Em resposta ao artigo do jornalista Celso Mingi, o Presidente da ADCAP enviou carta que mereceu atenção do articulista e assim foi divulgada no Jornal Estado de São Paulo, edição de 19/09/2025:
Outra vez, a bancarrota dos Correios
Em 2020, o BNDES promoveu amplo estudo para recuperação dos Correios; mas conclusões não saíram do papel
Estadão
19/09/2025
Aqui vão os principais trechos da carta à Coluna do presidente da Associação dos Profissionais dos Correios (Adcap), Roberval Borges Corrêa , sobre a situação calamitosa dos Correios publicada neste espaço no dia 12 de setembro:
“A tese de que os Correios ficaram com um negócio perdedor é um mito. O mercado de cartas está em declínio, sim, mas o de encomendas, o filé do setor, está em expansão. Empresas como Amazon, FedEx e DHL prosperam porque investem em tecnologia e logística para entregas rápidas e eficientes.
“Os Correios por anos foram dirigidos por gestores que não tinham a competência nem a liberdade para fazer os investimentos e as reestruturações. O sucateamento dos Correios não foi causado pela internet, mas pela ausência de um plano estratégico para monetizar a maior infraestrutura logística do País no século XXI. O problema do Sedex não é demanda, mas f alta de profissionalismo que garanta eficiência nas entregas.
“A empresa não precisa ser privatizada para ser eficiente. Ela precisa, sim, de uma diretoria que entenda de logística e priorize a modernização, que invista em tecnologia para melhorar o rastreamento, a automação e a otimização de rotas. O potencial da empresa está na capilaridade de suas agências, em seu conhecimento geográfico, e na sua marca que tem a confiança dos brasileiros.
“Os recentes investimentos dos concorrentes levarão anos para se equiparar ao patrimônio construído pelos Correios. Somente em patrimônio imobiliário, fundamental para a instalação dos Centros de Distribuição (CDs), os Correios possuem mais de R$ 40 bilhões, além de uma infraestrutura de transporte interligando todo esse ativo. Este é um ativo estratégico que, sob uma gestão profissional, seria a alavanca para a liderança do mercado de logística.
“A solução para o rombo dos Correios não é ideológica, mas pragmática. É preciso resgatar a empresa da inércia, e não entregá-la a quem busca apenas o lucro, ignorando sua função social. O caminho para a recuperação dos Correios passa por um plano arrojado, que capitalize sobre os ativos da empresa e a posicione como a grande líder do e-commerce no Brasil.
Condições que o presidente da Adcap não levou em conta:
1. Não é verdade que faltou plano estratégico aos Correios. Em 2020, o BNDES promoveu amplo estudo para recuperação dos Correios. Mas suas conclusões não saíram do papel.
2. A falta de administrações profissionais é um problema que só pode ser revertido com um esquema de PPI (Programa de Parcerias de Investimentos) ou de privatização. Sem esse passo, as administrações, sempre de caráter político, continuarão curtoprazistas, de olho nas eleições seguintes, como têm sido.
3. Não basta um tapa de socorro imediato providenciado pelo Tesouro. A recuperação dos Correios exigiria mais de R$ 50 bilhões e isso as condições do setor público não permitem.
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Em atenção aos questionamentos finais do jornalista, o Presidente da ADCAP enviou a seguinte carta:
Carta ao Editor: A Necessária Profundidade do Debate sobre os Correios
Por Roberval Borges Corrêa
Presidente da Associação dos Profissionais dos Correios (ADCAP)
Prezado Jornalista Celso Ming (Estadão),
Primeiramente, gostaríamos de expressar nossa gratidão pela atenção e pela deferência em publicar trechos de nossa carta em sua coluna. É um gesto que demonstra a relevância do debate sobre o futuro de uma instituição tão fundamental para o país como os Correios. Aproveitamos a oportunidade para, de forma respeitosa, aprofundar alguns pontos trazidos em sua última análise.
Quando nos referimos à ausência de um Plano Estratégico, não nos referimos, como o senhor apontou, à falta de um documento ou estudo com esse título. De fato, o estudo do BNDES de 2020 é um exemplo de esforço de planejamento que, infelizmente, não saiu do papel. Nossa crítica se dirige, justamente, à ausência de um plano estratégico implementado, com a disciplina e a continuidade necessárias para orientar e desenvolver a empresa. É essa ausência de ação, e não de um documento, que tem sido o fator-chave para a deterioração da companhia.
O senhor também argumenta que a falta de administrações profissionais só pode ser revertida com um esquema de Parcerias Público-Privadas (PPI) ou de privatização. Discordamos, e a própria história do Correio brasileiro nos dá o melhor contra-argumento. Em tempos não tão distantes, os Correios serviram de modelo para outras administrações postais mundo a fora, foram destaque em inovação no segmento, e reconhecidos como exemplo de resultados econômicos-financeiros, graças, principalmente, ao profissionalismo e à dedicação de seu corpo técnico e de suas diretorias. O caminho da privatização pode parecer mais curto para alguns, mas não é o único nem o melhor. Ele tem seu próprio custo social, econômico e estratégico para a sociedade e o País, com risco de abandono do serviço universal em regiões remotas e de perda de um ativo estratégico para o desenvolvimento econômico e social para os brasileiros.
Por fim, a questão do valor de um eventual aporte. O senhor sugere que a recuperação dos Correios exigiria mais de R$ 50 bilhões, um montante que o setor público não teria como prover. Com todo o respeito, esse valor nos parece exagerado, distante da necessidade de alavancagem dos negócios geridos pelos Correios. Acreditamos que a nova direção da empresa, com os ajustes financeiros necessários no curto prazo, utilizando-se das parcerias já em funcionamento – são mais de 2.000 pequenos franqueados estruturais e operando em todas as principais cidades – desenvolvendo novas parcerias estratégicas, apoiadas na força da marca Correios e na sua ampla estrutura operacional, será capaz de colocar em prática as ações necessárias para manter sua independência de recursos do Tesouro no futuro.
Debater saídas para a situação de desequilíbrio configurada é muito importante, pois os Correios não são apenas uma empresa, mas um patrimônio do povo brasileiro.
Agradecemos o espaço para contribuir com esse debate e, mais uma vez, nos colocamos à disposição para aprofundá-lo.