Postalis apoia concorrente da BM&FBovespa

Postalis financia concorrente da BM&F


Valor Econômico

03/09/2013

 

A Postalis, fundo de pensão dos funcionários dos Correios, vai financiar parte dos investimentos para a criação de uma câmara de compensação da bolsa de valores que pretende competir com a BM&FBovespa. A Postalis já é sócia no projeto da nova bolsa, a ser criada pela Americas Trading Group (ATG), formada por ex-sócios da Ágora Corretora.


O investimento do fundo de pensão será feito por meio de uma operação complexa, que envolve a emissão de debêntures no valor de R$ 72 milhões. Os recursos foram usados para capitalizar a empresa de consultoria Risk Office, que será sócia da ATG na “clearing”. As debêntures foram emitidas por uma empresa chamada RO Participações, que pertence a Arthur Pinheiro Machado, um dos sócios da ATG.

 

O Postalis, fundo de pensão dos funcionários dos Correios que possui um déficit de quase R$ 1 bilhão, vai financiar parte dos investimentos para a criação de uma câmara de compensação (clearing) de uma nova bolsa de valores que pretende competir com a BM&FBovespa. O mesmo Postalis já é sócia na plataforma de negociação que será criada pela Americas Trading Group (ATG), formada por ex-sócios da Ágora Corretora.

O investimento do fundo de pensão será realizado por meio de uma complexa operação, que envolve uma emissão de debêntures no valor de R$ 72 milhões. Os recursos foram usados para capitalizar a empresa de consultoria de gestão de riscos Risk Office, que será a sócia da ATG na clearing, cada uma com 50%. Um terceiro investidor negocia para se juntar ao grupo, segundo Gustavo Melo, diretor de operações da consultoria.


As debêntures que capitalizaram a Risk Office foram emitidas por uma empresa chamada RO Participações, que pertence a Arthur Pinheiro Machado, um dos sócios da ATG. As condições dos papéis chamam a atenção: contam com prazo de 15 anos, acima da média de mercado, com pagamento do principal apenas no vencimento, e remuneram a uma taxa equivalente à inflação medida pelo IPCA mais 6,5% ao ano.


Os recursos aplicados nas debêntures vieram de um fundo exclusivo do Postalis sob gestão da BNY Mellon. Como os papéis possuem carência de dois anos, os recursos só começam a entrar no caixa do fundo em 2015. A gestora assumiu a responsabilidade pela decisão dos investimentos. Mas não concorda com a avaliação de que as emissões saíram em condições fora dos padrões de mercado (leia abaixo).


Originalmente, as debêntures emitidas pela RO Participações tinham outra finalidade: financiar aquisições de duas empresas concorrentes em alguns segmentos de atuação da Risk Office, de acordo com relatório da LF Rating. A agência atribuiu classificação de risco “A-” para as debêntures, o que representa um risco baixo de inadimplência, pelos seus critérios. O plano de aquisições está mantido, mas a maior parte dos recursos será usada no projeto da clearing, segundo o diretor da Risk Office.


Pelas regras do Banco Central, o capital mínimo requerido para a constituição de uma câmara de compensação é de R$ 30 milhões. A expectativa é que a nova câmara de compensação esteja pronta no último trimestre de 2014, dentro do cronograma da entrada em operação da nova bolsa, diz Melo.


Do total de recursos captados com as debêntures, R$ 60 milhões foram investidos na Risk Office, e os outros R$ 12 milhões, ou 17% do total, ficaram na RO Participações para o pagamento de despesas da emissão de debêntures e “contratação de consultorias”.


Arthur Machado, sócio da ATG e dono da RO Participações, passou a deter 30% da Risk Office após a capitalização, que avaliou a consultoria em R$ 200 milhões. Antes do negócio, a empresa reunia um patrimônio líquido de pouco menos de R$ 10 milhões. No ano passado, a consultoria registrou faturamento de R$ 21,6 milhões e um prejuízo de R$ 1,2 milhão.


A informação de que a Risk Office se tornaria sócia da ATG no projeto de criação de uma clearing surgiu ontem. Questionado pelo Valor na semana passada sobre a emissão de debêntures da RO Participações, Machado negou que a operação tivesse alguma relação com o projeto da nova bolsa.


A clearing é a responsável pela liquidação dos negócios realizados em uma bolsa e assume o risco das operações caso uma das partes não honre o compromisso. Como a única empresa autorizada a fazer esse serviço no Brasil é a CBLC, da BM&FBovespa, a clearing sempre foi apontada como a principal barreira de entrada de concorrentes.


Além do investimento na Risk Office para a criação de uma câmara de compensação, o Postalis financiou pelo menos mais um investimento do sócio da ATG, este a princípio nada ligado ao mundo das bolsas de valores. A fundação aplicou R$ 62 milhões, também via fundo exclusivo sob gestão da BNY Mellon, em uma emissão de debêntures de uma empresa chamada Alubam
Participações.


Dos recursos captados, R$ 47,5 milhões vão para a aquisição de uma participação no grupo educacional Alub, de Brasília. Os demais R$ 15 milhões, ou 24% do total, serão usados para pagar “outros custos e despesas da companhia”. Assim como na RO, esses custos estariam relacionados à contratação de consultorias para auxiliar a Alub no processo de aquisições.


Questionado sobre os investimentos do Postalis em suas empresas, Machado afirma que a responsabilidade é do gestor do fundo que aplicou nas debêntures. “Nossa discussão sobre os ativos sempre foi com o BNY Mellon; qualquer coisa fora disso são insinuações destituídas de sentido”, diz.


Pelas regras do setor, fundos de pensão como o Postalis são proibidos de investir em debêntures de empresas de capital fechado. Mas tanto a oferta da RO como a da Alubam contaram com uma brecha na norma, que permite o investimento desde que as empresas sejam sociedades de propósito específico (SPE). A estrutura de SPE também livra o fundo de cumprir a exigência de concentração máxima de 25% em uma mesma série de títulos.


Procurado, o Postalis informou que “os títulos mobiliários em questão encontram-se enquadrados nas regras estabelecidas no regulamento do fundo”. Em nota, a corretora Socopa, que coordenou as ofertas, afirmou que “todas as operações sob sua responsabilidade decorreram em aderência às normas do sistema financeiro e da legislação brasileira”.

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