) rebaixou a nota em 11 níveis, para “B” (risco alto).
Em outubro, a Planner, que atua como administradora do produto, fechou a carteira para aplicações e resgates. O fundo parou de fazer novas operações e se concentrará na recuperação dos créditos existentes, segundo Arthur Martins Figueiredo, diretor da Planner. “O que entrar no caixa será usado para amortizar as cotas”, afirma.
A Evocati, nova gestora do Fidc, informou que contratou uma auditoria (“due diligence”) de lastro e legal dos créditos que compõem o fundo. “Assim, poderemos fazer um retrato exato da carteira e implantar nossa política de recuperação de crédito inadimplente”, disse a gestora, em nota.
O fundo não é o primeiro da Trendbank que registra problemas. Em 2009, o Fidc Creditmix, que tinha a empresa como originadora dos créditos, apresentou perda quase total do patrimônio, que era de R$ 100 milhões. No mês passado, o fundo tinha 100% dos créditos, ou R$ 75 milhões, vencidos há mais de três anos, de acordo com dados da CVM.
A seleção e venda de créditos para fundos se tornou uma alternativa para as factorings ampliarem a capacidade de realizar operações de antecipação de recebíveis a empresas, a maioria de pequeno e médio porte. Para os investidores, o Fidc oferece rentabilidade mais atrativa em relação a outras aplicações de renda fixa e tem o risco atenuado pelas cotas subordinadas, desde que a inadimplência se mantenha sob controle.