O aparelhamento político nas estatais é inaceitável e destrutivo

O aparelhamento político nas estatais é inaceitável e destrutivo

 

Nos últimos dias lemos na mídia diversos posicionamentos a respeito da ausência de valorização de méritos profissionais nas estatais, fazendo por vezes um paralelo com a deterioração da gestão nas empresas públicas, como por exemplo, nos artigos de Mailson da Nóbrega, em 15/02/2018: https://veja.abril.com.br/blog/mailson-da-nobrega/e-preciso-limitar-indicacoes-politicas-para-cargos-no-governo/ e de Nelson Mota, em coluna de 23/02/2018: https://oglobo.globo.com/opiniao/a-desonra-do-merito-22423792

Em contrapartida, vimos o Governo Federal, em entrevista concedida ao veículo “O Globo”, em 14/2/2018, pelo Sr. Secretário de Coordenação e Governança das Empresas Estatais: https://oglobo.globo.com/economia/secretario-de-empresas-estatais-nao-ve-problemas-nas-indicacoes-politicas-eu-sou-um-indicado-22395088 , vindo a público para tratar como absolutamente normal o apadrinhamento e indicações políticas nas posições de gestão nas estatais.

Justamente o acionista, que deveria ser o principal interessado em assegurar a eficiência do setor público e reverter o déficit nas estatais comprometidas financeiramente, desconsidera os malefícios e o efeito nocivo da ausência da profissionalização dos gestores e do aumento das indicações políticas nas empresas públicas e trata o assunto como se fosse um procedimento “normal” e benéfico para a “boa gestão” das empresas públicas

Em nossa opinião, isso é um paradoxo, pois é de conhecimento de todos que na maioria das vezes os indicados para cargos em comissão são escolhidos sem possuírem a qualificação e a experiência necessárias para assumir posições relevantes na gestão de empresas de grande complexidade, como é o caso dos Correios, uma empresa gigante, com mais de 100.000 empregados e com um orçamento d R$ 20 bilhões de reais/ano.

Não precisa ser muito sagaz para perceber, por exemplo, o absurdo que é a contratação, por indicação de um partido político ou de um Dirigente, de um profissional recém-saído da faculdade, apenas com um curso de graduação, e sem qualquer experiência na gestão para atuar como Assessor Especial nos Correios, recebendo uma remuneração em torno de R$ 20.000,00 com a atribuição de “dar consultoria” e apoiar processos estratégicos e relevantes para a empresa, sendo desconsiderados milhares de empregados do quadro próprio com a qualificação profissional necessária para ocupar essas posições, bastando que, para isso, estes fossem selecionados internamente ou até mesmo por meio de Consultorias especializadas, como citou Mailson da Nóbrega em seu artigo.

Coincidentemente, ao passo em que, na última década, se propagou nas Estatais e também nos Correios a cultura do aparelhamento político em detrimento da meritocracia, vemos a derrocada da qualidade dos serviços prestados e o agravamento da situação econômico financeira da Empresa, notadamente de 2012 para os dias atuais.

E, ainda assim, diante de um cenário extremamente complexo, que exige maior preparo e qualificação profissional, ao invés de priorizar a competência e o foco em resultados da gestão, o que vemos é o acionista (Governo Federal) defender a manutenção dessa cultura do aparelhamento político e a leniência dos órgãos de controle, que se mantém distantes dessa problemática, manifestando ocasionalmente sobre um ou outro caso.

A ADCAP sempre defendeu e mais uma vez se junta àqueles que defendem o resgate da meritocracia nas Estatais, pois não é e nem nunca será considerado “normal” para nós a indicação política de profissionais sem as competências necessárias para gerir uma empresa do porte dos Correios, principalmente num momento de crise. Precisamos de dirigentes e gestores que tenham capacidade para reverter a situação complexa em que a empresa se encontra, justamente por falta de direção e de gestão eficazes nos últimos anos e isso só será possível com a restituição da meritocracia nos Correios.

Não é com políticos disfarçados de gestores que a empresa irá recuperar os prejuízos e tornar-se superavitária. Isso só acontecerá se tivermos lideranças competentes, comprometidas com a sustentabilidade da empresa, com os clientes, com os trabalhadores e com a sociedade e que não tenham, apenas, a preocupação com os interesses pessoais, do partido ou do padrinho político que os indicou!

A continuidade do aparelhamento político nas Estatais não é normal, como querem fazer parecer. Muito pelo contrário, é inaceitável e destrutiva!

Direção Nacional da ADCAP.

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