Na última sexta-feira, 11/09 o Estadão publicou a seguinte matéria:
Os Correios, de rombo em rombo
Correios são uma estrutura em processo rápido de sucateamento; a cada trimestre, os administradores da empresa arranjam explicações estapafúrdias para os resultados decepcionantes
Estadão
11/09/2025
O prejuízo dos Correios apenas no primeiro semestre deste ano soma R$ 4,4 bilhões. Pode alcançar R$ 8 bilhões ao longo de todo este ano.
Agora, compare: A construção do túnel Santos-Guarujá, em discussão há mais de cem anos, prevê um aporte público de R$ 5,14 bilhões.
Ou seja, se for confirmado, o rombo deste ano dos Correios corresponderá a mais de uma vez e meia um túnel Santos-Guarujá.
Os Correios são uma estrutura em processo rápido de sucateamento. A cada trimestre, os administradores da empresa arranjam explicações estapafúrdias para os resultados decepcionantes. Ou é a redução das importações das assim chamadas “blusinhas”, ou são decisões judiciais que aumentam as despesas ou, ainda, necessidade de aportes ao Postalis, o fundo de pensão dos seus funcionários.
Tudo isso não passa de descascamento da pintura de uma casa cujos alicerces vão afundando. A questão principal é a de que os Correios ficaram com o core business perdedor: o de entrega de cartas e telegramas, que ninguém mais manda depois que a internet foi inventada. Até mesmo o Sedex, um serviço de entrega de volumes, opera com problemas, como o de atrasos.
Se for para assumir participação no mercado de entregas de encomendas, os Correios terão de enfrentar empresas altamente competitivas, como a Amazon, a FedEx, a DHL, a Mercado Livre, a Magalu, a Loggi e outras.
Para isso, será necessário investir pesadamente em computação, instalações e logística. A Mercado Livre está despejando no Brasil R$ 34 bilhões, somente neste ano.
Além disso, a empresa teria de trocar o perfil do seu pessoal. Para entregar encomendas de maior volume, já não serviriam os quase 80 mil carteiros que saem distribuindo correspondências pelas ruas. Teria também de contratar motoristas de furgões ou motoboys.
Ou seja, não adianta o Tesouro injetar uns bilhõezinhos que em seguida vazariam buraco abaixo. Só para cobrir o patrimônio líquido negativo, seriam necessários quase R$ 9 bilhões. Se for para convocar o setor privado para recapitalizar a empresa, serão exigidos capitais equivalentes a construir mais que dez túneis Santos-Guarujá. Será preciso mudar tudo, será preciso refundar a empresa.
O governo Lula, que arrasta a cultura de tratar as empresas estatais como bezerros de ouro e cabide de emprego, está paralisado como rolinha hipnotizada pelos olhos da cascavel. Parece conformado com o diagnóstico de que este é um fenômeno global e não exclusivo do Brasil. Não consegue nem substituir seu atual presidente, demissionário desde julho, e não se dispõe a montar uma estratégia para salvar a empresa.
E a ADCAP mais uma vez se manifestou por meio da seguinte mensagem:
Carta ao Editor: A Oportunidade Perdida dos Correios*
Por Roberval Borges Corrêa
Presidente da Associação dos Profissionais dos Correios (ADCAP)
O artigo do jornalista Celso Ming, “Os Correios, de rombo em rombo”, acerta em um ponto fundamental: a derrocada dos Correios é uma estrutura em processo de sucateamento. No entanto, o diagnóstico de que o core business da empresa é o “perdedor” de cartas e telegramas, e que o serviço de encomendas (“Sedex”) opera com problemas, aponta para a consequência, não para a causa. O problema real dos Correios não é a competição do mercado, mas a inércia da gestão que se limitou ao proselitismo político e se recusou a implementar a modernização da empresa.
O e-commerce transformou o mercado de entregas em um dos setores mais dinâmicos e lucrativos da economia, e é aí que a verdadeira oportunidade se encontra. A tese de que os Correios ficaram com um negócio perdedor é um mito. O mercado de cartas está em declínio, sim, mas o de encomendas, o verdadeiro filé mignon do setor, está em plena expansão. Empresas como Amazon, FedEx e DHL, citadas pelo próprio Ming, não operam com modelos ideológicos ou obsoletos. Elas prosperam porque investem em tecnologia, estratégias de marketing e logística integrada para capitalizar sobre a demanda por entregas rápidas e eficientes.
A real questão, portanto, não é que os Correios não têm como competir, mas que, por anos, a empresa foi dirigida por gestores que não tinham a competência nem a coragem para fazer os investimentos e as reestruturações necessárias. O sucateamento dos Correios não foi causado pela internet, mas pela ausência de um plano estratégico para monetizar a maior infraestrutura logística do país no século XXI. O problema do Sedex não é a demanda, mas a falta de profissionalismo para garantir a eficiência das entregas e agilidade na informação.
A ADCAP continua a defender a urgência de uma gestão profissional, competente e corajosa. Que inspire os trabalhadores a se desenvolverem e entregarem o melhor dos seus esforços. A empresa não precisa ser privatizada para ser eficiente. Ela precisa, sim, de uma diretoria que entenda de logística para o e-commerce, que priorize a modernização, que invista em tecnologia para melhorar o rastreamento, a automação e a otimização de rotas. O potencial de lucratividade da empresa está na capilaridade de suas agências, na em seu conhecimento geográfico, e no fato de sua marca ter a confiança de milhões de brasileiros.
É fundamental ressaltar que os recentes investimentos dos concorrentes levarão anos para se equiparar ao patrimônio construído de modo centenário pelos Correios. Somente em patrimônio imobiliário, fundamental para a instalação dos Centros de Distribuição (CDs), os Correios possuem mais de R$ 40 bilhões, além de uma infraestrutura de transporte interligando todo esse ativo e de milhares de franqueados capacitados para um atendimento eficaz e vantajoso para o consumidor. Este é um diferencial competitivo inigualável, um ativo estratégico que, sob uma gestão profissional, seria a alavanca para a liderança do mercado de ecommerce.
A solução para o rombo dos Correios não é ideológica, mas pragmática. É preciso resgatar a empresa da inércia, e não entregá-la a quem busca apenas o lucro, ignorando sua função social. O caminho para a recuperação dos Correios passa por um plano de negócios arrojado, que capitalize seus ativos e posicione a empresa como a grande líder do e-commerce no Brasil.
Direção Nacional da ADCAP.